2005-12-31 16:24:25

Dia Mundial da Paz: uma ética exigente


A Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz apresenta uma perspectiva ética muito exigente: “Na Verdade, a Paz”. O texto retoma e aprofunda o magistério de João Paulo II a este respeito, considerando a paz como muito mais do que a ausência de guerra. Ela é, para o Papa, um dom celeste, uma graça divina que exige do homem o exercício da maior responsabilidade que lhe é exigida: conformar a história à ordem divina, na justiça, na liberdade, na verdade e no amor.

Na primeira vez em que assina esta mensagem, o Papa reitera a “firme vontade da Santa Sé” de continuar a servir a causa da paz e reflecte em torno de dois conceitos fundamentais, a verdade e a mentira, lembrando o que aconteceu no século XX, quando se “mistificou” a verdade em função de programas ideológicos e militares, com resultados trágicos. “Basta pensar naquilo que aconteceu no século passado, quando aberrantes sistemas ideológicos e políticos mistificaram de forma programada a verdade, levando à exploração e à supressão de um número impressionante de homens e mulheres, exterminando mesmo famílias e comunidades inteiras”, escreve.

A sociedade construtora de paz que Bento XVI chama a construir deve condenar, de forma vigorosa o terrorismo e o fanatismo religioso. Sobre os actos terroristas, “inspirados por um niilismo trágico e desconcertante” e pelo “fanatismo religioso, hoje frequentemente denominado fundamentalismo”, o Papa refuta “a pretensão de impor com a violência, em vez de propor à livre aceitação dos outros, a própria convicção acerca da verdade”.

Os totalitarismos do século XX e o terrorismo no novo século mostram, assim, que a questão da verdade e da mentira, quando se procura construir uma moral social, não é supérflua. Para a teologia católica, expressa aqui por um dos seus maiores mestres da actualidade, é o esquecimento da “plena verdade de Deus” que está na origem dos erros acima referidos.

Da verdade e da mentira dependem a história humana, porque a verdade revela a paz. Para tal, a mensagem do Papa apresenta a gramática da “lei moral universal”, relançando o magistério do seu predecessor. Ao contrário do fundamentalismo, aqui é possível radicar um discurso forte sobre os direitos humanos, ligando a verdade à justiça: Bento XVI fala explicitamente de um direito à paz e de um direito ao desenvolvimento das pessoas e dos povos.

Aos católicos, em particular, a Mensagem deixa um desafio, o de “intensificar, em todas as partes do mundo, o anúncio e o testemunho do «Evangelho da paz», proclamando que o reconhecimento da verdade plena de Deus é condição prévia e indispensável para a consolidação da verdade da paz”.

“A paz apresenta-se então de um modo novo: não como simples ausência de guerra, mas como convivência dos diversos cidadãos numa sociedade governada pela justiça, na qual se realiza também, na medida do possível, o bem de cada um deles”, - assim se resume a ideia central do Papa para o próximo dia 1 de Janeiro.

Octávio Carmo, AE








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