BISPO DE BARRA SUSPENDE GREVE DE FOME EM DEFESA DO "VELHO CHICO"
Barra, 07 out (RV) - O Bispo de Barra, Dom Luiz Flávio Cappio, suspendeu a
greve de fome que vinha fazendo, contra o projeto de transposição das águas do rio
São Francisco. Dom Cappio tomou a decisão na tarde de ontem, depois de uma conversa
de mais de três horas com o Ministro das Relações Institucionais, Jacques Wagner,
enviado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para tentar uma solução para o
caso.
Cerca de 200 pessoas aguardavam, do lado de fora, o resultado do encontro.
Alguns fiéis rezavam e cantavam hinos religiosos. Índios das tribos "trucá" e "tumbalalá",
vestidos com trajes típicos, dançavam próximos à capela.
A carta de Lula a
Dom Cappio, levada pelo Ministro, incluía quatro propostas para fazer o religioso
desistir da greve de fome: o prolongamento do diálogo sobre o São Francisco; o compromisso
de prioridade para revitalização e saneamento; o empenho na liberação de R$ 350 milhões
para a revitalização do rio; e a discussão do assunto numa audiência com o Presidente
Lula, em Brasília, que o Bispo disse não saber quando será.
A greve de
fome de Dom Luiz Flávio Cappio dividiu a Igreja: o Presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Majella Agnelo, chegou a pedir o adiamento
da obra. Mas os bispos de quatro estados do Nordeste _ Alagoas, Pernambuco, Rio Grande
do Norte e Paraíba _ criticaram Dom Cappio.
O Vaticano teria enviado, por
meio do Núncio, Dom Lorenzo Baldisseri, uma carta ao Bispo de Barra, com um apelo
para que ele suspendesse o protesto, mas avisou que não interferiria em questões próprias
do governo brasileiro.
O Secretário-geral da CNBB, Dom Odilo Scherer, declarou
que o Brasil inteiro poderia debater o projeto de transposição. Que a causa de Dom
Luiz Cappio é justificada, mas que a Igreja não concordava com uma greve de fome até
à morte.
Dom Odilo disse esperar que outros membros do clero não sigam
o exemplo de Dom Luiz: "Sinceramente _ disse _ espero que essa moda não pegue."
Segundo
ele, é possível tirar uma lição positiva do protesto de Dom Luiz, como a maior divulgação
do projeto de transposição das águas do rio São Francisco e a retomada do debate de
uma questão complexa. Para Dom Odilo, a partir do debate, será possível construir
um projeto que atenda as populações carentes da região _ seja os ribeirinhos seja
os habitantes do semi-árido.
Dom Luiz Flávio Cappio, que perdeu quatro
quilos durante os 11 dias de greve de fome, e estava visivelmente exausto, ainda participou
de uma missa de ação de graças, na Igreja da Sagrada Família, no centro de Cabrobó,
com a presença de autoridades religiosas, inclusive o Núncio Apostólico no Brasil,
Dom Lorenzo Baldisseri. Só depois, às 20h20, ele foi levado para o hospital local,
onde recebeu soro. (CM)