Milhões de pessoas ameaçadas por minas terrestres: um quinto dos atingidos são crianças
As minas antipessoal e outros artefactos por explodir continuam a ameaçar as vidas
de milhões de pessoas em 84 países. A advertência do Fundo das Nações Unidas para
a Infância (Unicef) foi feita ontem, numa mensagem divulgada por ocasião do primeiro
Dia Internacional da Luta contra as Minas. Segundo o Relatório de Acompanhamento
das Minas Terrestres de 2005, todos os anos, as minas terrestres e as munições abandonadas
matam ou ferem 15 mil a 20 mil pessoas, um quinto das quais são crianças. Apesar dos
números elevados verificou-se uma redução em relação às 26 mil vítimas anuais que
se registavam no final da década de 90. A Unicef adianta que a quase totalidade das
crianças vítimas das minas – 85 por cento – morre antes de receber assistência médica.
Por outro lado, os que sobrevivem mas ficam incapacitados deixam de poder ir à escola
porque, em geral, perdem um ou os dois membros inferiores. Segundo a agência, este
drama podia ser evitado em grande medida através de uma aceleração dos trabalhos de
levantamento de minas, que podiam fazer-se “em anos, em vez de décadas” e “salvar
milhões de crianças da morte ou de ferimentos devastadores”. “As guerras não acabam
verdadeiramente enquanto as crianças não puderem brincar em segurança e ir à escola
sem medo das minas e de outros tipos de restos explosivos”, afirmou, num comunicado,
a directora da agência, Ann Veneman.
A organização sustenta que milhares de
minas antipessoal estão enterradas “em praticamente todas as regiões do mundo”, com
especial destaque para países como a Colômbia, Iraque, Afeganistão, Nepal, Sri Lanka
e Bósnia-Herzegovina, além da república russa da Tchetchénia. As situações mais dramáticas
registam-se, no entanto, no Camboja, onde se podem encontrar minas enterradas em quase
metade das localidades, e no Laos, onde um quarto das áreas povoadas está na mesma
situação. Angola e Moçambique – duas nações africanas de língua oficial portuguesa
envolvidas em conflitos civis durante décadas – são igualmente países muito castigados
com este problema. Em 1999, entrou em vigor a Convenção sobre a Proibição do Uso,
Armazenamento, Produção e Transporte de Minas Pessoais (Tratado de Otava) que, desde
Novembro de 2002, já tem 146 assinaturas e 130 ratificações.
A Unicef relança,
por isso, o apelo à comunidade internacional para que trabalhe em conjunto numa solução
para este drama, nomeadamente através de contribuições para os programas de luta contra
as minas, este ano no valor de 243 milhões de euros, para a ONU, e 18,8 milhões adicionais
para a Unicef.