"DEUS É AMOR": PUBLICADA A PRIMEIRA ENCÍCLICA DE BENTO XVI
Cidade do Vaticano, 25 jan (RV) - Esta manhã, na Sala de Imprensa da Santa
Sé, realizou-se a apresentação da primeira carta encíclica de Bento XVI: "Deus caritas
est".
Participaram da apresentação, o Cardeal Renato Raffaele Martino, Presidente
do Pontifício Conselho "da Justiça e da Paz", o Arcebispo William Joseph Levada, Prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé, e o Arcebispo Paul Josef Cordes, Presidente
do Pontifício Conselho "Cor Unum".
"Uma profunda e iluminadora reflexão sobre
o amor cristão": assim o Cardeal Martino definiu a primeira encíclica de Bento XVI.
Encíclica que se pode "indubitavelmente" definir como programática, no sentido mais
alto do termo, porque, advertiu o purpurado, com a "Deus caritas est", o Papa convida
todos a "irem ao centro da fé cristã".
O Presidente do "Justiça e Paz" ressaltou,
por outro lado, que se trata de uma encíclica "permeada, sobretudo na primeira parte,
de um grande cunho espiritual que, diante do risco de um ativismo social e caritativo
sem alma, chama todos ao cultivo das razões e motivações espirituais do ser da Igreja
e do ser cristãos, que dão sentido e valor ao fazer e ao agir".
Bento XVI _
disse ainda o Cardeal Martino _ evoca reiteradas vezes, a Doutrina Social da Igreja,
de modo particular hoje, que o sonho marxista "desvaneceu", mas a globalização apresenta
novos desafios à humanidade.
Portanto, a caridade _ foi a reflexão do Cardeal
Martino _ "deve animar toda a existência dos fiéis leigos e, conseqüentemente, também
sua atividade política, vivida como caridade social".
O Papa _ prosseguiu o
Presidente do "Justiça e Paz" _ estimula portanto, "uma espiritualidade que rejeita
quer o espiritualismo intimista, quer o ativismo social, e que saiba se expressar
numa síntese vital que dê unidade, significado e esperança da existência".
"O
amor _ caritas _ será sempre necessário _ concluiu o Cardeal Martino _ até mesmo na
sociedade mais justa. Não existe nenhuma ordem estatal justa que possa tornar supérfluo
o serviço do amor… O Estado que quer prover tudo, que absorve tudo em si, se torna
definitivamente uma instância burocrática que não pode assegurar o essencial necessário
ao homem sofredor e a todo homem, vale dizer, a amorosa dedicação pessoal."
Por
sua vez, o Arcebispo Levada reiterou que a "Deus caritas est" é um texto forte que
"quer opor-se ao uso errôneo do nome de Deus e à ambigüidade da noção de "amor" que
é tão evidente no mundo de hoje".
O Santo Padre, acrescentou o Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, "quer demonstrar que os dois conceitos não se opõem,
mas se harmonizam entre si para oferecer uma concepção realista do amor humano, um
amor que corresponde à totalidade _ corpo e alma _ do ser humano".
"A encíclica
nos oferece uma visão do amor pelo próximo e da tarefa eclesial de viver a caridade
como cumprimento do mandamento do amor, que encontra suas raízes na própria essência
de Deus, que é Amor. A encíclica convida a Igreja a um renovado compromisso no serviço
da caridade (diakonia), como parte essencial da sua existência e missão" _ disse Dom
Levada.
A última parte da apresentação foi reservada ao Arcebispo Cordes, Presidente
de "Cor Unum", que ressaltou a importância dessa encíclica para o organismo por ele
presidido. Dom Cordes frisou que a "Deus caritas est" é, em absoluto, a primeira encíclica
sobre a caridade.
Bento XVI _ explicou ele _ "nos chama a ouvir o espírito
que nos conduz ao dar as nossas respostas aos que sofrem". "Hoje _acrescentou _ muitos
estão prontos a ajudar quem sofre, e o registramos com gratidão e satisfação; mas
isso pode insinuar nos fiéis a idéia de que a caridade não entra de modo essencial
na missão eclesial."
O exercício da caridade _ reiterou _ ao invés, faz "parte
integrante da herança do Salvador". As agências eclesiais não podem identificar-se
com as ONGs e. por isso, se deve evitar o risco de secularismo nesse campo. O Presidente
do "Cor Unum" se analisou a parte da encíclica, na qual Bento XVI critica o marxismo.
"O Papa rejeita expressamente a teoria marxista da miséria e a define como uma "filosofia
desumanizadora"."
Por último, uma nota técnica sobre a encíclica: o porta-voz
da Santa Sé, Joaquín Navarro-Valls, declarou que a "Deus caritas est" foi "iniciada
em Castel Gandolfo, no verão europeu passado, após os dias de repouso do Papa em Vale
d'Aosta", norte da Itália".
Por sua vez, Dom Levada disse que a encíclica foi
assinada no dia 25 de dezembro passado, tendo sido necessário um mês para as traduções.
A "Deus caritas est" é a 294ª encíclica da história da Igreja. (RL)