2005-12-17 19:46:42

UNESCO DENUNCIA: SEIS MIL LÍNGUAS AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO


Paris, 17 dez (RV) - Quase seis mil línguas catalogadas em todo o mundo estão ameaçadas de extinção, segundo denúncia da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Dentro de 100 anos poderão reduzir-se a vinte, prevêem os estudiosos.

O desaparecimento de todas essas línguas poderia representar uma espécie de fim da "torre de Babel" e, portanto, facilitar a comunicação entre as pessoas? Seria, portanto, um fato positivo? Os especialistas respondem que não, e seria uma perda irreparável para a humanidade, do ponto de vista histórico, ecológico e sobretudo da autonomia cultural. E até mesmo do progresso científico.

Um exemplo clássico se deu na Austrália. No norte desse país difundiu-se uma epidemia de úlcera de pele, absolutamente refratária aos medicamentos. A única terapia eficaz estava descrita numa língua tradicional, que bem poucos conheciam. Os aborígines advertiram uma enfermeira e a ajudaram a interpretar a receita e preparar a solução obtida de uma planta medicinal. O antigo medicamento cicatrizou as úlceras e a epidemia passou.

Esse exemplo, referido pelo grande lingüista Stephen Wurm (1922-2001), da Universidade Nacional Australiana, serve para compreender porque é necessário salvar as tantas línguas do mundo, substituídas, muitas vezes, pelo inglês e por outras línguas que se impuseram graças ao fenômeno da globalização.

Se tivéssemos que julgar a utilidade de uma língua pelo número de quantos a falam, 96% das línguas do mundo deveriam morrer: são faladas apenas por 3% dos habitantes do planeta. Ou ainda: 97% da população humana fala 4% das línguas do mundo. As outras não teriam mais razão de existir. Em particular aquelas 600 línguas singularmente tomadas, 10% das quais são conhecidas por menos de 100 pessoas.

Mas também as línguas com as quais se comunicam entre si poucas dezenas de pessoas em duas minúsculas ilhas da Polinésia são depositárias de valores que poderão ser úteis.

Com freqüência volta o tema da "guerra das línguas". E como os ecologistas não aceitam a destruição da diversidade biológica, os lingüistas se opõem à extinção da diversidade dos idiomas. Eles esperam obter melhores resultados que os biólogos e botânicos: as espécies mortas não podem ser ressuscitadas ou reanimadas, mas as línguas sim. Algumas delas voltaram a viver depois de séculos. O caso mais famoso é o da língua hebraica, que se tornou a língua viva da Palestina no final do século XVIII, graças a Ellezer Ben Yehuda (1858-1922) e hoje falada em Israel.

Em tempos mais recentes, no Reino Unido, foi retomada a língua da Cornualha: em 1777 morrera o último inglês que falava a língua; hoje, mais de duas mil pessoas a falam, e os pais a ensinam aos filhos. Mesmo quando a morte de uma língua está decretada, vale a pena tentar reanimá-la: a língua rama, na Nicarágua, por exemplo, acabou morrendo, mas os jovens conhecem muitas palavras, eles sabem que era uma verdadeira língua.

Em geral, na América Latina, as crianças que aprendem a língua materna (nativa) estão, depois, em condições de aprender mais facilmente o espanhol. A transmissão de pai para filho é, segundo alguns lingüistas, a verdadeira prova da vitalidade de um idioma. Há boas razões para salvar uma língua mesmo quando apenas um indivíduo a sabe falar.

Como as espécies vegetais e animais, também as línguas nascem, crescem (isto é, se difundem), definham e morrem. As razões históricas são tantas. Quase sempre o fator determinante é a violência exercida sobre minorias lingüísticas, para privá-las da sua identidade e integrá-las mais facilmente.

No século XVIII, nos Estados Unidos e Austrália, as crianças que falavam uma língua nativa eram punidas. O mesmo aconteceu no País de Gales e na Irlanda, onde eram esmagadas as línguas célticas.

Há línguas históricas, mortas há milhares de anos, que nunca mais se conseguiu interpretar. É o caso do etrusco, eliminado pelos romanos, que invadiram a península com o latim.

As populações do leste da África acabaram abandonando as línguas tribais e adotando o swahili, para conseguir o desenvolvimento e se inserir num mundo mais amplo.

Os países europeus estão cada vez mais preocupados por suas línguas: o inglês acabou se impondo como idioma comum no Velho Continente. O inglês vai aparecendo como segunda língua falada no mundo, depois do chinês, evidentemente. Mas o que acontecerá dentro de algumas décadas, quando os "Tigres asiáticos" se tornarem mais agressivos e mais temidos? Limitando-nos às relações demográficas, o atlas mundial coloca o inglês depois do chinês, o hindu-urdo em terceiro, e o árabe para disputar o quarto lugar com o espanhol. (MZ)







All the contents on this site are copyrighted ©.