2006-04-14 18:17:59

A actualidade da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, na homilia da Celebração da Paixão do Senhor, presidida na Sé de Lisboa pelo Cardeal Patriarca D. José Policarpo


Nesta Sexta-Feira Santa, em que todos os cristãos se reúnem, em silêncio recolhido, para meditar na Paixão do Senhor e adorar a Sua Cruz, uma pergunta inquieta o nosso coração: que sentido tem, hoje, a Cruz de Cristo? Ele voltaria a morrer pelo nosso mundo? Quantos, ao contemplarem a Cruz, têm consciência da actualidade do sacrifício de Cristo e da sua importância salvífica para os homens de todos os tempos?
Foi com estas palavras que D. José Policarpo iniciou a homilia da Celebração da Paixão do Senhor na Sé Patriarcal de Lisboa salientando em seguida que nesta solene Liturgia, a Cruz ocupa o lugar mais nobre e verdadeiro que lhe pode ser reservado: a adoração. Mas para muitos, ela é ornamento, peça de museu, sinal religioso sem lugar numa sociedade marcada pelo laicismo. Há um ano, o Papa João Paulo II, a viver corajosamente o sacrifício da própria vida, deixou-nos uma imagem indelével, grito silencioso da actualidade da Cruz, que aperta contra o seu coração, pondo nela toda a esperança da sua vitória sobre o sofrimento, oferecido, como o de Cristo, pela salvação do nosso mundo. Naquele gesto com que abraça a Cruz do Senhor o Papa resume todo o seu incansável ministério, ao serviço da Igreja e da humanidade. É do coração dos crentes que abraçam a Cruz do Senhor, que brota a mais forte afirmação da actualidade da Cruz. O seu significado profundo está no facto de ela se poder tornar, para cada um de nós, uma experiência decisiva em que se decide o sentido da nossa vida.
O Patriarca de Lisboa recordou depois que algumas passagens da narração de São João, afirmam a actualidade do drama do Calvário. Jesus foi executado em conjunto com outros dois condenados: “Ali O crucificaram e com Ele mais dois: um de cada lado e Jesus no meio” (Jo. 19,18). Segundo a narração de São Lucas, estes dois eram malfeitores, cumprindo o que tinha sido anunciado pelo Profeta Isaías: “Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios e um túmulo no meio de malfeitores” (Is. 53,9). Este facto faz ressaltar o sacrifício do Justo inocente, que sublinha a fecundidade misteriosa da Sua vida, oferecida para redenção dos pecadores. A reacção daqueles dois malfeitores condenados, exprime o drama de todos os tempos. Perante a morte de Cristo, o que é irremediavelmente grave não é o pecado praticado, mas a impenitênca e a revolta perante o sofrimento. Um representa a multidão daqueles e daquelas que são capazes de partir do seu pecado para um caminho novo de conversão e de esperança. “Jesus lembra-te de mim quando estiveres no Teu Reino”; e a resposta não se fez esperar: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc. 23,42). O outro representa todos os pecadores endurecidos no mal, revoltados com o sofrimento, incapazes da humildade da esperança: “Se és o Messias, salva-Te a Ti mesmo e a nós” (Lc. 23,29).
Perante os males do mundo contemporâneo, injustiças, violências, mentira e ganância, o que é dramática é a incapacidade de pessoas e grupos reconhecerem as suas acções erradas, aceitarem a hipótese de mudar e encetar corajosamente o caminho da conversão.
E o sofrimento não oferecido, que provoca revolta e desespero, e não encontra sentido na humildade e na generosa coragem de o oferecer? O Padre Teillard de Chardin escrevia no fim da sua vida, impressionado pela dimensão dramática da nossa civilização: se esta mole imensa de sofrimento humano fosse oferecida, o mundo daria um salto para a frente, em direcção ao ponto Ómega, que é a libertação. Só Deus conhece a força redentora do sofrimento oferecido, em união aos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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