Igreja pode humanizar a cidade: o cardeal Patriarca de Lisboa na festa do Padroeiro
da capital portuguesa, São Vicente
O Cardeal Patriarca de Lisboa lembrou este Domingo que, a Igreja quer contribuir para
a humanização da cidade, estabelecendo um diálogo cultural com a sociedade portuguesa.
Na homilia da Solenidade de São Vicente, Padroeiro principal da diocese de Lisboa,
D. José Policarpo recordou a realização do Congresso para Nova Evangelização em Novembro
do ano passado, um momento em que, afirmou, a diocese se propôs “em diálogo com a
cidade, anunciar Jesus Cristo e aprofundar a matriz cristã da nossa cultura”. Para
isso, a Igreja, continuou, “pode exercer um papel importante no esforço contínuo de
fazer da nossa cidade um lugar de convivência, de harmonia e de respeito pela dignidade
de cada um”. Porém, “isso só será possível se todos aceitarem que a Igreja faz parte
da cidade, e se os cristãos perceberem que não estão sozinhos na cidade e que não
são os únicos a lutar pela sua humanização”.
O Patriarca de Lisboa voltou
a destacar, o que na altura do Congresso tinha já afirmado, ao salientar que “a Igreja
não quer dominar a cidade”, uma atitude que, explica aos cristãos, passa por “aprender
a respeitar as diferenças, a reconhecer as convergências, embora propondo sempre com
clareza a sua especificidade”.
Neste sentido, D. José Policarpo frisou que
“a humanização da cidade é obra de cultura, pois só esta garante aqueles valores fundamentais
que inspiram a construção da comunidade” e, acentuou ainda a ideia de que “na sociedade
portuguesa, ao longo dos séculos, a fé cristã tornou-se cultura, e a Igreja deseja
continuar o diálogo cultural para que a nossa cultura transmita, espontaneamente,
os valores que inspiram uma sociedade de rosto humano”. Pelo que, conclui, “só a cultura
torna possível que uma grande parte dos cidadãos, mesmo não praticantes ou até descrentes,
se encontrem com os cristãos na proposta e defesa de valores fundamentais”.
O
“respeito pela dignidade da pessoa humana e pelo carácter sagrado da vida”, a defesa
da sua liberdade e do direito à autenticidade, e a descoberta da inter-ajuda solidária
são alguns desses valores éticos, apresentados por D. José Policarpo, à volta dos
quais “se esclarece a convergência ou tensão da presença dos cristãos na cidade, procurando,
com todos os outros, a sua humanização”, afirmou.
Entre os contributos que
a Igreja pode dar para humanização da cidade está a atenção ao que o Cardeal Patriarca
de Lisboa chamou a “cidade silenciosa” ou seja a “ajuda fraterna a prestar aos que
mais dela necessitam: os doentes, os solitários, os pobres e desempregados, os sem
abrigo, os presos”. Por outro lado também a oração pode contribuir para esta humanização
porque, explicou o Cardeal, “nunca, como quando reza, o homem se humaniza tão profundamente.
Na oração, ele faz desabrochar aquela profundidade do seu ser, onde encontra a paz,
a confiança, a força de viver. Exprime a sua relação com Deus, última fonte do sentido
de toda a existência, sai de si e abre-se ao amor dos irmãos; aí se vence a solidão,
se ultrapassam as dificuldades da comunhão, se desabrocha para a solidariedade e para
o sentido da comunidade”, disse.