“O apóstolo é um enviado, mas, antes ainda, é um perito, um especialista
de Jesus”. Os Apóstolos não são chamados a ser “anunciadores de uma ideia, mas sim
testemunhas de uma pessoa”. Palavras que o Papa dirigiu aos trinta e cinco mil peregrinos
concentrados nesta quarta-feira na Praça de São Pedro para a audiência geral.
O Papa prosseguiu a nova série de catequeses, iniciada há oito dias, sobre “o mistério
da relação entre Cristo e a Igreja, a partir da experiência dos Apóstolos, à luz da
tarefa que lhes foi confiada”. Reflectindo sobre o que os Evangelhos referem da
vocação dos Apóstolos, Bento XVI sublinhou a dimensão pessoal dessa chamada e a importância
da relação íntima - de conhecimento e presença recíproca – que se estabelece entre
quem é chamado e o próprio Jesus. Dos relatos de Marcos, Mateus e Lucas (nota
o Papa), sobressai o caminho de fé dos primeiros discípulos: o convite a seguir Jesus
vem depois de estes terem escutado a sua pregação e de terem experimentado os primeiros
sinais prodigiosos por Ele realizados. No Evangelho de João, o contexto da vocação
dos Apóstolos é diferente. Estes apresentam-se como homens que esperam o Reino de
Deus, desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda se anunciava como iminente. “Vinde
e vede” – responde Jesus aos primeiros futuros apóstolos que lhe perguntavam onde
morava: “A aventura dos Apóstolos começa assim como um encontro de pessoas que
se abrem reciprocamente. Começa para os discípulos um conhecimento directo do Mestre.
Estes, na verdade, não devem ser anunciadores de uma ideia, mas sim testemunhas de
uma pessoa. Antes de serem mandatos a evangelizar, deverão estar com Jesus, estabelecendo
com ele uma relação pessoal. Daqui, a evangelização mais não será que anúncio do que
se experimentou e um convite a entrar no mistério da comunhão com Jesus, aproximar-se
para ver onde mora, para o conhecer, ver, e assim perceber que Ele é o Messias” Na
parte final, Bento XVI abordou ainda a questão: "a quem são enviados os Apóstolos?"
Reconhecendo que “no Evangelho, Jesus parece restringir unicamente a Israel a sua
missão”, dando azo a que certa crítica moderna de inspiração racionalista entenda
algumas expressões como denotando falta de consciência universalista, Bento XVI observou
que tais expressões devem ser compreendidas à luz da relação com Israel, comunidade
da Aliança: “Jesus é o pastor escatológico que reúne as ovelhas perdidas da casa de
Israel e vai à sua procura, porque as conhece e as ama. Através desta recolha, se
anuncia a todas as gentes o Reino de Deus”. “Longe de contradizer a abertura universalista
da acção messiânica do Nazareno, o inicial restringir a Israel da sua missão e da
dos Doze, torna-se assim o seu sinal profético mais eficaz. Após a paixão e ressurreição
de Cristo, tornar-se-á explícito o carácter universal da missão dos Apóstolos. Cristo
enviará os Apóstolos “por todo o mundo” (Mc 16,15) e “a todas as nações” (Mt 28,19;
Lc 24,47), “até aos últimos confins da terra” (Ac 1,8). No final da sua catequese,
Bento XVI lançou um apelo para o Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala a 24
de Março. “Esta é uma ocasião – disse o Papa – para solicitar um renovado compromisso
a nível global, a fim de serem tornados disponíveis os recursos necessários para curar
estes irmãos doentes”.
Bento XVI lembrou que os tuberculosos “vivem muitas
vezes em situações de grande pobreza. Encorajo as iniciativas de assistência e solidariedade,
desejando que lhes sejam sempre asseguradas dignas condições de vida”.