Brasília, 09 nov (RV) - A Europa precisa de paz entre cristãos e muçulmanos,
para ser uma sociedade viável, declarou nesta terça-feira, em Brasília, o Alto Comissário
das Nações Unidas para Refugiados, Antônio Guterres.
"Se não houver políticas
ativas extremamente eficazes, e sem um grande envolvimento da sociedade, é fácil surgirem
situações de desenraizamento, nas quais a pessoa não se sente ligada a nenhuma identidade,
nem à sua comunidade de origem, nem à sua nova Pátria", sublinhou Guterres, alertando
para o "complexo problema relacionado com a integração da segunda geração de imigrantes",
que se vive hoje, na Europa.
Acerca dos violentos tumultos que, há 12, vêm
se registrando nos bairros pobres de várias cidades francesas, Guterres afirmou que
eles são um exemplo de uma problemática mais geral, de intolerância, muitas vezes
ampliada por fatores econômicos e situações de pobreza e de exclusão.
"Há aqui
uma questão central, que é o respeito pelo outro", disse, alertando que "quando o
medo é utilizado para ganhar votos, há o risco de a opinião pública ser totalmente
contaminada pela irracionalidade".
Na opinião de António Guterres, "o conjunto
de valores que vem da tradição do Iluminismo, particularmente na Europa, foram postos
em causa".
Questionado sobre a possibilidade de a agitação social na França
poder"contagiar" Portugal, Guterres respondeu que esse é um problema universal e que
pode acontecer em qualquer parte. Nessas situações, as pessoas tornam-se "presa fácil
de qualquer extremismo", mas _ advertiu _ "misturar refugiados e terrorismo é uma
mistificação que é preciso combater".
"Quando se exploram esses sentimentos
para efeitos políticos e mediáticos, deve-se ter a consciência de que se está brincando
com fogo. O que está em causa é a coesão das nossas sociedades e a paz entre os povos"
_ afirmou. (MZ)