2006-01-14 16:32:45

Dia Mundial do Migrante e do Refugiado celebrado neste domingo dia 15 de Janeiro. Tráfico e exploração de mulheres preocupa a Igreja


Pela primeira vez, a Igreja Católica celebrará no seu conjunto o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado na mesma data. O momento escolhido pela Santa Sé foi este Domingo, dia 15 de Janeiro, e o mote foi dado por Bento XVI na sua mensagem para esta data: “Migrações: sinal dos tempos a interpretar à luz do Evangelho”.

O Papa denuncia o tráfico de seres humanos e a exploração feminina, pedindo aos católicos que dediquem uma especial atenção às mulheres migrantes, as mais vulneráveis à exploração económica e ao tráfico humano.

Apontando para a “recente tendência da feminização” do fenómeno migratório, com uma “crescente presença” das mulheres, a mensagem lamenta que elas acabem por estar presentes “sobretudo nos sectores que oferecem baixos salários”.

O texto sublinha que “a imigração assumiu uma forma, por assim dizer, estrutural, tornando-se uma característica importante do mercado de trabalho a nível mundial, consequência, entre outros, da profunda influência exercida pela globalização”.

Bento XVI mostra-se profundamente preocupado pelo desenvolvimento do tráfico de seres humanos, sobretudo mulheres, “nos locais onde são escassas as oportunidades de melhorar as próprias condições de vida, ou simplesmente de sobreviver”. O Papa critica duramente a exploração do trabalho feminino e a “indústria do sexo” que se aproveitam destas situações, reafirmando a condenação expressa por João Paulo II contra “a difundida cultura hedonista e comercial, que promove a exploração sistemática da sexualidade”. Aos católicos, é deixado o desafio de apresentarem “um programa de redenção e libertação” para estas mulheres.

O Papa lembra, por outro lado, os dramas dos requerentes de asilo e os refugiados, pedindo à opinião pública que fixe o seu olhar não só “no problema constituído pela sua entrada”, mas também “nas razões que os levaram a fugir do seu país de origem”.

“Esperança, coragem, amor e também ‘criatividade da caridade’ (Novo millennio ineunte, 50) devem impulsionar o necessário compromisso, humano e cristão, para socorrer estes irmãos e irmãs nos seus sofrimentos”, aponta.

Preocupações em português

Em Portugal, este dia é vivido sob o signo do alerta lançado na mensagem de D. António Vitalino, bispo de Beja e presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana: “Também em Portugal há uma imigração que é preciso desmascarar, nos agentes que a promovem, como é a exploração das mulheres na indústria do sexo pago”.

Para o prelado, “as pessoas em situação fragilizada carecem de um maior apoio e devem ser inutilizados aqueles que se aproveitam disso para as explorar”.

A mensagem às comunidades cristãs lembra que “tal como não haverá um português que não tenha um familiar emigrado, do mesmo modo não há paróquia - rural ou urbana, do litoral ou do interior - estranha à presença de famílias e comunidades migrantes”.

A Igreja é, assim, convidada a renovar o seu “compromisso missionário”, seja com os nossos emigrantes, seja com os imigrantes e os refugiados.

Como resposta à grande pressão migratória enfrentada pelo país, a Comissão Episcopal da Mobilidade Humana pede que a Igreja Católica no nosso país seja capaz de “ir além das respostas de emergência social para assumir o diálogo entre culturas e religiões, garantia de gradual integração de todos”.

Em relação ao futuro, a mensagem deixa um convite a todos os que se dedicam à pastoral das migrações “a continuar vigilantes, com as legitimas parcerias alargadas na sociedade civil, para que os direitos humanos, culturais e religiosos dos migrantes - sem ignorar aqueles em vias de regularização - sejam respeitados na anunciada alteração legislativa”. As principais preocupações manifestadas relacionam-se com “o direito a viver em família, a gestão inteligente dos fluxos, a dignificação do trabalho, a cooperação com os países de origem, a nacionalidade e os próprios conceitos de ‘residência’ e ‘integração’ que, porque ambíguos e fragmentados, necessitam ainda de ser clarificados a nível político”.

A essa luz, portanto, os católicos são desafiados a sair de uma lógica que considera o imigrante como uma força de trabalho, sem se preocupar em garantir a sua integração social, económica e cultural.








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