Igreja iraquiana pede respeito pelo direito internacional
A Igreja Católica no Iraque espera que o julgamento de Saddam Hussein, que começou
hoje em Bagdad, decorra “no pleno respeito pelo direito internacional”.
Para o Bispo auxiliar da capital iraquiana, D. Shlemon Warduni, a demora no início
deste processo serviu para acentuar divisões no país. “Há muitos opositores de Saddam,
que fez muito mal, mas ainda há quem o apoie. Deveria ter sido julgado imediatamente”,
sustenta o Bispo caldeu.
Acusado de vários crimes de guerra e crimes contra a humanidade, Saddam, que partilha
o banco dos réus com sete outros antigos dirigentes, começou hoje a responder pela
morte, em 1982, de 143 aldeões xiitas.
Outra questão que preocupa o episcopado iraquiano é a futura Constituição do Iraque,
referendada a15 de Outubro passado. Para a Igreja Católica, tudo indica que o país
esteja agora um passo mais perto de tornar-se um Estado islâmico intolerante com os
não-muçulmanos.
Esta semana, numa entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, D. Andréas Abouna,
auxiliar do Patriarca de Bagdad, disse que os líderes iraquianos tinham ignorado os
receios da Igreja e que, como tal, os Bispos admitem a hipótese de pedir a intervenção
do Papa, em seu nome.
O problema reside numa contradição fundamental que, segundo o Bispo, se pode encontrar
na Constituição: os artigos 2.1 (b) e 2.2. defendem os direitos de liberdade e direitos
religiosos, mas o artigo 2.1 (a) diz: “Não se pode aprovar nenhuma lei que entre em
contradição com as leis do Islão”.