A Irmã Rita Amada de Deus será beatificada Domingo 28 de Maio, em Viseu. Em entrevista
á Rádio Vaticano o cardeal legado do Santo Padre para a beatificação D.José Saraiva
Martins salienta a actualidade da sua mensagem:atenção ás crianças, á vida, especialmente
se insidiada pela miséria e pelo abandono.
Domingo dia 28 de Maio na Sé de Viseu, em Portugal será proclamada beata a Serva
de Deus, Irmã Rita Amada de Jesus, em celebração presidida pelo cardea legado do Santo
Padre, D. José Saraiva Martins, que a este propósito concedeu á Rádio Vaticano uma
entrevista. 1. Eminência, quer deixar-nos o perfil biográfico da nova Beata,
que aliás é sua conterrânea. De facto, é do meu país e da minha região, pois
nasceu na paróquia da Ribafeita, diocese de Viseu, Portugal, a 5 de Março de 1848.
Cresceu numa família profundamente religiosa. Na idade de 32 anos, em 1880, deu os
primeiros passos para a fundação do seu Instituto religioso de “Jesus Maria José”,
com a finalidade de dar instrução e formação às meninas e meninos pobres e abandonados.
Depressa a sua obra se espalhou pelas dioceses de Viseu, Lamego e Guarda, contando
à sua morte, em 1913 em Ribafeita, com 3 colégios em Portugal e uma nova floração
que estava para desabrochar no Brasil, onde as Filhas da Madre Rita tiveram de refugiar-se,
por causa da revolução liberal que eclodira em Portugal entre os séculos XIX e XX
e que levaria à supressão dos institutos religiosos. 2. Em que contexto viveu
e operou e quais os traços característicos da sua santidade? A Beata Madre
Rita nasceu em 1848, num momento socialmente e religiosamente marcado por fortes lacerações
entre o poder civil e a Igreja, que então retomava com maior profundidade as linhas
do seu anúncio profético. O ponto característico da sua santidade foi a atenção materna
e caridosa para com as crianças pobres e abandonadas, pelas quais deu heroicamente
a vida. Deu literalmente a vida por elas, e não há maior amor do que dar a vida pelos
seus irmãos. Há que considerar também que, no princípio do século XX, a Igreja em
Portugal, por vicissitudes políticas e a consequente supressão das Ordens Religiosas,
escreveu altíssimas páginas de martírio, tendo mesmo de encaminhar-se para o deserto
do êxodo, como aconteceu às Filhas Espirituais da Madre Rita, precisamente em 1913,
quando esta voltava à Casa do Pai na sua terra natal de Ribafeita. 3. Quer ilustrar-nos
um episódio singular da sua vida? Há tantos, no encanto da sua simplicidade
campesina. Citarei ao de leve apenas dois. O primeiro, quando em 1881, estando a Beata
Madre Rita a iniciar sem recursos humanos a sua Obra, foi pôr-se à porta da Sé de
Viseu e ali, sentada nos degraus, esperou que o povo saísse da Missa para pedir esmola
para as suas crianças. O segundo é a frequente queixa do seu piedoso pai de ver a
sua casa cheia de mulheres, necessitadas de abrigo, vítimas de problemas sociais e
desarranjos familiares. A casa paterna tornara-se num centro de acolhimento. A Madre
Rita costumava dizer-lhe: “Pai, é ainda por pouco tempo”, mas a situação arrastar-se-ia
por vários anos. 4. Qual o carisma do Instituto fundado por Rita Amada de Jesus? Depois
das destruições materiais e morais da segunda guerra mundial, o Servo de Deus Pio
XII repetidas vezes gritou nas suas mensagens: “Salvemos as crianças, que são o
futuro da sociedade”. Mais de 70 anos antes, num análogo clima de revoltas e destruições,
a Beata Rita colocou as crianças pobres e abandonadas no centro da sua atenção. As
suas Filhas Espirituais receberam e desenvolveram este compromisso, sublinhando, por
sua vez, a solidez e a simplicidade das instituições pedagógicas da Madre Rita e o
seu concreto contributo para a alfabetização do povo em Portugal e no Brasil. Ainda
hoje, ela é mãe amorosa de milhares de crianças espalhadas na Europa, na África e
na América Latina. 5. A mensagem da Beata para o homem de hoje. A Madre
Rita morreu em 1913, quatro anos antes de Nossa Senhora inundar Portugal com a sua
luz, aparecendo em 1917 aos pastorinhos, quando a guerra enfurecia nas diversas frentes.
Nossa Senhora entregava aos pastorinhos a coroa do Santo Rosário. Pois bem, a Madre
Rita, ainda antes dessa celeste entrega, foi uma fervorosa apóstola do terço, numa
singular contemporaneidade com o que acontecia na Itália, em Pompeia, onde o Beato
Bártolo Longo construía o santuário de Nossa Senhora do Rosário e as anexas obras
de misericórdia em favor das crianças pobres e abandonadas. A segunda mensagem
da Madre Rita é precisamente esta: atenção às crianças, à vida, especialmente se insidiada
pela miséria e pelo abandono moral. Mensagem mais actual não podia deixar-nos a Madre
Rita, uma vez que as crónicas de todos os dias nos repropõem a amargura de crianças