Igreja atenta á situação dos portugueses no Canadá
A Igreja Católica está atenta à situação das famílias portuguesas em situação ilegal
no Canadá, que podem receber ordens de repatriamento no âmbito do maior rigor da política
de imigração canadiana.
O Pe. Rui Pedro, director da Obra Católica Portuguesa
de Migrações (OCPM), lembra que a Igreja sempre foi contrária a deportações em massa
e pede que haja sensibilidade para tratar desta situação “caso a caso”, dado que estamos
na presença de irregulares de longa duração que eram “tolerados” pela sociedade e
tinham expectativas de legalização.
"Apesar de estarmos na presença de uma
decisão administrativa, há valores a defender. A Igreja tem o dever de alertar para
o lado humano destas questões, ajudando o legislador e o executor a ultrapassar a
perspectiva meramente legal", aponta.
Este responsável lamenta que Portugal
só se lembre dos seus emigrantes em alturas como esta e salienta que “a história da
emigração portuguesa sempre esteve marcada pela irregularidade”. Ainda hoje, mesmo
no espaço comunitário, muitos portugueses sofrem com essa irregularidade no mundo
do trabalho.
Vários milhares de portugueses (os números avançados apontam para
15 mil) trabalham sem documentos no Canadá, em especial no sector da construção. A
maior parte dos emigrantes ilegais está concentrada em Toronto.
O novo Governo
federal (do Partido Conservador) não aposta na resolução da imigração ilegal, como
confirmou numa entrevista ao actual ministro da tutela, Monte Solberg, ao afirmar
que esta "não é uma prioridade".
Entretanto, as autoridades dos Açores estão
a preparar-se para um grande fluxo destes portugueses. A secretária Regional das Comunidades,
Alzira Silva, fala de situações que podem ser dramáticas para as famílias.
O
Ministério dos Negócios Estrangeiros fez já saber, em comunicado de imprensa, que
o Governo português “tem acompanhado com toda a atenção e preocupação a situação dos
cidadãos portugueses cuja presença no Canadá se encontra irregular face à respectiva
Lei de Imigração”.
O Pe. Rui Pedro levanta a questão de saber quem irá “indemnizar”
os portugueses que, tendo efectuado descontos no Canadá, venham a ser efectivamente
expulsos. “As pessoas e bens devem ser sempre defendidos, mesmo numa situação de trânsito”,
observa.
O director da OCPM espera ainda que uma eventual deportação não seja
seguida de interdição de voltar ao Canadá, lembrando que estas pessoas têm naquele
país “família, amigos, laços sociais e também as suas poupanças, nalguns casos”.
A
Igreja, assegura, irá assumir a sua missão de “criar pontes”, procurando “dar apoio
às famílias que ficam e acolher as pessoas que regressam ao nosso país”.
“Nós
não fazemos distinção entre regulares e irregulares, a Igreja é um espaço onde não
se olha a esta situação”, prossegue.
Acolher e ser acolhidos
A
irregularidade é uma dimensão que tem acompanhado os movimentos migratórios e que
afecta, como tal, os nossos emigrantes.
O acordo de contratação recíproca entre
o Brasil e Portugal, em 2003, nasceu desta dinâmica de reconhecimento de situações
de irregularidade nos dois países. “É sabido que temos portugueses irregulares nos
EUA, no Brasil, em Angola e no Canadá, para além de muitas situações de irregularidade
no trabalho pela Europa fora”, refere o Pe. Rui Pedro.
O director da OCPM pede
que, a partir desta consciência, as pessoas sejam capazes de entender a irregularidade
como “um último recurso perante os obstáculos burocráticos”, mais do que como um “delito”.
O
drama dos portugueses no Canadá deverá permitir, segundo este responsável, “ver com
outros olhos a situação de ucranianos e brasileiros no nosso país”. “Aqui há pessoas,
há direitos e há negociações a fazer”, indica. ecclesia