NO TERCEIRO DIA DE SUA PEREGRINAÇÃO À POLÔNIA, BENTO XVI PEDE ORAÇÕES PELA PRÓXIMA
BEATIFICAÇÃO DE JPII
Cracóvia, 27 mai (RV) - Bento XVI dedicou o terceiro dia de sua visita apostólica
à Polônia, a seu ilustre predecessor, Karol Wojtyla. O Papa chegara, no fim da tarde
de ontem, a Cracóvia. Pernoitou na sede do Arcebispado e, esta manhã, após a celebração
da missa na capela do Arcebispado, deixou _ por volta das 9h30 locais _ a cidade que
foi sede do Cardeal Wojtyla e que hoje tem como titular o ex-secretário pessoal de
João Paulo II, o Cardeal Stanislaw Dziwisz, com destino à cidade natal de seu predecessor
_ Wadowice, 20 mil habitantes _ que se localiza a 59 km de Cracóvia.
Com o
mesmo calor com que recebeu o "seu" Papa, a cidade-natal de Karol Wojtyla acolheu
hoje seu sucessor. A Praça Rynek estava lotada, tal como ocorrera quando, na sua última
visita, em 1999, João Paulo II coroara, ali mesmo, a imagem de Nossa Senhora. E Bento
XVI respondeu com um gesto realmente inesperado: ergueu um quadro do Papa polonês
_ um gesto que inflamou o entusiasmo da multidão.
Ao chegar a Wadowice, o Papa
Ratzinger entrou imediatamente na Igreja da Imaculada Conceição, para rezar na fonte
batismal na qual o pequeno Karol foi batizado.
Saudaram o Papa o Cardeal-arcebispo
de Cracóvia, Stanislaw Dziwisz que, por 40 anos, foi secretário de Wojtyla, e a Prefeita
de Wadowice, Ewa Frilipiak, que saudou o ilustre hóspede, segundo a antiga tradição
polonesa, com o pão e o sal, entregando-lhe as chaves da cidade.
O Papa respondeu
ao gesto, dizendo: "Cheguei com grande emoção ao lugar de nascimento do meu grande
predecessor, o servo de Deus João Paulo II, à cidade da sua infância e da sua juventude.
Wadowice não podia faltar no itinerário da peregrinação que estou fazendo em terras
polonesas, nas suas pegadas. Quis me deter precisamente aqui, em Wadowice, nos lugares
em que despertou e amadureceu a sua fé, para rezar, juntamente convosco, para que
logo seja elevado à glória dos altares."
O Papa citou o pensamento do poeta
alemão, Johann Wolfgang von Goethe: "Quem quiser compreender um poeta, deveria ir
a seu torrão natal". "Assim _ prosseguiu Bento XVI _ vim à cidade natal de João Paulo
II para compreender sua vida e seu ministério, pois, como confessou João Paulo II,
foi em Wadowice que tudo começou: começou a vida, começou a escola, começou o teatro…
e o sacerdócio."
João Paulo II, voltando àqueles inícios, se referia muitas
vezes a um sinal: o sinal da fonte batismal, que ele circundava de veneração toda
especial na igreja de Wadowice: "Nesta fonte batismal _ dizia João Paulo II _ foi-me
concedida a graça de me tornar filho de Deus e de receber a fé no meu Redentor e fui
acolhido na comunidade da sua Igreja."
"Nessas palavras _ disse o Papa _ está
a chave para compreender a coerência de sua fé, o "radicalismo" da vida cristã e o
"desejo da santidade" de Karol Wojtyla."
"Tem-se aqui _ acrescentou _ a consciência
profunda da graça divina, do amor gratuito de Deus pelo homem, que mediante a purificação
da água e a efusão do Espírito Santo" nos introduz na multidão dos seus filhos redimidos
pelo Sangue de Cristo.
"O programa mais comum de uma vida autenticamente cristã
resume-se na fidelidade às promessas do Batismo. A palavra de ordem da minha peregrinação:
"Sede firmes na fé" encontra aqui sua dimensão concreta, que se poderia exprimir com
a exortação: "Permaneçam sólidos na observância das promessas batismais."
