VISITA "AD LIMINA" DOS BISPOS DA BÓSNIA-HERZEGÓVINA, A DEZ ANOS DOS ACORDOS DE DAYTON
Cidade do Vaticano, 23 fev (RV) - A partir desta manhã, os bispos da Bósnia-Herzegóvina
estão cumprindo sua qüinqüenal visita "ad Limina". O Cardeal-arcebispo de Sarajevo,
Vinko Puljic, com seu Auxiliar, Dom Pero Sudar, e os Bispos de Banja Luka, Dom Franjo
Komarica, e de Mostar-Duvano, Dom Ratko Peric, abriram, esta manhã, a série de audiências
programadas até o dia 28 do corrente.
A visita ao Vaticano realiza-se num momento
simbólico para o país balcânico: dez anos depois dos "Acordos de Dayton" que colocaram
fim aos trágicos anos do conflito na ex-Iugoslávia.
"Conheço a longa provação
que vocês viveram, o sofrimento que acompanha a sua vida cotidiana, a tentação de
se render ao desânimo. Sejam, vocês mesmos, os primeiros construtores de seu futuro
(…) A retomada é possível": essa foi a exortação deixada por João Paulo II, à Bósnia-Herzegóvina,
no dia 22 de junho de 2003, durante sua 101ª peregrinação apostólica internacional,
como herança de sua constante atenção às atormentadas vicissitudes dos Bálcãs.
Os
eventos que, no início dos anos 90, dilaceraram a Iugoslávia de Tito, permanecem impressos
na memória das populações locais.
Antes da guerra, croatas, servos e muçulmanos
se encontravam distribuídos uniformemente no território. A operação de limpeza étnica
deixou um saldo de 300 mil mortos e quase dois milhões de refugiados. No final do
ano 2000 retornaram cerca de 20 mil refugiados, enquanto 18 mil pessoas permaneciam
na lista dos desaparecidos.
No dia 21 de novembro de 1995, os "Acordos de Dayton"
estabeleceram a integridade e a soberania da Bósnia-Herzegóvina, embora dividida em
duas entidades, cada uma dotada de um próprio parlamento e governo: a Federação da
Bósnia-Herzegóvina, croata-muçulmana, com 51% do território, e a República Sérvia,
com 49% por cento.
A Federação é governada por um presidente e um vice-presidente,
alternadamente croata e muçulmano; o poder legislativo cabe ao parlamento, composto
por uma Câmara dos Representantes, com 140 membros, e por uma Câmara Popular, com
74 membros.
A Igreja também sofreu duramente a guerra civil. Somente em Sarajevo,
os católicos passaram de meio milhão para 125 mil e, em toda a Bósnia-Herzegóvina,
o boletim dos anos de violência foi dramático: nove sacerdotes e uma religiosa assassinados,
99 igrejas destruídas e 127 danificadas, sem contar com as dezenas de ataques a mosteiros
e estruturas diocesanas. Avalia-se que 450 mil católicos foram obrigados a abandonar
suas casas.
Entre os significativos momentos de reconstrução, não somente moral,
mas também cultural, da capital bósnia, destacamos a reabertura, com um "ato acadêmico",
do Instituto Teológico do Seminário franciscano, em Nedjarici, uma das zonas mais
devastadas pela guerra.
Dez anos após o cessar das hostilidades, os bispos
da Bósnia-Herzegóvina não têm dúvidas: "Dayton interrompeu a guerra, mas não conduziu
à paz" _ afirmaram, nesta quarta-feira, em Roma, durante um encontro com os correspondentes
internacionais, organizado no âmbito da celebração dos dez anos dos acordos de paz
para a ex-Iugoslávia. (RL)