BISPO DIZ QUE LULA ABRIU NOVA FASE DE DEBATES SOBRE INTEGRAÇÃO DO SÃO FRANCISCO
Brasília, 16 dez (RV) - Em setembro passado, Dom Luiz Flávio Cappio, Bispo
de Barra, oeste baiano, fez uma greve de fome de 11 dias, contra a obra de integração
do rio São Francisco a outras bacias do Nordeste brasileiro, e chamou a atenção do
país para as críticas de pesquisadores e movimentos sociais ao projeto do governo
federal.
Nesta quinta-feira, dia 15, totalmente recuperado, Dom Cappio foi
recebido pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois conversaram por quase
duas horas. Ao final, Dom Cappio comemorou o que chamou de abertura de uma nova fase
de debates sobre a obra.
Houve uma primeira fase de debates, com cerca de 50
audiências públicas organizadas pelo Ministério da Integração Nacional. Dom Cappio
considera que essas audiências não aceitaram opiniões contrárias à obra. A greve de
fome foi encerrada com o compromisso do governo de retomar o diálogo.
Essa
reunião de ontem, com Lula "dá início à participação da sociedade na discussão de
um modelo de desenvolvimento baseado na convivência com o semi-árido, que priorize
os direitos dos pequenos". Pelo que ouvimos do Presidente, a discussão será feita
com começo, meio e fim, mas até que se chegue a uma conclusão satisfatória, seja por
parte do governo, seja por parte da sociedade" _ revelou Dom Cappio, que conheceu
Lula em 1994, e participou com ele da Caravana da Cidadania pelo Rio São Francisco,
percorrendo o curso d'água, da nascente à foz.
"Hoje, Lula disse para mim que,
com relação a esse projeto da transposição, vai agir sempre com serenidade. Tivemos
uma conversa entre amigos e confirmamos nossa confiança mútua. Saí satisfeito, com
a proposta do Presidente de manter aberta a discussão. Era tudo que desejava" _ afirmou
o prelado.
Dom Cappio entregou ao presidente um documento no qual enumera 10
motivos para ser contrário à obra, e apresentou sugestões para uma "reforma hídrica"
no semi-árido brasileiro, com ações que possibilitem a democratização da água. Ele
admite a possibilidade de, caso a sociedade concorde, a integração ser feita dentro
da reforma hídrica. (MZ)