2006-05-26 18:48:25

BENTO XVI INICIA SUA VIAGEM À POLÔNIA NAS PEGADAS DE JOÃO PAULO II


Varsóvia, 25 mai (RV) - Desde as primeiras horas de sua visita à Polônia, Bento XVI se confrontou com sua identidade de alemão, percorrendo as ruas da capital, Varsóvia, praticamente arrasada pelos nazistas durante a II Guerra mundial.

Imediatamente após a cerimônia de boas-vindas, no aeroporto, Bento XVI percorreu, de papamóvel, uma espécie de via-sacra da capital polonesa, que teve metade de sua população massacrada por seus compatriotas, alemães, entre 1939 e 1944.

O papamóvel passou lentamente diante de vários monumentos erigidos em memória daqueles anos trágicos. Em particular, passou diante do monumento dedicado aos heróis da insurreição do gueto judaico, esmagado na primavera de 1943.

Nesse bairro, os ocupantes nazistas encerraram cerca de 450 mil judeus de Varsóvia e arredores, num espaço de apenas dois km quadrados. A maioria morreu de fome ou de doenças no gueto ou nas câmaras de gás do campo de concentração de Treblinka. Um punhado de sobreviventes se rebelou e morreu com armas nas mãos.

De modo igualmente simbólico, Bento XVI concluirá sua viagem, domingo próximo, visitando a "fábrica de morte" de Auschwitz-Birkenau, lugar central do genocídio dos judeus europeus, onde mais de um milhão deles foi assassinado. A Polônia é um país no qual o ressentimento para com os alemães é ainda muito forte. Cerca de 6 milhões de seus cidadãos _ judeus e não-judeus _ morreram durante a II Guerra Mundial.

No avião que o conduzia a Varsóvia, o Papa fez questão de ressaltar que ele iria visitar a Polônia, antes de tudo como católico, e não tanto como alemão.

"Ele vem, sobretudo, como Papa, pois sua responsabilidade é essa, e não como um representante do povo alemão" _ ressaltou, por sua vez, o sacerdote católico alemão, Pe. Manfred Deselaers, no Centro de Diálogo e de Oração, de Auschwitz. "Mas naturalmente, tem um significado o fato de ele ser alemão" _ acrescentou.

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No seu primeiro discurso, por ocasião da cerimônia de boas-vindas, no aeroporto de Varsóvia, Bento XVI destacou que sua viagem apostólica à Polônia quer ser um momento de diálogo com a Igreja, com os cristãos e fiéis de outras religiões, bem como com a sociedade civil.

O Papa dirigiu-se à Igreja Ortodoxa, Evangélica e às outras comunidades eclesiais, para além da comunidade judaica e islâmica.

Seu primeiro pensamento foi para as vítimas do nazismo: "Irei a Auschwitz e ali espero encontrar, sobretudo, os sobreviventes do terror nazista, provenientes de várias nações, que sofreram a trágica opressão" _ disse. "Rezaremos todos juntos, para que as pragas do século passado se curem com a medicação do bom Deus, que nos chama ao perdão recíproco e nos oferece o mistério da sua misericórdia" _ acrescentou.

O calor com que o Papa foi recebido na Polônia demonstrou que os poloneses sabem discernir bem, sem confundir a pessoa do Papa católico com as responsabilidades históricas dos nazistas.

Uma multidão em festa saudava o Papa, gritando ritmicamente, seu nome, ao longo dos 11 quilômetros que o papamóvel percorreu, do aeroporto ao centro da cidade.

O primeiro compromisso do Papa em Varsóvia, foi na Catedral de São João, teatro de inúmeros eventos ligados à história do povo e da Igreja na Polônia. A Catedral foi o lugar do encontro do Papa com o clero polonês.

Também aqui, padres, cônegos, monsenhores, bispos e cardeais se deixaram contagiar igualmente pelo entusiasmo, ritmando o nome do Papa e batendo palmas.

Na Catedral, todos acolheram o Papa com entusiasmo e aplausos, interrompendo-o mesmo durante o discurso que Bento XVI pronunciou em polonês (as primeiras e as últimas linhas) e em italiano (ou demais parágrafos) enquanto um sacerdote traduzia.

No seu discurso ao clero polonês, Bento XVI retomou o "mea culpa" de João Paulo II no Jubileu de 2000 para "pedir perdão pelo mal cometido, mas também agradecer o bem que foi feito".

