Lisboa, 15 fev (RV) - Especialistas em Direito Penal e Constitucional da Universidade
Católica de Lisboa defenderam, nesta terça-feira, que a liberdade de expressão abarca
o direito à blasfêmia. O debate foi sobre a perspectiva jurídica da polêmica em torno
das caricaturas de Maomé.
Os professores Rui Medeiros, Jorge Pereira da Silva,
Pedro Garcia Marques e Gonçalo Matias promoveram, nesta terça-feira, um debate com
jornalistas, com o objetivo de enquadrar juridicamente a polêmica sobre as caricaturas.
Baseando-se na jurisprudência, o penalista Pedro Garcia Marques considerou
que a liberdade de expressão deve ser defendida, independentemente do conteúdo da
mensagem ou da reputação de quem a difunde.
Por outro lado, tratando-se de
caricaturas, é preciso levar em consideração que a linguagem que lhes é própria, é,
necessariamente, satírica e _ defendeu o constitucionalista Jorge Pereira da Silva
_ implica a liberdade de criação cultural, que goza de uma amplitude ainda maior.
Frisando sempre que a avaliação dos limites à liberdade de expressão é relativa
e varia de país a país, Pereira da Silva e Rui Medeiros, também constitucionalista,
consideraram que a liberdade de expressão é fundamental, enquanto princípio estrutural
da democracia, mas não é ilimitada.
Os limites à liberdade de expressão devem
sempre ser definidos, para a proteção de outros direitos importantes e constitucionalmente
garantidos _ direito à identidade, ao bom nome, à vida privada, entre outros _ mas
a avaliação do respeito a tais limites _ afirmaram os juristas _ deve ser sempre ponderada
caso a caso e "contida", para não abrir caminho à censura. "Neste caso, os limites
dificilmente terão sido violados" _ considerou Rui Medeiros.
Os especialistas
sublinharam ainda, a necessidade de a liberdade de expressão dispor daquilo a que
os norte-americanos chamam "breathing space", ou espaço para respirar, o que significa
que ela não pode ser exercida "num clima de pressão que leve à autocensura". (MZ)