“O único acesso legítimo ao ministério de pastor é a cruz, é essa a verdadeira subida.
É esta a porta”: Bento XVI, neste domingo de manhã, aos quinze diáconos da diocese
de Roma por ele ordenados presbíteros, na basílica de São Pedro.
O Papa observou que a imagem do mercenário que não passa pela “porta das ovelhas”,
mas entra no redil saltando por cima da sebe, faz pensar no carreirismo de quem tenta
chegar “ao alto”, tentando arranjar para si uma colocação, servindo-se em vez de servir.
“Imagem de quem, mediante o sacerdócio, quer tornar-se importante, um personagem:
aquele que tem em vista a sua exaltação, e não o humilde serviço de Jesus Cristo”
Nas
palavras pronunciadas ao meio-dia, da janela dos seus aposentos, sobre a Praça de
São Pedro, antes do canto da antífona mariana do tempo pascal, “Regina Coeli”, Bento
XVI recordou o tema do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, deste ano: “A vocação
no mistério da Igreja”, observando que a vocação cristã é sempre ligada a uma profunda
amizade com Jesus Cristo”, amizade de que vive a própria Igreja: “A vocação cristã
è sempre o renovar-se desta amizade pessoal com Jesus Cristo, que dá pleno sentido
à própria existência e a torna disponível para o Reino de Deus. A Igreja vive dessa
amizade, alimentada pela Palavra e pelos Sacramentos, realidades santas confiadas
de modo particular ao ministério dos Bispos, dos Presbíteros e dos Diáconos, consagrados
pelo sacramento da Ordem. É por isso que é insubstituível a missão do sacerdote”.
Mas voltemos à Missa de ordenações presbiterais, neste domingo de manhã,
na basílica de São Pedro. Na sua homilia, comentando o Evangelho do dia, em que Jesus
se apresenta como o bom pastor, que dá a sua vida pelas ovelhas, o Santo Padre comentou
as três coisas que o Senhor nos diz nesta passagem: “- Ele dá a própria vida pelas
ovelhas; - conhece-as e elas conhecem-no; - está ao serviço da unidade”.
Antes
de mais, a afirmação fundamental de que o pastor dá a vida pelas suas ovelhas: “O
mistério da Cruz está no centro do serviço de Jesus como pastor. É o verdadeiro grande
serviço que ele presta a todos nós. Ele dá-se a si mesmo. É por isso que no centro
da vida sacerdotal está a Eucarisita, na qual o sacrifício de Jesus na cruz permanece
continuamente presente a real entre nós.” “Celebrar a Eucaristia de modo adequado
significa encontrar o Senhor que por nós se despoja da sua glória divina, se deixa
humilhar até à morte de Cruz e assim se dá a todos nós”. “Para um sacerdote –
sublinhou o Papa – é muito importante a Eucaristia quotidiana”, em que se coloca sempre
de novo nas mãos experimentando ao mesmo tempo a alegria de saber que Ele está presente,
me acolhe, sempre de novo me eleva, me leva consigo, me dá a mão, Ele próprio”. “A
Eucaristia deve tornar-se para nós uma escola de vida em que aprendemos a dar a nossa
vida. A vida não se dá só no momento da morte e não apenas a modo de martírio. Devemos
dá-la dia a dia. Há que aprender em cada dia que não possuo a minha vida para mim
mesmo. Tenho que aprender, dia a dia, a abandonar a mim próprio, a manter-me à disposição
daquilo para que o Senhor precise de mim… Dar a vida, não tomá-la. É precisamente
assim que fazemos a experiência da liberdade”.
Referindo o segundo aspecto
sublinhado pelo Evangelho do Bom pastor – que este conhece as ovelhas e que as ovelhas
o conhecem e que este conhecimento recíproco corresponde ao conhecimento que Jesus
tem de Deus Pai e vice versa – Bento XVI insistiu na necessidade deste “relação” muito
pessoal e íntima com Cristo e – através d’Ele – com o Pai, até porque (observou) “só
a partir de Deus se compreende a profundidade do homem. Não existe um autêntico conhecer
sem amor, sem uma relação interior, sem uma profunda aceitação do outro. O pastor
não se pode contentar com saber nomes e datas. O seu conhecer as ovelhas deve ser
também sempre um “conhecer com o coração”, com o coração de Jesus, de Cristo. Um conhecer
que não liga o homem a mim mas o guia para Jesus tornando-o assim livre e aberto.
Finalmente,
o serviço da unidade, confiado ao pastor. O Evangelho do bom pastor que dá a vida
pela unidade do rebanho “revela a relação entre Cruz e unidade: é a Cruz o preço da
unidade. Para além disso, emerge aqui “o horizonte universal do agir de Jesus”: “a
missão de Jesus diz respeito a toda a humanidade”. É por isso que “a Igreja de Cristo
não se pode retirar comodamente para os limites do seu próprio ambiente. Tem o encargo
da solicitude universal, deve preocupar-se com todos”. A ovelha perdida que o
bom pastor procura até a encontrar e que coloca aos seus ombros, para a conduzir até
casa, é toda a humanidade… e cada um de nós, nos nossos desertos e nas nossas confusões…