Combater a fome é salvaguardar a dignidade do homem. Bento XVI pediu empenho na luta
contra a fome, no discurso aos participantes na 33ª Conferencia da FAO.
O diálogo entre as culturas, através de novos horizontes na actividade de cooperação,
representa uma das vias que se devem seguir para libertar a humanidade da fome, sendo
um meio capaz de favorecer melhores condições de desenvolvimento e de segurança alimentar.
Foi o que afirmou Bento XVI esta quinta feira recebendo na Sala Clementina do Palácio
Apostólico do Vaticano os participantes na 33ª conferencia da FAO – a Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
O Papa manifestou antes de mais sincero apreço pelas iniciativas que a Fao desenvolve
desde há 60 anos, defendendo com competência e de maneira profissional a causa do
homem a partir precisamente do direito basilar de cada pessoa de estar livre da fome.
A humanidade – salientou Bento XVI – vive neste tempo um dos paradoxos mais preocupantes:
dum lado atingem-se sempre novas e positivas metas em campo económico, científico
e tecnológico, mas do outro constata-se o aumento continuo da pobreza.
No que diz respeito á importância fundamental do diálogo entre as culturas na luta
contra a fome e a pobreza, segundo Bento XVI, hoje mais do que nunca existe a necessidade
de instrumentos capazes de vencer as recorrentes tentações de conflito entre as várias
visões culturais, étnicas e religiosas. É necessário fundar as relações internacionais
no respeito da pessoa e dos princípios fundamentais da convivência, na fidelidade
aos pactos e no acolhimento recíproco dos povos como membros da única família humana.
É necessário reconhecer que o progresso técnico, embora necessário, não é tudo; verdadeiro
progresso – acrescentou o Papa – é aquele que salvaguarda a dignidade do ser humano
no seu todo e permite a cada povo partilhar os próprios recursos espirituais e materiais,
em beneficio de todos.
Bento XVI recordou a necessidade de ajudar as comunidades indígenas, muitas vezes
objecto de indevidas apropriações finalizadas ao lucro. Depois - acrescentou – não
se deve esquecer que enquanto algumas áreas são submetidas a medidas e controlos internacionais,
milhões de pessoas são condenadas á fome, até ao risco da vida, em zonas onde se verificam
conflitos sangrentos esquecidos pela opinião publica, porque considerados internos
ou étnicos e tribais.
Segundo o Papa infunde uma confiança renovada a iniciativa da FAO de convocar os seus
Estados membros para “discutir sobre o tema da reforma agrária e do desenvolvimento
rural, um âmbito para o qual a Igreja desde sempre dirigiu a sua atenção preocupando-se
em particular com os pequenos agricultores rurais.
Um caminho a percorrer – sugeriu – poderia ser aquele de assegurar ás populações rurais
os recursos e os instrumentos indispensáveis, a começar pelos meios de formação e
de educação juntamente com estruturas organizativas que tutelem a pequena empresa
agrícola familiar e as formas de cooperação.
Pelo que diz respeito ás próximas negociações de Hong Kong sobre o comércio internacional
e dos produtos agrícolas, a Santa Sé – anunciou Bento XVI – faz votos que a prevalecer
responsavelmente, seja o sentido de solidariedade em relação a quem se encontra em
desvantagem, e que se abandonem interesses locais e lógicas de potência.
A vulnerabilidade do mundo rural – concluiu – tem repercussões sobre a subsistência
individual e das famílias dos pequenos agricultores, se lhes é negado o acesso ao
mercado. Agir coerentemente significa portanto reconhecer o papel insubstituível da
família rural, guardiã de valores e veiculo natural de solidariedade nas relações
entre as gerações.
A chefiar a delegação recebida em audiência no Vaticano era o presidente da Conferencia
da FAO Cao Duc Phat e o director geral da Fao Jacques Diouf. Estiveram presentes também
os Primeiros Ministros do Belize W. Musa, de Dominica Roosevelt Skerrit, de Grenada
Keith Mitchell, acompanhados pelo Observador Permanente da Santa Sé junto da FAO o
arcebispo Renato Volante