Dia Mundial do Migrante e do Refugiado celebrado neste domingo dia 15 de Janeiro.
Tráfico e exploração de mulheres preocupa a Igreja
Pela primeira vez, a Igreja Católica celebrará no seu conjunto o Dia Mundial do Migrante
e do Refugiado na mesma data. O momento escolhido pela Santa Sé foi este Domingo,
dia 15 de Janeiro, e o mote foi dado por Bento XVI na sua mensagem para esta data:
“Migrações: sinal dos tempos a interpretar à luz do Evangelho”.
O Papa denuncia
o tráfico de seres humanos e a exploração feminina, pedindo aos católicos que dediquem
uma especial atenção às mulheres migrantes, as mais vulneráveis à exploração económica
e ao tráfico humano.
Apontando para a “recente tendência da feminização” do
fenómeno migratório, com uma “crescente presença” das mulheres, a mensagem lamenta
que elas acabem por estar presentes “sobretudo nos sectores que oferecem baixos salários”.
O
texto sublinha que “a imigração assumiu uma forma, por assim dizer, estrutural, tornando-se
uma característica importante do mercado de trabalho a nível mundial, consequência,
entre outros, da profunda influência exercida pela globalização”.
Bento XVI
mostra-se profundamente preocupado pelo desenvolvimento do tráfico de seres humanos,
sobretudo mulheres, “nos locais onde são escassas as oportunidades de melhorar as
próprias condições de vida, ou simplesmente de sobreviver”. O Papa critica duramente
a exploração do trabalho feminino e a “indústria do sexo” que se aproveitam destas
situações, reafirmando a condenação expressa por João Paulo II contra “a difundida
cultura hedonista e comercial, que promove a exploração sistemática da sexualidade”.
Aos católicos, é deixado o desafio de apresentarem “um programa de redenção e libertação”
para estas mulheres.
O Papa lembra, por outro lado, os dramas dos requerentes
de asilo e os refugiados, pedindo à opinião pública que fixe o seu olhar não só “no
problema constituído pela sua entrada”, mas também “nas razões que os levaram a fugir
do seu país de origem”.
“Esperança, coragem, amor e também ‘criatividade da
caridade’ (Novo millennio ineunte, 50) devem impulsionar o necessário compromisso,
humano e cristão, para socorrer estes irmãos e irmãs nos seus sofrimentos”, aponta.
Preocupações
em português
Em Portugal, este dia é vivido sob o signo do alerta lançado
na mensagem de D. António Vitalino, bispo de Beja e presidente da Comissão Episcopal
da Mobilidade Humana: “Também em Portugal há uma imigração que é preciso desmascarar,
nos agentes que a promovem, como é a exploração das mulheres na indústria do sexo
pago”.
Para o prelado, “as pessoas em situação fragilizada carecem de um maior
apoio e devem ser inutilizados aqueles que se aproveitam disso para as explorar”.
A
mensagem às comunidades cristãs lembra que “tal como não haverá um português que não
tenha um familiar emigrado, do mesmo modo não há paróquia - rural ou urbana, do litoral
ou do interior - estranha à presença de famílias e comunidades migrantes”.
A
Igreja é, assim, convidada a renovar o seu “compromisso missionário”, seja com os
nossos emigrantes, seja com os imigrantes e os refugiados.
Como resposta à
grande pressão migratória enfrentada pelo país, a Comissão Episcopal da Mobilidade
Humana pede que a Igreja Católica no nosso país seja capaz de “ir além das respostas
de emergência social para assumir o diálogo entre culturas e religiões, garantia de
gradual integração de todos”.
Em relação ao futuro, a mensagem deixa um convite
a todos os que se dedicam à pastoral das migrações “a continuar vigilantes, com as
legitimas parcerias alargadas na sociedade civil, para que os direitos humanos, culturais
e religiosos dos migrantes - sem ignorar aqueles em vias de regularização - sejam
respeitados na anunciada alteração legislativa”. As principais preocupações manifestadas
relacionam-se com “o direito a viver em família, a gestão inteligente dos fluxos,
a dignificação do trabalho, a cooperação com os países de origem, a nacionalidade
e os próprios conceitos de ‘residência’ e ‘integração’ que, porque ambíguos e fragmentados,
necessitam ainda de ser clarificados a nível político”.
A essa luz, portanto,
os católicos são desafiados a sair de uma lógica que considera o imigrante como uma
força de trabalho, sem se preocupar em garantir a sua integração social, económica
e cultural.