BENTO XVI INICIA SUA VIAGEM À POLÔNIA NAS PEGADAS DE JOÃO PAULO II
Varsóvia, 25 mai (RV) - Desde as primeiras horas de sua visita à Polônia, Bento
XVI se confrontou com sua identidade de alemão, percorrendo as ruas da capital, Varsóvia,
praticamente arrasada pelos nazistas durante a II Guerra mundial.
Imediatamente
após a cerimônia de boas-vindas, no aeroporto, Bento XVI percorreu, de papamóvel,
uma espécie de via-sacra da capital polonesa, que teve metade de sua população massacrada
por seus compatriotas, alemães, entre 1939 e 1944.
O papamóvel passou lentamente
diante de vários monumentos erigidos em memória daqueles anos trágicos. Em particular,
passou diante do monumento dedicado aos heróis da insurreição do gueto judaico, esmagado
na primavera de 1943.
Nesse bairro, os ocupantes nazistas encerraram cerca
de 450 mil judeus de Varsóvia e arredores, num espaço de apenas dois km quadrados.
A maioria morreu de fome ou de doenças no gueto ou nas câmaras de gás do campo de
concentração de Treblinka. Um punhado de sobreviventes se rebelou e morreu com armas
nas mãos.
De modo igualmente simbólico, Bento XVI concluirá sua viagem, domingo
próximo, visitando a "fábrica de morte" de Auschwitz-Birkenau, lugar central do genocídio
dos judeus europeus, onde mais de um milhão deles foi assassinado. A Polônia é um
país no qual o ressentimento para com os alemães é ainda muito forte. Cerca de 6 milhões
de seus cidadãos _ judeus e não-judeus _ morreram durante a II Guerra Mundial.
No
avião que o conduzia a Varsóvia, o Papa fez questão de ressaltar que ele iria visitar
a Polônia, antes de tudo como católico, e não tanto como alemão.
"Ele vem,
sobretudo, como Papa, pois sua responsabilidade é essa, e não como um representante
do povo alemão" _ ressaltou, por sua vez, o sacerdote católico alemão, Pe. Manfred
Deselaers, no Centro de Diálogo e de Oração, de Auschwitz. "Mas naturalmente, tem
um significado o fato de ele ser alemão" _ acrescentou.
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No
seu primeiro discurso, por ocasião da cerimônia de boas-vindas, no aeroporto de Varsóvia,
Bento XVI destacou que sua viagem apostólica à Polônia quer ser um momento de diálogo
com a Igreja, com os cristãos e fiéis de outras religiões, bem como com a sociedade
civil.
O Papa dirigiu-se à Igreja Ortodoxa, Evangélica e às outras comunidades
eclesiais, para além da comunidade judaica e islâmica.
Seu primeiro pensamento
foi para as vítimas do nazismo: "Irei a Auschwitz e ali espero encontrar, sobretudo,
os sobreviventes do terror nazista, provenientes de várias nações, que sofreram a
trágica opressão" _ disse. "Rezaremos todos juntos, para que as pragas do século passado
se curem com a medicação do bom Deus, que nos chama ao perdão recíproco e nos oferece
o mistério da sua misericórdia" _ acrescentou.
O calor com que o Papa foi recebido
na Polônia demonstrou que os poloneses sabem discernir bem, sem confundir a pessoa
do Papa católico com as responsabilidades históricas dos nazistas.
Uma multidão
em festa saudava o Papa, gritando ritmicamente, seu nome, ao longo dos 11 quilômetros
que o papamóvel percorreu, do aeroporto ao centro da cidade.
O primeiro compromisso
do Papa em Varsóvia, foi na Catedral de São João, teatro de inúmeros eventos ligados
à história do povo e da Igreja na Polônia. A Catedral foi o lugar do encontro do Papa
com o clero polonês.
Também aqui, padres, cônegos, monsenhores, bispos e cardeais
se deixaram contagiar igualmente pelo entusiasmo, ritmando o nome do Papa e batendo
palmas.
Na Catedral, todos acolheram o Papa com entusiasmo e aplausos, interrompendo-o
mesmo durante o discurso que Bento XVI pronunciou em polonês (as primeiras e as últimas
linhas) e em italiano (ou demais parágrafos) enquanto um sacerdote traduzia.
No
seu discurso ao clero polonês, Bento XVI retomou o "mea culpa" de João Paulo II no
Jubileu de 2000 para "pedir perdão pelo mal cometido, mas também agradecer o bem que
foi feito".
