Os líderes cristãos de Jerusalém enviaram uma mensagem conjunta ao Hamas, fazendo
votos de que o futuro da Palestina seja de paz. O texto escolhido, simbolicamente,
foi a passagem evangélica das Bem-aventuranças, que louvam os “construtores da paz”.
Os
Patriarcas e chefes das Igrejas Cristãs manifestam o seu total “respeito e apoio”
relativamente à escolha eleitoral do povo palestiniano, pedindo que “nesta nova fase
da nossa história, a nossa mensagem é de fé e de atenção por todos”.
A mensagem
admite que muitos “podem estar preocupados ou temerosos”, mas assegura que “ninguém
deve ter medo”. “Rezamos pelos que nos governarão neste momento difícil, assegurando-lhes
a nossa colaboração pelo bem comum, de modo a responder às aspirações nacionais dos
palestinianos em conjunto com a causa da justiça e da paz”, acrescenta o texto.
Esse
objectivos, frisam os líderes cristãos, devem ser concretizados de modo “não-violento”,
através “do respeito da lei e da liberdade religiosa”.
A vitória do Hamas foi
recebida com bastante apreensão pelas comunidades cristãs na Terra Santa, que são
cada vez menos numerosas. Em 1922 havia mais cristãos do que muçulmanos em Jerusalém,
mas agora, com a vitória do Movimento de Resistência Islâmica, teme-se que o Cristianismo
desapareça dos locais onde nasceu.
A própria Rádio Vaticano fez eco dessas
preocupações, lembrando que “a violência e o terror são as armas privilegiadas do
Hamas”.
Fr. Pierbattista Pizzaballa, Custódio da Terra Santa e uma das figuras
de referência da Igreja Católica no local, mostrou preocupação pelas consequências
desta vitória eleitoral sobre a pequena comunidade cristã local, discriminada pelos
árabes e pelos judeus, que sobrevive no meio de grandes dificuldades económicas. A
maioria dos cristãos que vive nos Lugares Santos é palestiniana, pelo que existe muita
apreensão perante a subida ao poder do Hamas, “um partido com claríssima identidade
islâmica”, como lembrou Fr. Pizzaballa.
“Esperamos que prevaleça o bom senso,
a capacidade de governação e a moderação, que não se queira prosseguir a luta, como
até agora. Não podemos negar a preocupação”, confessou o religioso.
Só na região
de Belém, os cristãos sofreram mais de uma centena de agressões nos últimos anos.
O ano de 2002 ficou marcado pelo assassinato, precedido de tortura, de duas irmãs,
acusadas de prostituição, acusação que a autópsia viria a desmentir.
“Os cristãos
são cidadãos palestinianos de pleno direito, mas é claro que reivindicam também a
sua identidade cristã, que deve ser mantida”, aponta Fr. Pizzaballa.