O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Angelo Sodano, reafirmou esta terça feira
à noite que a Santa Sé está "pronta a dialogar" com a China, apelando a Pequim que
respeite a "liberdade religiosa" no interior das suas fronteiras.
"A Santa Sé sempre disse que está pronta a dialogar, pronta para contactos e pronta
a explicar as suas tradições" à China, afirmou o Cardeal Sodano, à margem da inauguração
de um novo centro de congressos da Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma. O Secretário
de Estado do Vaticano frisou que qualquer possibilidade de contacto seria aproveitada
“de imediato”, mas não admite que a Santa Sé seja tratada de forma diferente “dos
outros Estados” por Pequim.
Sobre os problemas da liberdade religiosa, o Cardeal Sodano adianta que “a Igreja
é una, no Mundo inteiro, em todas as culturas e em todas as nações. E os governos
civis não têm o direito de dizer aos homens e às mulheres de que forma devem viver
a sua fé".
"Trata-se de um direito à liberdade religiosa de cada homem, que está inscrito na
Declaração Universal dos Direitos do Homem e na história do povo chinês, que tanto
ama a liberdade", acrescentou.
O governo chinês cortou relações com o Vaticano em 1951, dois anos após a subida do
Partido Comunista ao poder. A Santa Sé mudou então a sede de Pequim para Taipé e é
um dos 25 países do mundo que mantém relações diplomáticas com Taiwan, em detrimento
da China.
Bento XVI convidou quatro Bispos chineses para o Sínodo, concluído no último Domingo
- três da Igreja oficial e um da Igreja "clandestina" -, mas nenhum obteve autorização
das autoridades chinesas para se deslocar ao Vaticano. "Os Bispos do Mundo inteiro
ficaram tristes” com esta ausência, afirmou o Cardeal Sodano.
O convite de Bento XVI foi o último dos vários sinais demonstrativos da intenção do
Papa em aproximar-se do gigante asiático. A Igreja clandestina na China, fiel ao Papa,
é formada por católicos que não aceitam o controlo exercido pelo governo comunista.
Embora o Partido Comunista Chinês se declare oficialmente ateu, a Constituição chinesa
permite a existência de cinco Igrejas oficiais (Associações Patrióticas), entre elas
a Católica, que tem 5,2 milhões de fiéis. Segundo fontes do Vaticano, a Igreja Católica
“clandestina” conta mais de 8 milhões de fiéis, que são obrigados a celebrar missas
em segredo, nas suas casas, sob o risco de serem presos.
Vários contactos informais têm sido desenvolvidos desde que Bento XVI sucedeu a João
Paulo II, fazendo do estabelecimento de relações diplomáticas com a China uma das
suas prioridades. A Associação Patriótica Católica, contudo, vê esses novos elementos
de diálogo entre a China e o Vaticano como um perigo para a organização.
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