GRUPOS RELIGIOSOS DISPUTAM "MERCADO DE VALORES ESPIRITUAIS" NA AMÉRICA LATINA
Cidade do México, 14 nov (RV) - A América Latina transformou-se num "agitado
mercado de valores espirituais", disputado por grupos cristãos e islâmicos, que buscam
fiéis decepcionados com a Igreja Católica. Foi o que revelou à agência de notícias
espanhola _ EFE _ a especialista mexicana, Sanjuana Martínez.
"Num mundo globalizado
e de comércio aberto, as diversas confissões religiosas encontraram, na América Latina,
um terreno fértil para disputar o suculento mercado dos "valores espirituais", tão
rentável quanto o mercado econômico" _ enfatizou a especialista. Esse "mercado de
valores espirituais" se evidencia especialmente em países como Brasil e México, de
maioria católica, e onde se nota uma grande penetração da confissão protestante e
da religião muçulmana, esclareceu Martínez.
Sanjuana Martínez, que é autora
de vários livros, afirmou que o auge dos grupos não-católicos na América Latina _
o subcontinente com o maior número de fiéis da Igreja Romana _ se deve, entre outras
razões, a "um cansaço" dos fiéis. A América Latina, "continente da esperança", corre
o perigo de se tornar "continente das preocupações" por causa da incessante penetração
de outras confissões, de outras religiões e até mesmo de seitas. A advertência é dos
bispos católicos, segundo a pesquisadora. Nesse ritmo a Igreja Católica na região
poderá sofrer um verdadeiro colapso nas próximas décadas.
Estima-se que a cada
hora, 400 dos mais de 500 milhões de católicos latino-americanos abandonam a Igreja
para abraçar outros credos, "que oferecem respostas imediatas e concretas às suas
necessidades materiais e espirituais" _ disse Martínez.
A pesquisadora acredita
que, além da atividade religiosa, vários desses grupos não-católicos, procedentes
principalmente dos Estados Unidos, fazem também ativismo político nos diversos países
da América Latina."A história demonstra que diversas confissões protestantes norte-americanas
foram além de sua missão religiosa e cruzaram a fronteira da política latino-americana"
_ enfatizou Sanjuana Martínez.
Segundo a escritora, o México é o país onde
mais se evidencia a crescente disputa entre a tradicional e majoritária Igreja Católica
e os grupos protestantes e muçulmanos procedentes do vizinho Estados Unidos, e da
Europa.
Com 106 milhões de habitantes, 90% dos quais se declaram católicos,
o México "está vivendo uma efervescência religiosa com matizes políticas e ilustra,
talvez como nenhum outro país, a disputa do "mercado de valores espirituais"" _ segundo
Martínez.
Chiapas, por exemplo, que se situa na região sul do México, com sua
grande população indígena e sua situação de fronteira com a Guatemala, "vive neste
momento, um verdadeiro "choque de civilizações", com os católicos tentando manter
o poder e os protestantes e muçulmanos tentando conquistar mais almas" _ assegurou
Martínez. Chiapas, cenário de desconfianças entre católicos e protestantes e fortaleza
dos rebeldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), viu florescer, nos
últimos anos, mesquitas e peregrinações islâmicas, sob o olhar atento do serviço secreto
mexicano.
Os muçulmanos penetraram principalmente nas comunidades dos indígenas
maias tzotzis, conhecidos no resto do país por seu fervor religioso e suas famosas
festas. Mohammed Gutiérrez, um antigo fiel católico tzotzil, que em 2000 se converteu
ao Islamismo, disse que seu grupo está-se expandindo em Chiapas "para levar a mensagem
e a luz do profeta Maomé, e não para pensar em alguma "guerra santa"".
Gutiérrez
disse que abandonou a Igreja Católica por sentir-se desprezado e não encontrar ali
as respostas para suas necessidades. Acusou a Igreja Católica por seus "ritos intermináveis
e dupla moral". (MZ)