Conhecer a Deus Criador é o conhecimento fundamental, que dá sentido e orientação
a todos os conhecimentos: sublinhou Bento XVI, comentando na audiência geral desta
quarta-feira. Na audiência, 30 crianças de Beslan
Quarta-feira, audiência geral de Bento XVI. Como desde o início do seu pontificado,
também esta semana milhares de peregrinos acorreram a este encontro com o Papa. Dado
o frio rigoroso que se faz sentir em Roma, a audiência teve lugar na Aula Paulo VI.
Presentes também peregrinos de língua portuguesa, aos quais o Papa dirigiu uma
saudação na nossa língua: “ Saúdo com viva
satisfação o grupo de peregrinos de língua portuguesa e, de modo especial, os juristas
brasileiros aqui presentes. Faço votos que a oportunidade de visitar o túmulo dos
Apóstolos vos sirva de estímulo para uma renovada confiança na Lei de Deus e nos princípios
que dela derivam. A todos desejo muita paz e alegria no Espírito Santo. Que o Senhor
vos abençoe!”
Prosseguindo a catequese que vem desenvolvendo, nesta circunstância,
sobre os salmos da liturgia de vésperas, Bento XVI deteve-se hoje a comentar a primeira
parte do Salmo 143, uma oração do rei messiânico, que invoca a vitória e a paz: “Bendito
seja o Senhor, meu refúgio… meu amparo, meu libertador… Que é o homem, Senhor, para
que dele cuideis..? O homem é como sopro da brisa… como sombra que passa… Abri, Senhor,
os céus, e descei… Salvai-me do abismo das águas…”
O Papa fez notar que o
Salmo começa com uma exclamação de louvor a Deus, mediante uma série de títulos honoríficos:
rocha segura, baluarte protegido, refúgio… “Não obstante a sua dignidade de rei (observou),
o orante sente-se débil e frágil diante do Senhor, como uma sombra que passa, pelo
que faz uma autêntica profissão de humildade, que o leva a perguntar: Por que é que
Deus se preocupa com uma criatura tão pobre e caduca? Orígenes comenta: Senhor,
“não poderás salvar esta miséria que é o homem, se tu próprio não o carregas sobre
ti…. Tu descestes… estendestes do alto a tua mão, dignaste-te assumir a carne do homem,
e muitos acreditaram em ti…Grande felicidade (é) para o homem conhecer o próprio Criador.
É nisto que nós nos diferenciamos das feras e dos outros animais, porque sabemos ter
o nosso Criador, ao passo que eles não o sabem”.
"Vale a pena (observou
o Papa, improvisando) meditar um pouco estas palavras de Orígenes, que vê a diferença
fundamental entre o homem e os outros animais no facto do homem ser capaz de conhecer
Deus, o seu Criador. O homem é capaz da verdade, capaz de um conhecimento que se torna
relação e amizade. È importante no nosso tempo não esquecermos Deus, com todos os
outros conhecimentos que temos, e que são tantos, mas se tornam todos problemáticos,
ou mesmo perigosos, se falta o conhecimento fundamental que dá sentido, orientação
a tudo: o conhecimento de Deus, o Criador”. “Para nós, cristãos, Deus já não é,
como na filosofia anterior ao cristianismo, uma hipótese, mas é uma realidade, porque
Deus abriu os céus e desceu. (O céu é Ele próprio.) Ele desceu. Justamente vê Orígenes
na parábola da ovelha extraviada que o pastor carrega aos ombros uma parábola da incarnação
de Deus. Sim, na incarnação (Deus) desceu e toma aos ombros a nossa carne, nós mesmos.
O conhecimento de Deus tornou-se assim realidade, amizade, comunhão. Na audiência
estiveram presentes grupos de todo o mundo, com especial destaque para 30 crianças,
sobreviventes da tragédia de Beslan, na Rússia. O grupo encontra-se na Itália a convite
da Protecção civil deste país, e ainda hoje, visitou os jardins do Vaticano.