Cardeais em diálogo no congresso da nova evangelização em Lisboa
“A religião não é a raiz da violência. Através da fé podemos procurar a pacificação
do mundo” – disse esta manhã (12 de Novembro), nos Mosteiro dos Jerónimos, o arcebispo
de Paris, D. André Vingt-Trois, na mesa redonda com os cardeais do Congresso Internacional
para a Nova Evangelização (ICNE). Os congressistas bateram palmas mas o cardeal Schonborn,
arcebispo de Viena, pediu para “sermos reservados” porque “a Europa foi rasgada por
conflitos religiosos”. E adianta: “não esqueçamos o nosso passado”. Opiniões diferentes
de dois pastores que estão empenhados na Nova Evangelização. Ainda no plano do diálogo
inter-religioso, o arcebispo de Paris realça que “não é por um americano decretar
que há conflitos religiosos que eles passam a existir” mas para o cardeal Schonborn
“fomos nós que provocámos conflitos na Europa” e “exportámos esses conflitos”. O Arcebispo
de Viena disse ainda que João Paulo II pediu perdão aos judeus, “por aquilo que os
católicos fizeram”.
Depois de Viena (em 2003), Paris (2004), Lisboa acolhe, de 5 a 13 deste mês o ICNE
e passará o testemunho a Bruxelas que o realizará no próximo ano. Metrópoles europeias
preocupadas com a evangelização e o diálogo com outras religiões. No diálogo inter-religioso
“há algo em comum: a busca de Deus” mas este diálogo “supõe uma aprendizagem” – realçou
o Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Ao olhar para o pontificado do antecessor
de Bento XVI, o cardeal anfitrião do ICNE deste ano sublinhou: “João Paulo II abriu
portas que esperávamos há muitos séculos”.
Ao analisar os acontecimentos a decorrer em várias cidades francesas, D. André Vingt-Trois
disse que os actos de violência em Paris são de cariz social e não religioso”. Perante
estas “fraquezas da sociedade” – acrescenta o arcebispo da cidade Luz – “as religiões
têm o papel “de fazer a ponte e dialogar com a sociedade”. Só haverá “unidade entre
os povos se existir unidade na fé” – completou o arcebispo de Malines – Bruxelas,
Godfried Danneels – porque “o egoísmo compromete o diálogo” – finaliza D. José Policarpo. O debate dos divorciados recasados “não está fechado”
As questões da família e, em particular, a dos divorciados recasados também mereceram
a reflexão dos cinco cardeais presentes. Este tema foi reflectido no último sínodo
dos bispos, realizado em Roma, recentemente, e nas propostas (propositiones) da assembleia
sinodal referia-se que o documento sinodal reafirma a “tradição da Igreja” segundo
a qual os divorciados que voltaram a casar “não podem ser admitidos à santa Comunhão”
mas precisa que eles “continuam a pertencer à Igreja que os acolhe”. Para o cardeal
de Bruxelas esta questão “é difícil e dolorosa para os bispos e padres mas também
para os divorciados recasados”. Por isso “urge encontrar um caminho de misericórdia”
– reforça D. Godfried Danneels - porque a própria comunidade “também os exclui”. Como
Cristo “não fecha a porta a ninguém”, o debate “não está fechado” . E desabafa: “não
gostava de estar no papel do Papa”.
Um problema “complexo” até porque “as primeiras vítimas da ruptura são as crianças”
– avança o cardeal Schonborn. E pergunta: “que encorajamento faz a Igreja aos casais
que ficam junto por fidelidade?”. Os avanços na área legislativa “são notórios” mas
a sociedade “não é capaz de dizer para que serve o casamento” – denuncia D. André
Vingt-Trois. Transparência com a juventude
A juventude também marcou pontos neste congresso e recebeu palavras de alento dos
cardeais. “Temos de tratar os jovens como adultos” – disse D. Godfried Danneels. A
transparência é fundamental por isso “não devemos ter intenções escondidas” – reforçou.
Modelos de relacionamento da Igreja com os jovens sem esquecer que “o mundo actual
é muito competitivo” – alertou o bispo de Viena. E deixa uma mensagem aos presentes:
“um cristão nunca está sozinho”.
Num mundo “demasiado economicista”, D. André Vingt-Trois pede “um travão a esta economia”
e aos consumidores alerta: “têm de ter sentido de responsabilidade”. Posição corroborada
pelo arcebispo de Budapeste, D. Peter Erdo: “temos de ter uma acção directa para dignificar
a vida”. Posso responder daqui a uns anos?
Na recta final do diálogo, moderado por Fátima Campos Ferreira, a relação Igreja/cidade
esteve em destaque. As metrópoles nascem “ao ritmo da vida”. Neste sentido D. José
Policarpo encontra “momentos de grande beleza” na cidade de Lisboa mas lamenta que
“estejam a tirar a cidade ao peão”. “Muitas vezes temos de fazer excursões dolorosas
para ir daqui para ali” – critica. O urbanismo “não teve em conta a concepção da família”
porque foi “muito condicionado pela economia”.
Como ficará Lisboa depois destes dias de Congresso? A pergunta teve como resposta
outra questão: “posso responder daqui a uns anos?” – disse D. José Policarpo. E finaliza:
“evangelizar é conviver”