Madri, 11 out (RV) - Fr. Betto recebeu um prêmio, nesta segunda-feira, na Espanha,
e aproveitou a ocasião para dizer que, apesar de a fome ser a maior causa de mortes
no mundo, não há mobilizações contra ela, porque o fenômeno só acaba com a vida dos
pobres. "A fome _ alertou o dominicano _ é o único fator de mortalidade que faz distinção
de classes, e só os miseráveis morrem de fome."
Fr. Betto, que foi assessor
do governo brasileiro para o programa "Fome Zero", recebeu o Prêmio Internacional
Advogados de Atocha, das mãos do Presidente do governo regional de Castela La Mancha,
José María Barreda.
Com esse galardão, o governo da região espanhola distingue
pessoas que se esforçam, diante de dificuldades ou violência, para permitir o exercício
das liberdades públicas, o respeito pelos direitos humanos e a plena implantação da
democracia.
Fr. Betto, que foi preso durante a ditadura militar no Brasil,
lembrou que 20% da população controla 80% da riqueza do planeta, e pediu que fosse
feito maior esforço para olhar o mundo do ponto de vista dos mais pobres.
Ele
afirmou que um problema social só é solucionado quando se transforma em político,
como ocorreu com a escravidão, que existiu oficialmente durante 358 anos no Brasil,
e a tortura, que "foi praticada por todos os governos, reinados e Igrejas".
Fr.
Betto espera que, um dia, aconteça o mesmo com a fome e a miséria, principal fator
de morte no mundo. Dos 6 bilhões de habitantes do planeta, 4 bilhões vivem abaixo
da linha de pobreza, com um orçamento mensal de até 60 dólares.
Acrescentou
que a pobreza "é um problema de justiça", pois, segundo a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são produzidos no planeta, alimentos para
11 bilhões habitantes.
Segundo Fr. Betto, "o mundo só conhecerá a paz, quando
esta for filha da justiça e não enquanto se tentar impô-la com as armas" como, segundo
afirmou, pretende o Presidente norte-americano, George W. Bush.
O dominicano
disse ainda que, embora compartilhar o pão seja fácil, torna-se muito difícil porque,
hoje em dia, muitos querem "acumular a riqueza e defender o mercado". Ele acrescentou
que, atualmente, em grande parte do mundo, se luta não por direitos humanos, mas por
direitos "animais", como comer e se abrigar das intempéries.
No Brasil,
7,5 milhões de famílias são atendidas pelo "Fome Zero", um programa que, segundo Fr.
Betto, "não é assistencialista", pois consiste em 60 políticas públicas para ajudar
as pessoas a passarem da exclusão à inclusão social. (SP)