SÍNODO: TRABALHOS SINODAIS ENTRAM NA FASE DE APROFUNDAMENTO NOS CÍRCULOS MENORES
Cidade do Vaticano, 12 out (RV) - Prosseguem, no Vaticano, os trabalhos da
XI assembléia geral do Sínodo dos Bispos. Na 15ª congregação geral, realizada esta
manhã, os padres sinodais abordaram temas como o desapego dos cristãos pela celebração
eucarística. Um desapego que deve ser combatido _ defenderam eles _ insistindo na
formação dos fiéis.
O representante do Vaticano, Cardeal Attilio Nicora, Presidente
da APSA (Administração do Patrimônio da Sé Apostólica), falou do valor teológico da
oferta dos fiéis para a celebração eucarística. Com a diminuição desse costume, perdemos
uma oportunidade _ disse o purpurado _ de fazer crescer o sentido da participação,
tanto material quanto espiritual, na Eucaristia e no dinamismo de caridade que dela
deriva.
Um bispo de Malta falou sobre o tema "da celebração à adoração". O
prelado falou do perigo de se dissociar a adoração e as devoções eucarísticas da própria
celebração da Eucaristia. Os primeiros cristãos adotaram o sacrário apenas para conservar
as espécies sacramentais a serem levadas depois aos enfermos e encarcerados. A celebração
da Eucaristia é o centro de toda a vida cristã e na Igreja tudo deriva dela e a ela
conduz.
Um bispo da Polônia, a partir de sua experiência do caminho neocatecumenal,
falou da linguagem dos sinais junto à Palavra na comunicação do Mistério. O bispo
chamou a atenção dos padres sinodais sobre o perigo de abusos na utilização dos sinais
na Eucaristia. Para ele não existe sinal mais eloqüente do que a "fração do pão".
O
Superior-geral dos Passionistas falou sobre a presença real de Jesus na Eucaristia,
sobre os aspectos de sacrifício, memorial e refeição, e sobre Maria, como "Mulher
eucarística". A memória da Paixão, que se atualiza na Eucaristia, é o coração do mistério
pascal. Com Cristo, na Eucaristia, morre toda a humanidade, e com ela todo o cosmos.
Na Eucaristia, Jesus está presente na totalidade de seu mistério: encarnação, paixão,
morte e ressurreição. Podemos então invocar Maria como Mãe da Eucaristia?
Outro
prelado polonês abordou a questão da espiritualidade eucarística dos bispos, sacerdotes
e seminaristas. Sua afirmação é que o sacerdócio é um sacramento de ação. É o sacramento
do ato salvífico e redentor de Cristo. O sacerdote deve imitar a Eucaristia que celebra:
assim, se torna testemunha de Cristo eucarístico. A espiritualidade do sacerdote deve
ser uma espiritualidade eucarística: deve ser holocausto oferecido pelos outros.
Por fim, merece destaque o pronunciamento do Bispo da Anatólia, Turquia. Anatólia,
disse ele, foi o palco da primeira expansão da mensagem de Jesus e na qual os cristãos
hoje são bem poucos. Na cidade de Tarso, por exemplo, os únicos cristãos são três
religiosas que acolhem os peregrinos. Para celebrar a missa, elas usam a única igreja-museu
que sobrou, e ainda assim, somente com permissão. O Bispo citou Dom von Galen e Dom
Oscar Romero como testemunhas da estreita ligação entre o memorial do sacrifício de
Jesus e aqueles que encontraram a razão e a força de um anúncio feito com inteligência
e coragem, e sem reticências.
Na parte da tarde, a 16ª congregação geral introduziu
os trabalhos sinodais numa nova fase. Durante uma hora e meia, aproximadamente, o
Relator-geral do Sínodo, Cardeal Angelo Scola, Patriarca de Veneza, leu, em latim
a "Relatio post disceptationem" (Relatório pós-discussão).
O texto _ em latim
e italiano _ foi distribuído a todos os presentes, para que acompanhassem sua leitura.
Este relatório sintetiza as quase 230 intervenções dos padres sinodais, enriquecidas
com as 150 reflexões, sugestões, troca de idéias e perguntas levantadas na discussão
livre de todas as tardes, as contribuições dos auditores, dos delegados fraternos
e com as apresentações e comunicados para a celebração dos 40 anos do Sínodo.
Tudo
isso representa uma primeira resposta ao convite de João Paulo II, que convocou este
Sínodo, e de Bento XVI, que o confirmou. Esse relatório foi ainda corroborado pelo
clima fraterno e colegial instaurado dentre os padres sinodais e pelo testemunho expresso
por tantos deles. Cada padre sinodal pôde falar com grande liberdade e franqueza,
expressando assim suas idéias, mesmo quanto aos temas mais delicados.
Agora
esse relatório será encaminhado aos círculos menores, que deverão aprofundá-lo. O
relatório consta de duas partes, além, é claro, de uma introdução e uma conclusão.
Na
introdução aparece o desejo dos padres sinodais de superar os dualismos. Segue a primeira
parte intitulada: Educar o Povo de Deus para a fé na Eucaristia. A segunda parte tem
por título: A ação eucarística.
Na primeira parte encontramos cinco pontos:
a novidade do culto eucarístico; a fé eucarística; Eucaristia e sacramentos; Eucaristia
e povo sacerdotal; e Eucaristia e missão. Já a segunda parte se articula em quatro
pontos: em fidelidade à reforma litúrgica; a estrutura da celebração litúrgica; a
arte de celebrar; e uma participação ativa.
A partir de amanhã os membros do
Sínodo dedicar-se-ão ao aprofundamento dos diversos temas em círculos menores. Para
tanto, ao final do relatório estão 17 questões centrais. Cada questão se subdivide
em diversas outras, para melhor compreensão da temática.
Terminada a leitura
do relatório, vários auditores fizeram uso da palavra; desta vez, foi a oportunidade
de várias mulheres _ leigas e religiosas _ presentes ao Sínodo, oferecerem também
sua contribuição e seu testemunho. (RL/MZ)