Colóquio no Patriarcado de Lisboa: a Igreja quer voltar á linha da frente da arte.
A Igreja Católica, que ao longo dos séculos liderou na criação e na inovação artística,
está a sofrer as consequências da ruptura provocada, no começo do século XX, por um
conceito de arte sem História, reivindicativa do seu próprio lugar, sem escolas e
sem compêndios. O diálogo com a arte contemporânea é difícil, mas a Igreja quer voltar
à linha da frente. Isso mesmo foi defendido num debate sobre os “encontros e
desencontros” entre as artes e o sagrado, que juntou, no Patriarcado de Lisboa, mais
de três dezenas de artistas e vários responsáveis da Diocese. D. José Policarpo,
Cardeal-Patriarca, precisou que este é um tema “de todos os tempos e actual” e lamentou
que a referida ruptura – procurada pelos artistas - tenha sido, de facto, “conseguida”.
“Esta ruptura é muito profunda e a nossa geração não a vai resolver”, alertou,
referindo que as comunidades cristãs “deixaram de ler espontaneamente” a arte. O
Patriarca de Lisboa pediu um diálogo mais profundo entre artistas e a Igreja, feito
directamente “com as comunidades”. Nesse sentido, destacou a importância de aproveitar
momentos como a construção de uma igreja para dialogar e evitar “rejeições”. D.
Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa e especialista em arte religiosa, frisou,
por seu lado, que “conciliar a modernidade artística com a Imagem cristã não é um
projecto insensato”. Novos caminhos O colóquio com os artistas ficou
marcada pelas preocupações manifestadas por pintores, escultores e arquitectos relativamente
à falta de formação e de compreensão manifestada por líderes das comunidades eclesiais
em relação à arte contemporânea. Nalguns casos, essa incompreensão chega a comprometer
o próprio património da Igreja, substituindo imagens antigas por outras sem valor
ou estragando um projecto arquitectónico com a colocação de estatuária completamente
inadequada. O Cardeal-Patriarca admitiu que se vive num tempo do “primado da sensibilidade
espontânea, que se exprime naquilo que é acessível”, pelo que a novidade irá gerar
resistência. A harmonização do projecto arquitectónico com o programa iconográfico
foi uma das preocupações manifestadas por D. José Policarpo, apelando sempre a uma
atitude dialogante e de serviço para com a comunidade. “O que provocou um triunfo,
na cultura contemporânea, de atitudes redutoras do humano, é a falta de contrapropostas
de beleza e de uma racionalidade global”, defendeu D. José Policarpo. D. Carlos
Azevedo admitiu a necessidade de “mais formação” dos sacerdotes e deixou no ar a ideia
de criar um “centro de estudos”, nesta área, na UCP. A “difícil relação” entre
Igreja e artistas passa, segundo os intervenientes neste colóquio, por um maior conhecimento
entre as partes, descodificando linguagens que são “inacessíveis”, valorizando as
experiências de sucesso já realizadas e procurando espaços de reflexão sistemática
– como já aconteceu, nos anos 50 e 60, com o Movimento de Renovação da Arte Religiosa. Ecclesia