Por
fim, Bento XVI lembrou uma característica específica da fé e da espiritualidade de
João Paulo II, afirmando: "Ele mesmo lembrou, diversas vezes, o apego profundo dos
habitantes de Wadowice à imagem local de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e o hábito
da oração cotidiana diante dela dos alunos do ginásio de então."
"Aqui _ disse
o Papa _ chegamos às fontes da convicção que nutria João Paulo II: a convicção acerca
do lugar excepcional que Maria ocupa na história da salvação e na história da Igreja.
Daí brotava também, a convicção acerca do lugar excepcional que a Mãe de Deus tinha
em sua vida, uma convicção que se manifestava no "Totus tuus" repleto de dedicação.
Até os últimos instantes da sua peregrinação terrena - afirmou Bento XVI - ele permaneceu
fiel a esta entrega."
Diante da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
Bento XVI agradeceu, uma vez mais, a Deus, pelo pontificado de João Paulo II e pediu
a todos os poloneses que o acompanhassem com a mesma oração com que circundaram o
seu "grande compatriota".
Os jovens de Wadowice manifestaram sua alegria pela
visita do Papa, entoando o hino do Dia Mundial da Juventude.
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Prosseguindo
sua peregrinação pelos lugares do Papa Wojtyla, Bento XVI foi depois ao santuário
de Kalvaria Zebrzyowska, dedicado à Paixão de Jesus e a Nossa Senhora das Dores; foi
ali, que o pequeno Karol, que ficara órfão de mãe aos nove anos, foi confiado à Virgem.
O santuário é célebre por sua sugestiva Via-sacra, de 15 km, entre os bosques. É um
dos corações pulsantes da espiritualidade dos poloneses e meta de peregrinação do
jovem Wojtyla.
O Papa rezou alguns instantes na capela de Nossa Senhora. Dezenas
de milhares de pessoas foram ao santuário, para saudá-lo com cânticos e aplausos entusiastas.
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Nesse
ponto, fora do protocolo, o Cardeal Dziwisz exortou o Papa a apressar-se, para não
atrasar o compromisso sucessivo. Mas Bento XVI fez sinal de que queria falar. "Gostaria
de dizer que também eu, como o caro Cardeal-arcebispo Stanislaw, espero que a Providência
nos conceda logo a beatificação e a canonização do nosso caro Papa João Paulo II."
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Logo
a seguir, o Papa foi ao santuário de Lagiewniki, que João Paulo II quis dedicar ao
culto da Divina Misericórdia; o santuário foi fundado depois que Santa Faustina Kowalska
recebeu a revelação de Jesus misericordioso. Ali, Bento XVI teve um encontro tocante
com algumas centenas de doentes _ 800 aproximadamente.
"Gostaria tanto de abraçar
cada um de vocês, disse o Papa, mas como não é possível, estreito-os ao meu coração
em espírito... Nesta circunstância _ ressaltou _ estamos diante de dois mistérios:
o mistério do sofrimento humano e o mistério da Divina Misericórdia, mistérios que,
à primeira vista, parecem contrapostos, mas quando procuramos aprofundá-los à luz
da fé, vemos que eles se colocam em harmonia recíproca. E isso graças ao mistério
da Cruz de Cristo. Como disse aqui João Paulo II _ acrescentou Bento XVI _ a cruz
é como um toque do eterno amor sobre as feridas mais dolorosas da existência terrena
do homem."
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Também nesta nova etapa do programa de hoje,
o Papa Ratzinger foi aclamado com calor pela multidão: religiosas, famílias, anciãos,
grupos paroquiais e tantos jovens lhe deram as boas-vindas. O Papa pára a acariciar
e saudar uma jovem enferma sentada na primeira fila, na companhia da mãe.
O
abraço comovido de Bento XVI a Paulina, uma menina de 8 anos doente de leucemia, é
a imagem que permanecerá na memória de muitos, ao final desta manhã extraordinária
do Papa, nas pegadas de Karol Wojtyla.
Deixando o santuário, Bento XVI voltou
a Cracóvia, onde almoçou com a comitiva no Arcebispado. À tarde, o Papa fez uma breve
visita à Catedral de Wawel, onde foi acolhido pelo Cabido, rumando logo a seguir para
o Parque Blonie, para o encontro com os jovens, ocasião em que lhes entregou a "Chama
da misericórdia" e lhes confiou a missão de levarem a luz da fé ao mundo. (PL)