2006-03-23 12:27:32

Bispos apontam para a auto-sustentabilidade da Igreja em Angola e São Tomé


Caríssimos diocesanos, irmãos e irmãs: A paz esteja convosco!



“Honra o Senhor com os teus haveres e com as primícias das tuas colheitas; desse modo os teus celeiros ficarão cheios de trigo e os teus lagares transbordarão de vinho novo (Prov 3,9-10)”.



1. Quisemos começar a nossa Mensagem Pastoral sobre a Auto-sustentabilidade da Igreja em Angola e São Tomé com uma passagem bíblica que contém ao mesmo tempo um preceito e uma promessa de Deus. O preceito de honrar a Deus oferecendo-Lhe as primícias das colheitas e a correspondente promessa duma abundante recompensa divina. Fazemos isto porque é à luz da Palavra de Deus que entendemos propor à vossa consideração o tema, ou melhor dito, o problema da nossa auto-sustentabilidade. Se, de facto, todos nós somos a Igreja, todos somos responsáveis, embora em graus diferentes, da sua vitalidade espiritual e material. Por isso, este mesmo tema foi objecto de reflexão dos Bispos das Conferências Episcopais da África Austral durante a VII Assembleia Plenária da IMBISA, em Outubro 2004, e foi tomado o seguinte compromisso: Como Bispos da região da IMBISA, comprometemo-nos a promover urgentemente comunidades auto-sustentáveis nas nossas Igrejas (Mensagem Final de 14.10.2004)



2. Uma Igreja modelo. Lê-se nos Actos dos Apóstolos que os primeiros cristãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações E todos os que acreditavam viviam unidos e tinham tudo em comum. Mais adiante: A multidão dos que tinham acreditado tinham um só coração e uma só alma entre eles tudo era em comum e não havia nenhum necessitado (Act 2,42-44; 4,32-34). Irmãos, se no início, isto é, logo depois de Pentecostes, a Igreja que o Espírito Santo tinha congregado aparece naquela imagem que nos deixou o evangelista São Lucas, testemunha ocular e de absoluta confiança, quer dizer que a essa imagem se deve conformar a Igreja de todos os tempos e cada comunidade cristã.

Daquela imagem de Igreja, podemos realçar alguns aspectos fundamentais. É uma comunidade nascida da fé em Cristo, regida e ensinada pelos Apóstolos. Nela todos são assíduos à oração comum e à Eucaristia, que é o centro unificador da Comunidade. Por isso, nela reina a união fraterna, vivem todos unidos e repartem entre si todos os seus bens. A descrição da vida comunitária da Igreja primitiva é admirável e muito nos impressiona. Pode-se, pois, perguntar a que era devida semelhante realidade, em que todos os crentes viviam unidos e tinham tudo em comum. Não era certamente o fruto de uma organização mais ou menos imposta de cima e pensada com o fim de cimentar a coesão dos fiéis recém convertidos; era, pelo contrário, a expressão de algo mais profundo, do ter um só coração e uma só alma. Aqueles cristãos acreditando em Cristo e no Evangelho inspiravam-se no mandamento novo do amor e, por isso, viviam unidos e tinham tudo em comum. O ter tudo em comum era, portanto, o fruto mais evidente do ter um só coração, manifestando-se concretamente no repartir dos bens de modo que não havia entre eles nenhum necessitado. Como é sabido, os bens deste mundo foram e são destinados por vontade de Deus à satisfação das necessidades de todos os homens sem excepção nem exclusão. Daí, a obrigação da lei moral natural da sua justa e equitativa distribuição e da sua partilha para que ninguém seja excluído desta mesa comum. Essa obrigação moral, dizem os Actos, era posta em prática pelos cristãos da Comunidade de Jerusalém de modo livre e espontâneo, mas sendo animada pelo espírito do Evangelho recebido do ensino dos Apóstolos. O repartir dos bens era, por conseguinte, atitude cristã inspirada na Palavra do Senhor, no mandamento novo do mútuo amor fraterno. Jesus tinha dito que a felicidade está mais em dar do que em receber (Act 20,35) e os primeiros cristãos acharam que o modo melhor para o cumprir era repartir os bens (cfr Paulo VI, Mensagem da Quaresma 1978). Irmãos, se foi evocada a vida da Igreja primitiva no seu começo, significa que temos aí um modelo, um exemplo que se deve imitar, não à letra porque a letra mata (cfr 2Cor 3,6) mas no seu significado espiritual que é permanente. De facto, trata-se também para nós de acolher o apelo que nos vem da Palavra de Deus, a fim de edificarmos a nossa Igreja como comunidade de fé e de amor, unida, fraterna e solidária. Afinal, uma Igreja como FAMÍLIA DE DEUS, segundo a feliz expressão do Sínodo para África. Expressão essa que acentua a atenção pelo outro, a solidariedade e a partilha de recursos entre as comunidades (cfr EIA 63). É neste espírito cristão de solidariedade e partilha, que se inscreve o contributo dos fiéis para a manutenção das obras e obreiros da Igreja, como está ordenado no seu quinto mandamento.



3. A Igreja precisa de bens materiais Na mesma Exortação Pós-sinodal é retomado o assunto quando se fala das Estruturas da Evangelização de que precisa a Igreja, Família de Deus, nas Dioceses. Estas estruturas são bem conhecidas, tais como: paróquias, seminários, escolas, centros de catequese, de pastoral juvenil, saúde, assistência social, etc.

