Um sobressalto de coragem e confiança em Deus e no homem, para construir a paz: Bento
XVI na homilia do Dia Mundial da Paz.Antes da oração do Angelus indica o diálogo,
o perdão e a solidariedade como única estrada que conduz á verdadeira paz.
Aos peregrinos de lingua portuguesa faço votos de Boas festas, e um Ano Novo sereno
e feliz na Paz do Senhor e de Maria Santissima. Com a minha Benção Apostólica. Neste primeiro
dia de 2006, dirigindo-se, ao meio-dia, depois da recitação do Angelus, aos peregrinos
presentes na Praça de São Pedro e a todos os que o seguiam através da rádio e da televisão,
Bento XVI quis saudar expressamente na nossa língua. De manhã, na basílica de
São Pedro, repleta de fiéis e com uma solene representação de embaixadores de todo
o mundo, neste XXXIX Dia Mundial da Paz, desta vez sobre o tema – “Na verdade, a paz”,
Bento XVI advertiu que “é necessário um ‘sobressalto’ de coragem e de confiança em
Deus e no homem para decidir percorrer o caminho da paz”. O Papa sublinhou que “ao
perdurar de situações de injustiça e de violência” em variadas zonas da terra, se
apresentam hoje em dia “novas e mais insidiosas ameaças à paz, como o terrorismo,
o niilismo e o fundamentalismo fanático”, razões que impõem a necessidade de “actuar
conjuntamente a favor da paz”. Observando que “esta grande aspiração do coração
de cada homem e mulher se edifica dia a dia com o contributo de todos”, Bento XVI
convidou a tirar partido da “admirável herança que o Concílio Vaticano II nos deixou
com a Constituição pastoral Gaudium et Spes”, onde se afirma nomeadamente que a humanidade
não conseguirá “construir um mundo verdadeiramente humano… se não se dirigirem todos
com espírito renovado à verdade da paz”. Quando este documento conciliar era promulgado,
em Dezembro de 1965, há quarenta anos, o momento histórico que se vivia não era muito
diferente do actual. Também nessa altura, como agora, tensões de vário tipo se perfilavam
no horizonte mundial”. “Perante o perdurar de situações de injustiça e de violência
que continuam a oprimir diversas zonas da terra, perante aquelas outras (situações)
que se apresentam como as novas e mais insidiosas ameaças à paz – o terrorismo, o
niilismo e o fundamentalismo fanático – torna-se mais do que nunca necessário actuar
conjuntamente a favor da paz. É necessário um ‘sobressalto’ de coragem e de confiança
em Deus e no homem para optar pelo caminho da paz.” Celebrando a Igreja a 1 de
Janeiro a solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, não faltou na homilia de Bento
XVI uma referência atenta à figura d’ “aquela por meio da qual entra no mundo o Filho
de Deus”. No início do novo ano – observou o Papa – somos convidados a aprender na
“escola de Maria”, na escola da discípula fiel do Senhor, para aprender d’Ela a acolher
na fé e na oração a salvação que Deus quer difundir sobre todos os que confiam no
seu amor misericordioso”. Comentando a primeira leitura da Missa – a bênção contida
no Livro dos Números, Bento XVI explicou que “se trata da bênção que os sacerdotes
costumavam invocar sobre o povo, no final das grandes festas litúrgicas, particularmente
na festa do ano novo”. É “um texto que não limita a enunciar princípios, mas tende
a realizar o que se afirma”, pois “no pensamento semítico, a bênção do Senhor produz,
por força própria, bem-estar e salvação (como aliás a maldição traz consigo desgraça
e ruína). A eficácia da bênção concretiza-se depois, especificamente, da parte de
Deus, no facto de nos proteger, no ser-nos propício, no dar-nos a paz, no oferecer-nos
a abundância da felicidade”. Ao meio-dia, dirigindo-se, da janela dos seus aposentos,
como todos os domingos, aos fiéis congregados na Praça de São Pedro, Bento XVI referiu-se
sobretudo ao Dia Mundial da Paz, que se começou a celebrar há 38 anos, por vontade
de Paulo VI Evocando o tema escolhido para este ano – “Na verdade, a paz”, o pontífice
fez notar que este “tema da verdade como fundamento da autêntica paz” foi tratado
pelo beato João XXIII na Encíclica “Pacem in terris”. “Quando o homem se deixa iluminar
pelo esplendor da verdade, torna-se interiormente corajoso artífice da paz”. Uma grande
lição que vem também do tempo litúrgico do Natal: “Para acolher o dom da paz, temos
de nos abrir à verdade que se revelou na pessoa de Jesus, o qual nos ensinou o conteúdo
e ao mesmo tempo o método da paz, isto é, o amor. De facto, Deus, que é o Amor perfeito
e subsistente, revelou-se em Jesus desposando a nossa condição humana. Deste modo,
indicou-nos a via da paz: o diálogo, o perdão, a solidariedade. Eis a única estrada
que conduz à verdadeira paz”.