Beatificado o cardeal Clemens Von Galen que se opôs ao nazismo com coragem
O Cardeal D. José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos,
presidiu neste domingo à missa de beatificação do Cardeal Clemens August Von Galen
(1878-1946), forte opositor do nazismo. A celebração teve lugar durante a manhã na
Basílica de São Pedro tendo Bento XVI marcado presença, após o final da missa, para
venerar as relíquias, saudar os presentes e dar a sua bênção apostólica.
Como foi recordado na homilia o Cardeal Von Galen ficou conhecido como o “leão de
Munique” pela sua oposição aos programas de eutanásia e de perseguição aos judeus
da parte do nazismo.
D. José Saraiva Martins salientou que o novo beato pôde fazer aquilo que fez somente
graças a uma espiritualidade profunda e ao mesmo tempo muito simples, claramente baseada
na Eucaristia e na devoção à Mãe de Deus.
Em contraste com os sons ensurdecedores da musica marcial e das frases vazias dos
alto-falantes provenientes das tribunas oratórias , ele contrapôs a veneração da
Santa Eucaristia, a silenciosa adoração contemplativa do Senhor que se fez pão. Diante
do Senhor presente sacramentalmente no pão eucarístico, aparentemente indefeso e tão
pouco reconhecível, ele encontrou a força e nutrimento, os únicos que podiam encher
de maneira duradoira o desejo de vida dos homens. A força unificadora da vida espiritual
do novo beato -disse o Cardeal Saraiva Martins - foi a sua fé profunda, viva, vivificada
por uma caridade operante para com todos, especialmente os sofredores. A sua espiritualidade,
inspirada no Evangelho, permitiu a von Galen ser transparente no seu papel público.
Na sua homilia o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos recordou que desde
o inicio da sua actividade pastoral em Munique, o bispo von Galen tinha desmascarado
a ideologia nazista e o desprezo que ela tinha pelos homens.
Em pleno tempo de guerra, isto é no verão de 1941, criticou-a ainda com maior dureza
em três pregações nos meses de Julho e Agosto daquele ano. Pronunciou-se contra o
encerramento forçado dos conventos e a prisão dos religiosos; contra a deportação
e destruição daquelas vidas humanas das quais o regime afirmava que não eram dignas
de ser vividas, isto é os deficientes mentais.
São palavras - salientou o Cardeal D. José Saraiva Martins - que nos convidam a nós
que vivemos em tempos talvez aparentemente menos ameaçadores, mas não menos problemáticos
em relação à vida humana, a imitar o seu exemplo.
No final da celebração, como dissemos, Bento XVI desceu dos seus aposentos à Basílica
onde venerou as relíquias do novo beato, e antes de dar a sua bênção apostólica dirigiu
aos presentes breves palavras salientando que o Senhor deu ao novo bem-aventurado
uma coragem heróica para defender os direitos de Deus, da Igreja e do homem, que o
regime nacional-socialista violava de maneira grave e sistemática em nome de uma aberrante
ideologia neo-pagã. Hoje a sua beatificação apresenta-o como modelo de fé profunda
e intrépida.