O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Geraldo
Majella Agnelo, manifestou a sua preocupação com a onda de violência que se abateu
sobre as populações indígenas na região da Raposa-Serra do Sol, em Roraima.
O presidente da República do Brasil, Lula da Silva, homologou, a 15 de Abril, o decreto
que entrega aos índios a terra que habitam há séculos. “Foi uma grande vitória, fruto
da organização dos indígenas por mais de três décadas, e, por isso, a comemoração
é extensa”, sublinha o Cardeal Agnelo.
A decisão foi celebrada pelos cinco povos que vivem na terra indígena em Raposa Serra
do Sol, mas desagradou aos rizicultores que, na década de 90, se instalaram na terra,
então já identificada como indígena. O presidente da CNBB elenca uma séria de actos
violentos: na madrugada de 17 de setembro deste ano, os fazendeiros reagiram aos festejos
queimando o Centro de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol. Um grupo de 150 homens
armados destruiu uma igreja, um hospital e uma escola; feriu um professor e um homem
que estava a ser removido por uma ambulância e assustou cerca de 30 alunos que dormiam
na escola.
“Infelizmente, a situação é recorrente: segundo informações da Polícia Federal, este
mesmo grupo é responsável pelo incêndio de três comunidades e pelo sequestro de três
missionários católicos, realizados em 2004”, lamenta o Cardeal Agnelo.
Em Janeiro deste ano, o presidente e o vice-presidente da CNBB estiveram no local,
avaliando o trabalho desenvolvido pela Igreja junto das populações. Agora, o Cardeal
Geraldo Majella Agnelo afirma que “a pressão dos arrozeiros tem como objectivo assustar
indígenas e missionários que os apoiam. Tem também o intuito de pressionar o governo
Federal a negociar terras da União que são exigidas pelos fazendeiros como indemnização
pela homologação da Raposa Serra do Sol”.
“Para a CNBB, é essencial que os responsáveis por estes crimes sejam identificados
e presos. A CNBB volta a afirmar o seu posicionamento ao lado dos indígenas e, mais
uma vez, conclama o Estado brasileiro a colocar-se em defesa dos sectores excluídos
da nossa população”, conclui o documento.