EX-BÓIA-FRIA E DOENTE TERMINAL DE CÂNCER CONDENADA A 4 ANOS DE RECLUSÃO
São Paulo, 06 dez (RV) - Ao término de um julgamento que durou apenas duas
horas e meia e foi realizado a portas fechadas, em Campinas (SP), Iolanda Figueiral,
de 79 anos, doente terminal de câncer nos ovários e intestino, e seu filho, Carlos
Roberto de Almeida, de 40, foram condenados a quatro anos de reclusão, em regime fechado.
Acusados de tráfico de drogas, eles não têm direito de recorrer em liberdade já que
o crime é considerado hediondo.
Iolanda voltou à Penitenciária Feminina de
São Paulo, para onde fora transferida há cinco dias, depois que um jornal local denunciou
que ela não recebia atendimento adequado na Penitenciária do Tatuapé, onde estava
desde agosto. Com 40 quilos e uma bolsa de colostomia, foi para o julgamento num carro
comum da polícia.
"Não tiveram nem a dignidade de transportá-la de ambulância"
_ disse Cláudia Regina Pereira, de 37 anos, uma das 15 netas de Iolanda, que tem ainda
quatro filhos e 15 bisnetos. "O que fizeram com a minha avó não foi uma condenação,
foi a assinatura de seu atestado de óbito. Ela só tem de seis a oito meses de vida."
Impedidas
de acompanhar o julgamento, Cláudia e Benedita Aparecida da Conceição, nora de Iolanda,
fizeram um protesto na porta do fórum. O advogado de Iolanda, Rodolpho Pettená Filho,
entrou com um recurso no Tribunal de Justiça de São Paulo, recorrendo da sentença
e pedindo prisão domiciliar ou indulto humanitário, para que ela possa passar seus
últimos dias de vida em casa.
"Esse recurso pode demorar até um ano para ser
julgado" _ explicou. "Para agilizar, também estamos encaminhando, juntamente com a
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), um habeas corpus ao Superior Tribunal
de Justiça, em Brasília, que deve ser julgado antes do recurso."
No habeas
corpus, os advogados sustentarão a inconstitucionalidade da Lei de crimes hediondos,
que proíbe a concessão de liberdade provisória a pessoas imputadas de crimes considerados
hediondos ou equiparados, como é o caso do tráfico de drogas. Iolanda não tem antecedentes
criminais, tem residência fixa e vivia com a aposentadoria de R$ 300.
Pettená
Filho afirma que em seus 15 anos de profissão, nunca viu um caso como o de Iolanda.
"Ela está em um estado lastimável e não tem condições físicas de cumprir a pena."
As condições de vida de Iolanda na cadeia chamaram a atenção de entidades de direitos
humanos, como a Pastoral Carcerária.
"Minha avó não vai agüentar. Ela saiu
aos prantos do fórum, está em sofrimento total físico e moral" _ disse a neta, Cláudia.
"Tínhamos certeza de que seria solta hoje e que passaríamos o Natal todos juntos"
_ acrescentou. (MZ)