O Papa condenou o nazismo e enumerou alguns dos pecados cometidos
pelos cristãos, ao longo dos séculos, destacando que é preciso sinceridade para
assumir os erros, pois não se pode ignorar os diferentes momentos históricos.
"Convém
não julgar com arrogância as gerações anteriores, que viveram em outros tempos e em
outras circunstâncias. É necessária uma humildade sincera para não negar os pecados
do passado e não cair em acusações fáceis, à revelia de provas reais ou ignorando
as diferentes circunstâncias da época" _ disse Bento XVI, destacando que Cristo veio
para salvar os pecadores.
Referindo-se mais especificamente a esta sua viagem,
o Papa disse ter confiança que "estes dias venham a reavivar a fé que temos em comum".
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No
segundo discurso em terras polonesas, depois da cerimônia de boas-vindas no aeroporto,
o Papa falou da história do país e de seu povo, uma "história dolorosa", em tempos
recentes.
"Recordemos, com reconhecimento e gratidão, os que não se deixaram
dominar pelas forças das trevas, aprendendo deles, a coragem da coerência e da constância
na adesão ao Evangelho de Cristo" _ disse, lembrando "as heróicas testemunhas da fé
que ofereceram suas vidas a Deus e aos homens, santos canonizados e também homens
comuns".
No início desse discurso, o Papa saudou o Cardeal-arcebispo de Varsóvia,
Jósef Glemp, a quem felicitou por seu 50º aniversário de ordenação sacerdotal, precisamente
hoje. O Cardeal Glemp, Primaz da Polônia, pediu ao Papa sua bênção para o país, que
enfrenta o desafio das mudanças sociopolíticas derivadas de seu ingresso na União
Européia.
"Sede firmes na fé… Também a vós, padres, bispos e cardeais, confio
este lema da minha peregrinação. Sede autênticos, na vossa vida e no vosso ministério.
Servi a todos; sede acessíveis nas paróquias e nos confessionários, acompanhai os
novos movimentos e associações, amparai as famílias, não descuideis a relação com
os jovens, lembrai-vos dos pobres e dos abandonados" _ disse o Santo Padre.
Visivelmente
emocionado, mas também muito satisfeito, como testemunhava seu sorriso aberto, Bento
XVI se comprazia com o entusiasmo, mas quis ressaltar o valor do silêncio.
"Apraz-me
lembrar _ sublinhou o Papa _ a experiência vivida no ano passado em Colônia. Fui testemunha
então de um silêncio profundo e inesquecível, de um milhão de jovens, no momento da
adoração do Santíssimo Sacramento. Aquele silêncio orante nos uniu… Num mundo em que
há tanto barulho, no qual as pessoas se sentem perdidas, é necessária a adoração silenciosa
de Jesus, escondido na hóstia. Sede assíduos na oração de adoração e ensinai-a aos
fiéis. Nela encontrarão conforto e luz, principalmente as pessoas provadas."
Bento
XVI lembrou que os fiéis esperam do sacerdote somente uma coisa, isto é, que sejam
especialistas em promover o encontro do homem com Deus. Não se pede ao padre que seja
entendido em economia, em construção ou em política, mas sim que seja especialista
na vida espiritual.
O Papa falou também dos desafios atuais da Igreja na Polônia:
a chaga do desemprego, a emigração e a necessidade de dar assistência pastoral aos
que deixam o país. Dirigiu sua atenção também aos muitos missionários poloneses pelo
mundo afora, e exortou os sacerdotes a não terem medo de "deixar um mundo seguro e
conhecido", para ir servir nos lugares carentes de sacerdotes.
Antes de sair
da Catedral, o Papa se deteve em oração diante dos túmulos do Cardeal Stefan Wyszynski
(então Primaz da Polônia, falecido em 1981) e do Cardeal August Hlond (1881-1948).
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Da
Catedral, Bento XVI se transferiu ao Palácio Arcebispal, onde almoçou com a comitiva
que o acompanha nesta viagem. Após o almoço, Bento XVI se dirigiu à Nunciatura Apostólica
de Varsóvia. Na parte da tarde, ele foi ao Palácio Presidencial de Varsóvia, para
uma visita de cortesia ao Presidente Lech Kaczynski, e ao Primeiro-ministro, Kazimierz
Marcinkiewicz. A visita durou aproximadamente uma hora. (PL)