CARDEAL MARTINI REVELA COMO CONVIVE COM O "MAL DE PARKINSON"
Milão, 14 nov (RV) - Seu segredo é buscar ajuda na oração de intercessão pelos
outros, empenhar-se no trabalho, fazer cinco mil passos ao dia, e ser pontual na hora
de tomar os medicamentos e na observância da dieta. Mas a música de Mozart é aquela
que lhe dá o justo ritmo para mover-se.
Enfermo entre os enfermos, o Cardeal
Carlo Maria Martini, Arcebispo emérito de Milão, hoje retirado em Jerusalém, revelou
a centenas de pessoas que sofrem da mesma enfermidade, como convive com o "mal de
Parkinson". E o fez sem reservas, sem medo de revelar sua vida privada.
A
ocasião foi a reunião dos membros da Associação Italiana de Parkinsonianos (AIP),
presidida por Gianni Pezzoli, Diretor do Centro Parkinson, de Milão, que está comemorando
15 anos de atividades. Há tempos, o médico pedira a seu mais ilustre paciente, que
desse um testemunho para ajudar os outros e fazer com que se conheça mais e melhor
essa enfermidade.
O Cardeal Martini chegou ao local quando a sala já estava
cheia. Cabeça erguida, como sempre, trajando "clergyman", bengala à mão direita, com
passo largo ("os médicos _ disse ele depois _ me aconselharam a dar passos largos,
movendo os braços para manter o equilíbrio") ele atravessou a sala. Depois falou de
sua enfermidade, que se tornou de domínio público pouco antes do último conclave,
quando se especulava sobre o verdadeiro motivo pelo qual ele não poderia ser considerado
um "papável".
Ele mesmo _ que agora vive retirado em Jerusalém, por sua própria
vontade _ explicou que hoje não teria mais condições de conduzir uma diocese grande
e importante como a de Milão, porque comporta um trabalho muito intenso que ele não
estaria mais em condições de realizar.
"Quando foi que me dei conta da doença?
Na verdade não fui eu, mas os outros, 10 ou 12 anos atrás, percebendo que quando eu
falava em público havia movimentos que eu não conseguia dominar. Depois percebi que
havia dificuldades para movimentar a perna" _ revelou o Cardeal.
"A coisa mais
incômoda _ repetiu diversas vezes, durante o encontro _ era a rigidez noturna dos
braços e pernas, que me impediam de dormir. Mas com os medicamentos, a dieta e a atividade
física que os médicos me prescreveram, todas essas manifestações da doença estão agora
sob controle, exceto _ precisou _ nos momentos de stress, quando o tremor das mãos
e das pernas, retornam."
O Cardeal Martini, que está para fazer 79 anos de
idade, vai para a cama cedo _ por volta de 21h30-22h _ mas também acorda muito cedo
_ em torno de 4h30. Estuda hebraico moderno, faz trabalhos de filologia e de crítica
de textos gregos antigos. "Isso me ajuda a ter a memória sempre em exercício" _ disse.
Cada
um encontra, no dia-a-dia, pequenos truques para administrar melhor a enfermidade:
"Como, por exemplo _ disse o Cardeal Martini _ a musica, que o ajuda a tomar o ritmo
para se mover: "Experimentei diversos tipos de música, mas a melhor acabou sendo a
de Mozart, porque tem ritmo e melodia." (MZ)