D. Jorge Ortiga recusa resignação á tirania do desemprego e pede que a inteligencia
seja colocada ao serviço da criação de postos de trabalho
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa recusou a resignação perante o desemprego,
apontando o uso da inteligência como o factor decisivo para ultrapassar a falta de
postos de trabalho.
«Será o fenómeno do desemprego uma catástrofe inevitável?
Não acredito que nos tenhamos que resignar à sua tirania. Na articulação de sinergias
e num exercício que envolve a trilogia trabalho, capital e inteligência encontraremos
os caminhos novos e corrigiremos a panaceia dos antigos. Lamentar - se não conduz
a nada», afirmou D. Jorge Ortiga.
O Arcebispo de Braga falava na abertura
das Semanas Sociais Portuguesas, que decorrem até este domingo dia 12 de Março no
Seminário Menor, subordinadas ao tema “Uma sociedade criadora de emprego”. O prelado
sublinhou a «gravidade da situação», mas recusou uma atitude passiva perante «índices
de falta de trabalho que começam a ser alarmantes».
D. Jorge Ortiga referiu
que o binómio trabalho e capital, que sempre foi sublinhado pela Doutrina Social da
Igreja, supõe um terceiro elemento: a inteligência. «O trabalho como tarefa cansativa
e o capital seu suporte estão a desafiar permanentemente a inteligência. Esta parece
que está sempre subjacente ao realismo do trabalho e ao poderio do capital», explicou.
O Arcebispo de Braga considerou, porém, que «importa conceder-lhe maior atenção para
que cada um desenvolva os seus talentos e intervenha na obra criadora ou re-criadora
da natureza para bem de todos».
«A inteligência levará a trabalhar com outra
consistência e, por muito que custe, reconhece que importa produzir – sem a obsessão
de transformar as pessoas em máquinas – em quantidade e qualidade para enfrentar o
jogo inevitável da concorrência. O capital submetendo - se ao exercício da inteligência
ultrapassa os limites do interesse pessoal e entra nos circuitos duma solidariedade
efectiva, capaz de proporcionar dignidade de vida a todos», afirmou.
Em seu
entender, a inteligência gera a inovação e faz com que a actividade laboral surja
como um «exercício que dignifica e plenifica».
«Este exercício da inteligência
permitirá formas novas de co-responsabilidade, que o Governo deveria estimular e nunca
impedir, para um desenvolvimento progressivo, sem teias exageradamente burocráticas
e com orientações concretas, que permitam uma verdadeira justiça social, onde todo
e qualquer cidadão se sente imprescindível num contributo original – talvez a exigir
suor e sacrifício –, que dará mais felicidade a todos», declarou.
D. Jorge
Ortiga argumentou que «não há soluções individuais», uma vez que «só com a articulação
entre todos os sectores profissionais, com todos os intervenientes » se conseguirá
«encontrar a luz suficiente para ir caminhando na cautela de quem reconhece que o
caminho se vai fazendo».
«Certa é, apenas, a exigência da unidade, envolvendo
todos e destruindo qualquer tipo de egoísmo ou desejo de soluções particulares. A
globalização é vantagem se gera a unidade e comunhão; se só alguns conseguem usufruir
dos seus benefícios é uma ilusão e para a grande maioria uma miséria crescente», declarou.