As referidas estruturas,faz notar o Papa requerem, além de pessoal qualificado, meios materiais e financeiros notáveis e, não raro, as Dioceses estão bem longe de poder dispor deles em medida suficiente. É, portanto, urgente que as Igrejas particulares de África se proponham o objectivo de chegar a prover elas mesmas às suas necessidades, assegurando desse modo a sua auto-suficiência (EIA 104). Se nos fosse perguntado por que motivo trazemos, nesta nossa Mensagem Pastoral, o tema da auto-sustentabilidade da igreja, responderíamos: é preciso fazer o que está ao nosso alcance para que a auto-suficiência da Igreja de Angola e São Tomé se torne uma realidade. De facto, também nós, nas nossas Dioceses e paróquias, não dispomos de meios financeiros suficientes para poder manter as obras e o pessoal que nelas trabalha. E se tais obras até hoje foram mantidas, foi devido a ajudas vindas do exterior. Tais ajudas, porém, não vão continuar indefinidamente porque, aliás, os próprios doadores nos pedem que trabalhemos para tornar auto-suficientes as nossas Dioceses e comunidades. Por isso, até o Santo Padre nos disse que é urgente alcançar esse objectivo e que nele nos devemos empenhar (cfr EIA 104).



4. O empenhamento para a auto-sustentabilidade O modelo da Igreja, quer dos Actos dos Apóstolos quer da Igreja-Família do Sínodo para África, realça com muita clareza que, na Igreja, todos os seus membros devem assumir o seu papel activo e participativo nos diversos sectores da vida da Comunidade. Um sector vital como vimos é o da participação dos fiéis a fim de assegurar o auto-sustento da igreja. Falamos de participação porque o dever de edificar uma Igreja que seja auto-sustentável pede a contribuição de todos os cristãos conscientes da sua responsabilidade. Numa Igreja-Família, cada um recebe e dá, numa partilha de bens espirituais e materiais: “A Igreja enquanto Família de Deus deve ser, hoje como ontem, um espaço de ajuda recíproca” (Bento XVI, Deus é Amor, 32). No entanto, para os fieis se lembrarem de cumprir o seu dever, temos o Quinto Preceito da Igreja que reza assim: Contribuir para as despesas do culto e para a sustentação do clero, segundo os legítimos usos e costumes e as determinações da Igreja. O preceito aponta aos fiéis a obrigação de, conforme as suas possibilidades, prover às necessidades da Igreja de forma que ela possa dispor do necessário para o culto divino, para as obras apostólicas e de caridade e para a honesta sustentação dos seus ministros (Catecismo da I. Católica 2043). Para que haja conformidade na observância do preceito em todas as nossas dioceses e paróquias, a CEAST exarou as seguintes normas: Em cumprimento do cânon 1262, estabelece-se que o auxílio dos fiéis para as necessidades da Igreja seja especialmente feito com as colectas dos domingos e festas de preceito, e com os emolumentos determinados (Directório Pastoral 529,1). Todos os cristãos e catecúmenos têm obrigação de prestar a sua contribuição para a evangelização, o que será individual e a começar para cada um aos 14 anos (ib 530). Trata-se da chamada CÔNGRUA ou contributo da fé.

Os cristãos e catecúmenos pagarão uma contribuição anual correspondente a um dia de trabalho para os adultos e, para os restantes, consoante às suas possibilidades. Tal contribuição poderá ser entregue em dinheiro ou em géneros, segundo o preço corrente na região (ib 531). Deixa-se às Dioceses a regulamentação desta contribuição. Pela fiel observância destas normas da parte dos nossos cristãos sem excepção, teremos dado um passo à frente no caminho do auto-sustento da nossa Igreja. No entanto, além dessa contribuição que nunca deverá faltar, é oportuno que haja iniciativas particulares nas dioceses como nas paróquias, envolvendo nelas, além do pessoal missionário, os leigos empenhados na vida das comunidades, sobretudo se preparados em assuntos que dizem respeito a finanças e economia. Procure-se que haja recursos materiais como fazendas, terrenos, imóveis, fundos bancários, etc. que, se forem bem geridos, poderão tornar-se fontes de receitas para a manutenção das obras diocesanas e paroquiais. No entanto, será preciso que pessoal do Clero como do Laicado assuma e administre com diligência e a devida competência esses recursos e elaborem planos concretos que visem a melhoria da situação financeira das comunidades. Irmãos, segundo a passagem bíblica citada no começo desta Mensagem é a Deus que honramos quando cumprimos o dever de partilha dos nossos bens a favor da Comunidade. Para o Apóstolo Paulo é um verdadeiro serviço de fé, de caridade e como que um acto de culto de louvor e de acção de graças a Deus. Por isso, assim exorta os seus fiéis e a nós também: «Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois DEUS AMA A QUEM DÁ COM ALEGRIA. E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género» (2Cor 9,7-9).



Enfim, queridos irmãos, enquanto vos encorajamos a um empenhamento ainda maior no nosso projecto comum de alcançarmos a auto-suficiência da Igreja, imploramos sobre todos vós a bênção de Maria Santíssima, Nossa Padroeira.



Deus abençoe Angola e São Tomé e nos conserve a paz!



Os Bispos Católicos de Angola e São Tomé Responsab: Secretariado de Pastoral da CEAST







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