DISTÚRBIOS NA FRANÇA REPRESENTAM INSATISFAÇÃO DOS JOVENS, DIZ BENTO XVI
Cidade do Vaticano, 19 dez (RV) - Bento XVI recebeu em audiência, nesta segunda-feira,
o novo embaixador da França junto à Santa Sé, Bernard Kessedjian, para a apresentação
de suas credenciais.
Durante o colóquio, o Pontífice comentou os violentos
distúrbios ocorridos nas periferias das grandes cidades francesas em outubro e novembro
passados. Para Bento XVI, as dramáticas tensões sociais observadas na França revelam
uma "profunda insatisfação de uma parte da juventude", especialmente dos filhos de
imigrantes.
Portanto, prosseguiu o Papa, é dever do Estado e da sociedade "considerar
as necessidades dos jovens e oferecer a eles uma resposta adequada", uma vez que a
riqueza econômica, cultural e social da França foi construída com a participação das
numerosas famílias de imigrantes, que chegaram ao país depois da II Guerra Mundial.
"As
violências internas que marcam a sociedade e que devem ser condenadas, revelam a profunda
insatisfação de uma parte da juventude e convidam a considerar suas reivindicações,
oferecendo uma resposta adequada, no contexto de um diálogo construtivo. Trata-se
_observou o Santo Padre_ de dar um passo suplementar para a integração social de todos,
tanto na França como nos demais países europeus, em nome da dignidade intrínseca de
cada pessoa, que é o centro da sociedade."
O Papa destacou a importância da
família na formação dos jovens. Para ele, as "instituições conjugal e familiar são
fundamentos da vida social, insubstituíveis na educação da juventude, que associam
autoridade e sustento afetivo, dando aos jovens os valores indispensáveis a seu amadurecimento
pessoal, e o senso de bem comum".
Enfim, uma recomendação em matéria de bioética,
setor onde se revela, sempre mais, "a tendência a considerar o ser humano, e de modo
particular o embrião, como um mero objeto de pesquisa"...
"É importante afrontar
as questões éticas, mas não partindo do ponto de vista científico, e sim da perspectiva
do ser humano _ disse Bento XVI _ que deve, absolutamente, ser respeitado. Sem aceitar
esse critério moral _ acrescentou _ será difícil criar uma sociedade verdadeiramente
humana, que respeite todos os seres humanos que a compõem, sem qualquer tipo de distinção."
O
Papa falou ao novo embaixador francês sobre o verdadeiro significado da laicidade
do Estado. Este ano, lembrou o Pontífice, a França celebra o 100º aniversário da lei
de separação entre Igreja e Estado. Contudo, para Bento XVI, "a laicidade do Estado
não impede a Igreja de participar, sempre de forma mais ativa, da vida da sociedade,
no respeito às competências de cada um". O Papa entende que a laicidade seja uma "sana
distinção dos poderes do Estado e da Igreja, não uma oposição entre ambos".
O
novo embaixador da França junto à Santa Sé tem 62 anos, é casado, tem duas filhas
e em 28 anos de carreira diplomática representou seu país no México, na Argélia, na
Grécia, na ONU e na Comissão Européia. (RW)