Hong Kong, 03 mai (RV) - O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Bispo de Hong Kong,
pede o rompimento do diálogo entre a Santa Sé e Pequim, em vista da normalização
das relações diplomáticas, como resposta à nomeação de dois novos bispos, por parte
das autoridades chinesas, sem autorização da Igreja em Roma.
Em declarações
ao jornal "South China Morning Post", o Cardeal Zen Ze-kiun disse que "o diálogo não
pode continuar, porque vão achar que a Igreja está disposta a se render". No seu parecer,
a Santa Sé deveria manifestar "uma forte reação" nos próximos dias, "para sublinhar
a seriedade da questão".
O Cardeal-bispo de Hong Kong é o mais ativo defensor
da Santa Sé na China. Ele considerou a sagração de Pe. Ma Yinglin como Bispo de Kunming,
no domingo, e de Pe. Liu Xinhong para a Diocese de Anhui, prevista para os próximos
dias, como um ato "contra o diálogo espiritual" entre Roma e Pequim.
O Cardeal
acusou o vice-presidente da Associação Católica Patriótica (a Igreja Católica oficialmente
considerada na China), Liu Bainian, de orquestrar a batalha, para ganhar posições
antes da definitiva normalização das relações e, assim, boicotar o processo de restabelecimento
dos contatos bilaterais.
"É uma opinião pessoal, não quero comentar" _ respondeu
Liu. Ele disse que as nomeações se justificam porque "das 97 dioceses da China, 44
não têm um bispo". "É necessário divulgar a Palavra de Deus. Não podemos esperar até
que melhorem as relações entre a China e a Santa Sé" _ argumentou.
A Associação
Católica Patriótica foi criada após a ruptura das relações diplomáticas entre Pequim
e a Santa Sé, em 1951, sob o regime comunista. Os católicos oficialmente considerados
são cerca de cinco milhões. Mas os católicos na China são também uma realidade submersa:
de fato, a Igreja Católica chamada "clandestina", cujos fiéis e clero são perseguidos
pelas autoridades governamentais, soma mais de oito milhões de adeptos.
Há
meses, a Igreja em Roma e Pequim mantêm intensos contatos, no intuito de normalizar
a situação. O governo chinês impõe duas condições: que a Santa Sé rompa suas relações
diplomáticas com Taiwan (que Pequim considera uma "província rebelde" e não uma Nação
soberana) e que "não interfira" em seus assuntos internos, entre os quais contempla
a nomeação de bispos e o funcionamento das dioceses. (SP)