TRABALHO ESCRAVO EM AUMENTO NA AMÉRICA DO SUL, AFIRMAM ESPECIALISTAS
Rio de Janeiro, 09 nov (RV) - As modernas formas de escravidão aumentaram em
vários países da América do Sul, com maior evidência no Brasil, Paraguai e Bolívia.
A afirmação foi feita ontem, por especialistas no assunto, no curso de seminário que
está se realizando no Rio de Janeiro.
"Pior que não conseguir trabalho é não
conseguir sair dele" _ diz um documento do "Seminário Internacional Trabalho Escravo
por Dívida e Direitos Humanos", patrocinado pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Na América Latina,
calcula-se que haja 1,2 milhões de pessoas submetidas a diferentes formas de trabalho
forçado, declarou à agência de notícias espanhola EFE, Eduardo Bedoya, investigador
da OIT. Essa escravidão moderna se diferencia da clássica, na qual o escravizador
não é dono da pessoa, mas de seu tempo. "A servidão por dívida é um caso típico, que
ocorre nas sociedades rurais latino-americanas" _ explicou o antropólogo Bedoya.
Na
região, há um destaque para a Bolívia, com casos "perversos" no corte de madeira,
extração de castanhas e na safra de cana-de-açúcar. Nesse país, ademais, há "comunidades
cativas" no Chaco, com cerca de 12 mil pessoas confinadas em fazendas, pagando dívidas
que não são próprias, com uma jornada de trabalho superior a 12h/dia, informou Bedoya.
"São dívidas pagas por pais, mães e filhos, às vezes herdadas, e as pessoas ainda
são castigadas com chicotadas", acrescentou.
No vizinho Peru, a OIT calcula
que, aproximadamente, 16 mil pessoas são escravizadas na exploração da madeira de
lei, e no Chaco paraguaio há milhares de pessoas em fazendas de gado. "O trabalho
forçado e exploração extrema como relações trabalhistas foram novamente ativados",
afirmou o investigador.
No Brasil, a Pastoral do Migrante, da Igreja Católica,
calcula que aproximadamente 12 mil bolivianos em situação irregular poderiam estar
trabalhando em fábricas em São Paulo, afirmou o sacerdote francês P. Xavier Jean Marie
Plassat, coordenador de uma campanha contra o trabalho escravo no campo, no âmbito
da Pastoral da Terra, em andamento em vários estados brasileiros.
Segundo o
governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mantém uma campanha nacional
contra esta exploração, no meio rural brasileiro há pelo menos 25 mil escravos modernos.
P. Plassat confirma essa cifra, mas assinala que esse conceito de escravidão reserva
aos casos de trabalho degradante "com alguma forma de cerceamento da liberdade".
"É
evidente que o trabalho escravo não será erradicado até o final de 2006", como prometeu
Lula quando assumiu a presidência do Brasil, mas se avançou no reconhecimento do problema,
acrescentou P. Plassat. 70% dos escravos rurais estão nas fazendas de gado e no desmatamento
da selva amazônica. Também há escravos na indústria agrícola do algodão, do café,
da cana-de-açúcar, do feijão e do tomate, explicou o sacerdote.
Para o investigador
Ricardo Rezende, coordenador do Grupo de Pesquisas do Trabalho Escravo Contemporâneo,
da UFRJ, esse é um problema internacional que afeta países ricos e pobres. No Brasil
há ainda escravos africanos e asiáticos, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e
Salvador, segundo os investigadores. (MZ)