Perante o relativismo e individualismo dominantes Bento XVI apresenta Cristo como
modelo para um novo humanismo
Frente ao individualismo e ao relativismo dominantes, Bento XVI considera que os cristãos
têm a missão de apresentar Cristo como modelo para um novo humanismo.
O Papa apresenta esta proposta na mensagem que enviou por ocasião da Sessão Pública
anual das Academias Pontifícias, celebrada terça-feira passada, 15 de Novembro, na
Sala Nova do Sínodo no Vaticano.
Nesta sessão, o tema central «Cristo, Filho de Deus, homem perfeito, “medida do humanismo
verdadeiro”»- foi exposto pela Academia Pontifícia de São Tomás de Aquino e pela Academia
Pontifícia de Teologia.
Trata-se de um tema, como o próprio Papa reconheceu na sua carta, «que me interessa
particularmente, dado o seu carácter central e essencial tanto na reflexão teológica
como na experiência de fé de todo cristão».
«A cultura actual, profundamente marcada por um subjectivismo que muitas vezes desemboca
no individualismo extremo ou no relativismo, leva os homens a converter-se na única
medida de si mesmos, perdendo de vista outros objectivos que não estejam centrados
no próprio eu, convertido no único critério de avaliação tanto da realidade como das
próprias opções», afirmou.
Deste modo, constatou, o «homem tende a voltar-se cada vez mais para si mesmo, a fechar-se
num microcosmo existencial asfixiante, onde não há lugar para os grandes ideais, abertos
à transcendência, a Deus».
«Pelo contrário - sublinha a carta -, o ser humano que supera a sua individualidade
e não se fecha no recinto do seu egoísmo é capaz de olhar com autenticidade os demais
e a criação».
Deste modo, toma consciência da «sua característica essencial de criatura em contínuo
devir, chamada a um crescimento harmonioso em todas as suas dimensões, começando precisamente
pela interioridade, para chegar à realização completa desse projecto que o Criador
imprimiu no seu ser mais profundo».
«Algumas tendências ou correntes culturais tendem a deixar os homens num estado de
minoria de idade, de infância ou adolescência prolongada. A Palavra de Deus, pelo
contrário, leva-nos decididamente para a maturidade e convida-nos a comprometer-nos
com todas as nossas forças com um conceito elevado de humanidade ».
«Os verdadeiros discípulos do Senhor, longe de ficar no estado de criança levada por
qualquer vento de doutrina», afirmou o Papa mencionando a citação da carta de São
Paulo aos Efésios (4, 14) que o cardeal Joseph Ratzinger citou na homilia da missa
«pro eligendo Romano Pontífice», na abertura do conclave, «esforçam-se por chegar
“ao estado de homem perfeito, à maturidade da plenitude de Cristo”» (Efésios 4, 13)».
«Portanto, Jesus Cristo, Filho de Deus, entregue pelo Pai à humanidade para restaurar
a imagem desfigurada pelo pecado, é o homem perfeito, com o qual se mede o autêntico
humanismo ».
«Com ele tem de se enfrentar todo ser humano e para ele --com a ajuda da graça-- deve
tender com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças, para realizar plenamente
sua existência e responder com alegria e entusiasmo à altíssima vocação inscrita no
seu ser».
O Papa encomendou aos académicos que «promovam com entusiasmo a paixão, cada um no
seu campo de estudo e investigação, pela edificação deste novo humanismo».
«Tendes a tarefa de voltar a propor com a competência que vos corresponde a beleza,
a bondade, a verdade do rosto de Cristo, no qual todo o homem está chamado a reconhecer
as suas marcas mais autênticas e originais, o modelo que deve imitar cada vez melhor»,
indicou.
«Esta é, portanto, a vossa árdua tarefa, a vossa elevada missão: apresentar Cristo
ao homem de hoje como a autêntica medida da maturidade e da plenitude humana», concluiu.