As problemáticas da eutanásia e do final da vida estiveram esta quinta feira em destaque
no ICNE, na conferência intitulada “A morte, último tabu, e o renascer da esperança”.
Isabel Galriço Neto, médica de cuidados paliativos e Assistente da Faculdade de Medicina
de Lisboa, referiu por repetidas vezes que a eutanásia não é a última resposta e que
os doentes merecem mais, por parte dos médicos, do que um simples “não podemos fazer
mais nada” quando a doença já não tem cura.
Esta especialista lembrou que a vida humana tem dignidade “mesmo quando precisamos
de alguém até para nos limpar as lágrimas” e criticou as correntes que consideram
a morte como uma espécie de “derrota” da ciência toda-poderosa.
“Apesar de todos os progressos da ciência, a morte continua a ser uma certeza para
cada ser humano”, sublinhou, contestando assim o chamado “direito a morrer”, dado
que este facto não é uma escolha.
"A maioria dos pedidos de eutanásia e de suicídio assistido têm que ver com perda
de dignidade, a perda de sentido da vida, por acharem que não vale a pena viver. Os
pedidos têm a ver muito mais, do que com a questão dos sintomas não controlados. E
só isto bastaria para que nós reflectíssemos sobre como ajudar as pessoas a encontrarem
um sentido e a recuperarem a sua dignidade", afirmou Isabel Neto.
O prolongamento da esperança média de vida tem levantado novos desafios, que a Igreja
também é chamada a responder. A qualidade “no final de vida e no morrer” é um dos
principais, sobretudo quando confrontados com a falta de estruturas “especificamente
preparadas para tratar doentes crónicos e em fim de vida”.
O primeiro passo é “controlar os sintomas”, porque segundo Isabel Neto, “se não removermos
determinadas condições físicas de sofrimento, dificilmente a pessoa doente se poderá
centrar nos aspectos mais profundos e transcenderes da busca de sentido”.
É nesta busca, em seguida, que o papel da espiritualidade pode ganhar importância:
“Encontrar um sentido para vida, mesmo quando se vive uma doença terminal, passa por
ter a convicção, por sentir que se está a cumprir um papel e um fim que são únicos,
numa vida que traz consigo a responsabilidade de ser vivida plenamente”, disse a especialista.
“É interessante ver que doentes com uma forte vivência espiritual e religiosa encaram
o fim de vida com mais serenidade. E isto está fundamentado", acrescentou.
Como resposta à eutanásia, Isabel Neto propõe a promoção de melhores cuidados paliativos,
que “afirmam a vida, mas defendem que ela não tem de ser mantida obstinadamente a
todo o custo, aceitando a morte como um processo natural”.
Os temas da vida já tinham estado em destaque na primeira conferência do ICNE, com
a conferência de Walter Osswald professor de Medicina e membro do Conselho Nacional
de Ética.
Numa intervenção subordinada ao tema “Problemática geral da cultura da vida”, Osswald
apresentou alguns desafios que são hoje levantados à ciência e à Igreja no campo da
bioética: o aborto, a eutanásia e a clonagem. O especialista começou por referir que
é possível encontrar pontos comuns entre crentes e não crentes sobre matérias morais
relacionadas com questões da vida humana.
“Mesmo entre os que defendem a despenalização, reconhece-se que o aborto deve ser
limitado, no tempo ou a determinadas condições”, referiu.
Walter Osswald criticou ainda a possibilidade de se abortar no entendimento de que
há vidas "mais valiosas do que outras", caso dos que têm deficiência e que são recusados.
“O cristão não pode ignorar as palavras do Mestre que disse ser o Caminho, a Verdade
e a Vida”, prosseguiu.
D. José Policarpo, ao lançar a sessão lisboeta do Congresso Internacional para a Nova
Evangelização, tinha anunciado que o tema central seria “Anunciar a Vida”, concretizando
o lema “Cristo Vivo” que anima toda a iniciativa.