O respeito da vida depende do modo como o homem se coloca perante a realidade: patrão
ou administrador. Esta a advertência do Papa neste domingo.
A cultura da vida fundamenta-se na atenção aos outros, sem exclusões nem discriminações:
sublinhou Bento XVI neste domingo ao meio-dia, antes do Angelus, na Praça de São Pedro. Celebrando
a Igreja italiana, neste domingo, a Jornada pela vida, este ano sob o lema “Respeitar
a vida”, o Papa recordou a “atenção constante” que “o amado Papa João Paulo II” sempre
reservou a estas problemáticas. “Inserindo os aspectos morais num amplo quadro espiritual
e cultural”, o Papa Woytjla reafirmou incansavelmente que a vida humana é um valor
primário a reconhecer, e que o Evangelho convida sempre a respeitar. À luz da
sua recente Encíclica sobre o amor cristão, Bento XVI sublinhou “a importância do
serviço da caridade para no apoio e promoção da vida humana”. “Ainda antes das iniciativas
práticas, é fundamental promover uma justa atitude em relação ao outro: a cultura
da vida baseia-se na atenção aos outros, sem exclusões ou discriminações. Cada vida
humana, enquanto tal, merece e exige ser sempre defendida e promovida.” “Esta
verdade corre muitas vezes o risco de ser contrastada pelo hedonismo generalizado
nas chamadas sociedades do bem-estar: exalta-se a vida porque é aprazível, mas tende-se
a não a respeitar já quando é doente ou mal-formada. Partindo, porém, de um amor profundo
por cada pessoa, é possível concretizar formas eficazes de serviço à vida: à vida
nascente como também à vida marcada pela marginalidade ou pelo sofrimento, especialmente
na sua fase terminal”.
Neste domingo de manhã, o Papa celebrou a Missa dominical
com a comunidade paroquial de Sant’Ana, na cidade do Vaticano. Na homilia, Bento XVI
comentou as leituras do dia, improvisando em grande parte a sua intervenção. Referindo-se,
a certa altura, à Jornada pela vida e ao tema deste ano “Respeitar a vida”, Bento
XVI recordou que “o homem não é padrão da vida; mas antes defensor e administrador”. “Esta
verdade, que constitui um ponto qualificante da lei natural, plenamente iluminado
pela revelação bíblica, apresenta-se hoje como ‘sinal de contradição’ relativamente
à mentalidade dominante. Exprimindo-nos em termos simplificados, poderíamos dizer:
uma considera que a vida humana está nas mãos do homem; a outra reconhece que ela
está nas mãos de Deus." “O pleno respeito pela vida está ligado ao sentido religioso,
à atitude interior com que o homem se coloca perante a realidade – como patrão ou
como administrador. Aliás, a palavra ‘respeito’ deriva do verbo latino ‘respicere’/olhar,
e indica um modo de olhar as coisas e as pessoas que leva a reconhecer a sua consistência,
a não apropriar-se delas, mas a tomá-las respeitosamente em consideração, ocupando-se
delas, cuidando delas. Em última análise, se se tira às criaturas a sua referência
a Deus, como fundamento transcendente, elas correm o risco de ficarem abandonadas
ao arbítrio do homem, que pode delas fazer um uso insensato”.