O Papa condenou o nazismo e enumerou alguns dos pecados cometidos pelos
cristãos, ao longo dos séculos, destacando que é preciso sinceridade para assumir os erros, pois não se pode ignorar os diferentes momentos históricos.

"Convém não julgar com arrogância as gerações anteriores, que viveram em outros tempos e em outras circunstâncias. É necessária uma humildade sincera para não negar os pecados do passado e não cair em acusações fáceis, à revelia de provas reais ou ignorando as diferentes circunstâncias da época" _ disse Bento XVI, destacando que Cristo veio para salvar os pecadores.

Referindo-se mais especificamente a esta sua viagem, o Papa disse ter confiança que "estes dias venham a reavivar a fé que temos em comum".

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No segundo discurso em terras polonesas, depois da cerimônia de boas-vindas no aeroporto, o Papa falou da história do país e de seu povo, uma "história dolorosa", em tempos recentes.

"Recordemos, com reconhecimento e gratidão, os que não se deixaram dominar pelas forças das trevas, aprendendo deles, a coragem da coerência e da constância na adesão ao Evangelho de Cristo" _ disse, lembrando "as heróicas testemunhas da fé que ofereceram suas vidas a Deus e aos homens, santos canonizados e também homens comuns".

No início desse discurso, o Papa saudou o Cardeal-arcebispo de Varsóvia, Jósef Glemp, a quem felicitou por seu 50º aniversário de ordenação sacerdotal, precisamente hoje. O Cardeal Glemp, Primaz da Polônia, pediu ao Papa sua bênção para o país, que enfrenta o desafio das mudanças sociopolíticas derivadas de seu ingresso na União Européia.

"Sede firmes na fé… Também a vós, padres, bispos e cardeais, confio este lema da minha peregrinação. Sede autênticos, na vossa vida e no vosso ministério. Servi a todos; sede acessíveis nas paróquias e nos confessionários, acompanhai os novos movimentos e associações, amparai as famílias, não descuideis a relação com os jovens, lembrai-vos dos pobres e dos abandonados" _ disse o Santo Padre.

Visivelmente emocionado, mas também muito satisfeito, como testemunhava seu sorriso aberto, Bento XVI se comprazia com o entusiasmo, mas quis ressaltar o valor do silêncio.

"Apraz-me lembrar _ sublinhou o Papa _ a experiência vivida no ano passado em Colônia. Fui testemunha então de um silêncio profundo e inesquecível, de um milhão de jovens, no momento da adoração do Santíssimo Sacramento. Aquele silêncio orante nos uniu… Num mundo em que há tanto barulho, no qual as pessoas se sentem perdidas, é necessária a adoração silenciosa de Jesus, escondido na hóstia. Sede assíduos na oração de adoração e ensinai-a aos fiéis. Nela encontrarão conforto e luz, principalmente as pessoas provadas."

Bento XVI lembrou que os fiéis esperam do sacerdote somente uma coisa, isto é, que sejam especialistas em promover o encontro do homem com Deus. Não se pede ao padre que seja entendido em economia, em construção ou em política, mas sim que seja especialista na vida espiritual.

O Papa falou também dos desafios atuais da Igreja na Polônia: a chaga do desemprego, a emigração e a necessidade de dar assistência pastoral aos que deixam o país. Dirigiu sua atenção também aos muitos missionários poloneses pelo mundo afora, e exortou os sacerdotes a não terem medo de "deixar um mundo seguro e conhecido", para ir servir nos lugares carentes de sacerdotes.

Antes de sair da Catedral, o Papa se deteve em oração diante dos túmulos do Cardeal Stefan Wyszynski (então Primaz da Polônia, falecido em 1981) e do Cardeal August Hlond (1881-1948).

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Da Catedral, Bento XVI se transferiu ao Palácio Arcebispal, onde almoçou com a comitiva que o acompanha nesta viagem. Após o almoço, Bento XVI se dirigiu à Nunciatura Apostólica de Varsóvia. Na parte da tarde, ele foi ao Palácio Presidencial de Varsóvia, para uma visita de cortesia ao Presidente Lech Kaczynski, e ao Primeiro-ministro, Kazimierz Marcinkiewicz. A visita durou aproximadamente uma hora. (PL)








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