Afeganistão cede no caso do cidadão convertido ao cristianismo: apelo do Papa baseado
em "profunda compaixão humana".
O Supremo Tribunal afegão decidiu ontem suspender o processo do muçulmano convertido
ao cristianismo, que arriscava uma pena de morte por isso. Após o apelo do Papa Bento
XVI ao presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, surge agora a hipótese do arguido
ser libertado por alegada “incapacidade mental”.
Segundo o porta-voz do Supremo
Tribunal afegão, Wakil Omari, terão sido os familiares de Abdul Rahman, o acusado,
a dizerem que “ele não tem todas as capacidades mentais”, que “é louco” e diz “ouvir
vozes estranhas na cabeça”. De acordo com o mesmo responsável, o processo será remetido
para o procurador-geral do Afeganistão para “uma investigação mais aprofundada”.
A
Santa Sé divulgou este Domingo algumas passagens da carta que o Cardeal Angelo Sodano,
Secretário de Estado do Vaticano, enviou em nome do Papa a Hamid Kazai. Na missiva,
com data de 22 de Março, afirma-se que o apelo de Bento XVI em favor de Rahman é baseado
numa “profunda compaixão humana”, na “firme convicção na dignidade da vida humana”
e no “respeito pelo direito à liberdade de consciência e religião de cada pessoa”.
“Estou
certo que deixar cair o caso contra Abdul Rahman traria uma grande honra ao povo afegão
e levantaria um coro de admiração na comunidade internacional. Seria, por isso, um
grande contributo para a nossa missão comum de fomentar o entendimento e o respeito
entre as diferentes religiões e culturas do mundo”, refere a carta.
Abdul Rahman,
41 anos, foi detido há três semanas em Cabul porque, quando trabalhava no Paquistão,
há 16 anos, abandonou o Islão e converteu-se ao cristianismo, um acto que é passível
de pena de morte, segundo a ‘sharia’ (lei islâmica), que vigora no Afeganistão.
Durante
o julgamento, Rahman admitiu ter-se convertido, enquanto trabalhava como ajudante
médico com um grupo cristão que ajudava refugiados afegãos. O procurador, Abdul Wasi,
afirmou ter oferecido retirar a acusação caso Rahman voltasse a converter-se ao Islão,
mas ele recusou, sujeitando-se assim à pena de morte. O juiz do tribunal também descreveu
a acção de Abdul Rahman como “um ataque contra o Islão”.