IRLANDA: RELATÓRIO AMEAÇA HEGEMONIA DA IGREJA NO SISTEMA EDUCACIONAL
Dublin, 14 nov (RV) - Na Irlanda, um relatório independente, sobre casos de
abuso sexual contra crianças, cometidos por padres, levou membros do Parlamento a
pedir a ruptura das relações do governo com a Igreja Católica, e fez com que o Ministro
da Justiça prometesse buscar novas leis de proteção à criança e ao adolescente.
O
relatório, preparado por uma equipe nomeada pelo governo, acusa a hierarquia da Igreja
na Irlanda, de participar de um sistema que permitiu que predadores sexuais mantivessem
suas posições dentro da Igreja e, com isso, também seu acesso às vítimas.
Antes
de 1990, segundo os investigadores, a polícia relutava em apurar acusações de abuso
sexual por parte do clero, por temer desafiar a posição privilegiada das autoridades
católicas no país. A maioria das escolas na Irlanda é dirigida pela Igreja.
Por
quase três anos, a comissão, liderada por um juiz da Suprema Corte, recebeu mais de
cem acusações de abusos cometidos por 26 padres ao longo de 40 anos, numa única Diocese,
a de Ferns, sudeste do país.
A revolta que crescia na Irlanda desde o fim dos
anos 90 — quando denúncias de casos de abusos vieram à tona nos EUA e outros países
— atingiu seu ápice com a divulgação do relatório.
Na Arquidiocese de Dublin
estão sendo investigadas cerca de 60 denúncias sobre casos de abusos sexuais por parte
de membros do clero. Além disso, a opinião pública está debatendo a possibilidade
de se acabar com a hegemonia da Igreja Católica no sistema educacional irlandês: cerca
de 95% das escolas do ensino elementar irlandesas são financiadas pelo Estado, mas
administradas por autoridades católicas. (MZ)