Luanda, 12 out (RV) - A Igreja Católica em Angola vive momentos difíceis, por
um movimento de rebeldia na Diocese de Cabinda, extremo norte do país, cujo clero
e fiéis se negam a aceitar o novo Bispo nomeado por João Paulo II, Dom Filomeno Viera
Dias, nascido em Luanda e parente do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Os
fiéis e o clero de Cabinda _ um território separado do resto de Angola, ao norte do
rio Congo, e que alimenta ideais de independência _ vêem com desconfiança o novo Bispo.
O Vigário-geral de Cabinda, Mons. Casimiro Congo, foi suspenso de seu cargo pela Nunciatura
Apostólica, por alimentar esse sentimento de independência.
O episódio mais
grave desta crise teve como protagonistas o recém-nomeado Administrador Apostólico
de Cabinda, Eugenio del Corso, que foi agredido por fiéis, na Igreja da Imaculada
Conceição. O representante apostólico fora a Cabinda para convencer os fiéis a aceitarem
o novo Bispo. A agressão de que foi vítima implicou na suspensão de Casimiro Congo
de suas funções, visto que ele foi responsabilizado pelo incidente.
Além do
mais, a Igreja da Imaculada Conceição foi fechada ao culto, até que se cumpra o rito
de desagravo previsto pelo Código de Direito Canônico, por ter o local sido palco
de um ato de violência.
A Conferência Episcopal Angolana divulgou uma nota
na qual lamenta a situação na Diocese de Cabinda e acusa o clero local de "manipular
os fiéis" para que eles se coloquem contra a Igreja. O Episcopado nega ter sofrido
qualquer tipo de pressão para que Dom Filomeno fosse nomeado e sustenta que sua nomeação
foi uma decisão de João Paulo II, falecido em 2 de abril passado.
A rebelião
do clero e dos fiéis de Cabinda vem sendo observada com imparcialidade pelo governo
de Angola, que tem se mantido à margem da questão.
A título de curiosidade:
em Cabinda se produz 60% do petróleo que Angola exporta, principalmente para os Estados
Unidos. A população local vive numa situação de saúde bastante grave, devido à contaminação
das águas do mar, por parte da indústria petroleira, que afetou fortemente, também
um dos maiores setores da economia local, que é a pesca. (AF)