BENTO XVI ILUSTRA PRINCIPAIS TEMAS DE SUA PRIMEIRA ENCÍCLICA: "DEUS CARITAS EST"
Cidade do Vaticano, 23 jan (RV) - O Papa recebeu em audiência, nesta segunda-feira,
na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Encontro Internacional promovido
pelo Pontifício Conselho "Cor Unum".
O "Cor Unum" reúne hoje e amanhã, cerca
de 250 participantes, entre cardeais, bispos, embaixadores e dirigentes de instituições
assistenciais para um encontro que tem como tema: "Entre todas as virtudes, a maior
é a caridade". O encontro coincide com a publicação da primeira encíclica de Bento
XVI, que será oficialmente apresentada na próxima quarta-feira: "Deus caritas est"
(Deus é amor).
Ilustrando a seus hóspedes o conteúdo da encíclica, o Papa disse
que se tem feito um uso tão desmedido da palavra "amor", que quase se tem receio de
utilizá-la. Na verdade, se trata de uma palavra primordial, que é expressão da realidade
primordial. Nós não podemos simplesmente abandoná-la, mas devemos retomá-la, purificá-la
e reconduzi-la a seu esplendor originário, para que possa iluminar a nossa vida, refletiu
o Pontífice.
"Foi essa consciência que me induziu a escolher o amor como tema
de minha primeira encíclica. Meu intento era tentar expressar, para o nosso tempo
e para a nossa existência, aquela fé que se torna, ao mesmo tempo visão e compreensão
que nos transforma" _ disse o Santo Padre.
Meu desejo _ afirmou Bento XVI _
"era ressaltar a centralidade da fé em Deus; naquele Deus que assumiu uma face humana
e um coração humano".
A fé em Deus, explicou o Papa, não é uma teoria que se
possa apropriar ou deixar de lado. Mas é algo muito mais concreto: é o critério que
decide o nosso estilo de vida. Em uma época na qual a hostilidade e a avidez se tornaram
superpotências, em uma época na qual assistimos ao abuso da religião até à apoteose
do ódio, a racionalidade sozinha não é capaz de nos proteger.. Necessitamos do Deus
vivo, que nos amou até à morte.
Nesta encíclica, portanto, os temas "Deus",
"Cristo" e "amor" estão fundidos juntos, como guia central da fé cristã. Bento XVI
revelou que seu objetivo era o de mostrar a humanidade da fé, da qual faz parte o
eros _ ou seja, o "sim" do homem à sua corporeidade criada por Deus, um "sim" que,
no matrimônio indissolúvel entre homem e mulher, encontra a sua forma radicada na
criação.
É na humanidade da fé que o eros se transforma em ágape, ou seja,
quando o amor pelo outro não busca mais a si mesmo, mas se torna preocupação pelo
outro, disposição ao sacrifício por ele e abertura também ao dom de uma nova vida
humana.
"O espetáculo do homem sofredor toca o nosso coração. Mas o compromisso
caritativo tem um sentido que vai muito além da simples filantropia. É o próprio Deus
que nos impulsiona no nosso íntimo, a atenuar a miséria. Desse modo, é o próprio Deus
que nós levamos ao mundo sofredor. Quanto mais conscientemente e claramente O levarmos
como dom, mais eficazmente o nosso amor mudará o mundo e despertará a esperança –
uma esperança que vai além da morte" _ concluiu o Papa. (BF)