2005-11-14 19:20:51

GRUPOS RELIGIOSOS DISPUTAM "MERCADO DE VALORES ESPIRITUAIS" NA AMÉRICA LATINA


Cidade do México, 14 nov (RV) - A América Latina transformou-se num "agitado mercado de valores espirituais", disputado por grupos cristãos e islâmicos, que buscam fiéis decepcionados com a Igreja Católica. Foi o que revelou à agência de notícias espanhola _ EFE _ a especialista mexicana, Sanjuana Martínez.

"Num mundo globalizado e de comércio aberto, as diversas confissões religiosas encontraram, na América Latina, um terreno fértil para disputar o suculento mercado dos "valores espirituais", tão rentável quanto o mercado econômico" _ enfatizou a especialista. Esse "mercado de valores espirituais" se evidencia especialmente em países como Brasil e México, de maioria católica, e onde se nota uma grande penetração da confissão protestante e da religião muçulmana, esclareceu Martínez.

Sanjuana Martínez, que é autora de vários livros, afirmou que o auge dos grupos não-católicos na América Latina _ o subcontinente com o maior número de fiéis da Igreja Romana _ se deve, entre outras razões, a "um cansaço" dos fiéis. A América Latina, "continente da esperança", corre o perigo de se tornar "continente das preocupações" por causa da incessante penetração de outras confissões, de outras religiões e até mesmo de seitas. A advertência é dos bispos católicos, segundo a pesquisadora. Nesse ritmo a Igreja Católica na região poderá sofrer um verdadeiro colapso nas próximas décadas.

Estima-se que a cada hora, 400 dos mais de 500 milhões de católicos latino-americanos abandonam a Igreja para abraçar outros credos, "que oferecem respostas imediatas e concretas às suas necessidades materiais e espirituais" _ disse Martínez.

A pesquisadora acredita que, além da atividade religiosa, vários desses grupos não-católicos, procedentes principalmente dos Estados Unidos, fazem também ativismo político nos diversos países da América Latina."A história demonstra que diversas confissões protestantes norte-americanas foram além de sua missão religiosa e cruzaram a fronteira da política latino-americana" _ enfatizou Sanjuana Martínez.

Segundo a escritora, o México é o país onde mais se evidencia a crescente disputa entre a tradicional e majoritária Igreja Católica e os grupos protestantes e muçulmanos procedentes do vizinho Estados Unidos, e da Europa.

Com 106 milhões de habitantes, 90% dos quais se declaram católicos, o México "está vivendo uma efervescência religiosa com matizes políticas e ilustra, talvez como nenhum outro país, a disputa do "mercado de valores espirituais"" _ segundo Martínez.

Chiapas, por exemplo, que se situa na região sul do México, com sua grande população indígena e sua situação de fronteira com a Guatemala, "vive neste momento, um verdadeiro "choque de civilizações", com os católicos tentando manter o poder e os protestantes e muçulmanos tentando conquistar mais almas" _ assegurou Martínez. Chiapas, cenário de desconfianças entre católicos e protestantes e fortaleza dos rebeldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), viu florescer, nos últimos anos, mesquitas e peregrinações islâmicas, sob o olhar atento do serviço secreto mexicano.

Os muçulmanos penetraram principalmente nas comunidades dos indígenas maias tzotzis, conhecidos no resto do país por seu fervor religioso e suas famosas festas. Mohammed Gutiérrez, um antigo fiel católico tzotzil, que em 2000 se converteu ao Islamismo, disse que seu grupo está-se expandindo em Chiapas "para levar a mensagem e a luz do profeta Maomé, e não para pensar em alguma "guerra santa"".

Gutiérrez disse que abandonou a Igreja Católica por sentir-se desprezado e não encontrar ali as respostas para suas necessidades. Acusou a Igreja Católica por seus "ritos intermináveis e dupla moral". (MZ)








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