Sinodo dos Bispos: uma leitura diversificada da situação eclesial
A presença de 256 Bispos, procedentes de 118 países, no Sínodo dos Bispos que decorre
no Vaticano até ao próximo dia 23, tem permitido uma leitura diversificada da situação
eclesial – estimulada pelas primeiras intervenções do próprio Papa Bento XVI, que
falava na “legítima diversidade” na vivência da fé.
Ao longo das congregações gerais, os vários intervenientes têm partido do tema genérico,
“Eucaristia: fonte e cume da vida da Igreja”, para lançar um olhar sobre o mundo contemporâneo.
Nele detectam a perda do sentido do sagrado, a crise de valores, a secularização,
a destruição da natureza, as injustiças e desigualdades sociais, que desafiam a Igreja.
A estas questões juntam-se questões internas, de não menor importância, como as falhas
na vida litúrgica e na celebração do Domingo, a crise de vocações, a situação dos
divorciados, as dificuldades no ecumenismo, a falta de compreensão do mistério eucarístico,
a incapacidade de transformar o homem.
O desafio de renovação é imenso e essa perspectiva é partilhada pelos padres sinodais,
que esperam definir orientações pastorais comuns, capazes de apontar caminhos de resposta
às perguntas difíceis que ora se colocam. Os participantes no Sínodo sentem que a
Eucaristia é, cada vez mais, um acontecimento sem impacto maior na vida das pessoas
e que esse facto destrói a relação concreta entre o quotidiano e aquilo que se celebra.
Esta ligação das questões sociais à vida dos fiéis marcou a intervenção do sucessor
de Joseph Ratzinger à frente da Congregação para a Doutrina da Fé. O Arcebispo William
Joseph Levada frisou que o voto em políticos que apoiem o aborto “é pecado”, escolhendo
este exemplo para iluminar a relação entre a Eucaristia e a Moral.
A reflexão sobre os temas sociais já levou um Bispo peruano a exigir uma “conversão
ecológica”, explicando que a Igreja é uma “fonte de valores”, nascidos da Eucaristia,
devendo anunciar a salvação para os homens e para o mundo.
A hora diária de debate livre, uma inovação introduzida neste Sínodo por Bento XVI,
permite aos padres sinodais abordar um leque de assuntos muito maior do que os contidos
no “Instrumento de Trabalho” previamente distribuído.
O desenrolar dos trabalhos, que decorrem à porta fechada, é dado a conhecer pela Santa
Sé, através de boletins divulgados duas vezes por dia.
Números
Neste Sínodo dos Bispos participam 256 padres sinodais, procedentes de 118 países.
Trata-se do número mais alto de participantes numa assembleia sinodal. No Sínodo de
2001, por exemplo, participaram 247 padres sinodais.
Dos 256 padres sinodais, 177 são eleitos, 39 participam por direito próprio, 40 são
nomeados pelo Papa. Por outro lado, há 55 Cardeais, 8 Patriarcas, 82 Arcebispos, 123
Bispos, 36 Presidentes das Conferências Episcopais e 12 Religiosos.
Os padres sinodais procedem de todos os continentes: 50 da África, 59 da América,
44 da Ásia, 95 da Europa e 8 da Oceania.
Há também 32 Especialistas e 27 Ouvintes, procedentes dos cinco continentes. 12 Igrejas
e comunidades eclesiais foram convidadas a enviar representantes a este Sinodo.
No calendário dos trabalhos estão previstas 23 Congregações gerais e 7 sessões para
os Círculos menores. Considerando que o Sínodo durará três semanas e que o número
de participantes é muito alto, foi necessário encurtar o tempo das intervenções dos
padres sinodais de 8 para 6 minutos e reduzir o número das sessões dos Círculos menores.
Os presidentes delegados para o Sínodo são o Cardeal Francis Arinze, prefeito da Congregação
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; o Cardeal Juan Sandoval Íñiguez,
Arcebispo de Guadalajara (México); o Cardeal Telesphore Placidus Toppo, Arcebispo
de Ranchi (Índia). O seu papel será o de presidir a toda a sessão do Sínodo episcopal,
numa ordem estabelecida pelo Papa, que também confirmou como relator geral o Cardeal
Angelo Scola, Patriarca de Veneza (Itália), e como secretário especial D. Roland Minnerath,
Arcebispo de Dijon (França).
Ao relator geral do Sínodo corresponde sintetizar os pontos convergentes surgidos
da primeira fase sinodal - as intervenções dos seus participantes - para serem discutidos
na segunda fase, durante a qual todos os padres sinodais se dividem em pequenos grupos.
Na terceira fase, o relator geral e o secretário especial recolhem, em diferentes
fases, a lista de propostas que os padres sinodais votam e que no final do Sínodo
são entregues ao Papa.
Assim, no dia 3 de Outubro o Cardeal Scola apresentou o relatório que precede a discussão
e apresentará, no próximo dia 12, a “Relatio post disceptationem” (relatório após
a discussão). A 22 de Outubro será apresentado o “Elenchus finalis”, que recolhe as
propostas do Sínodo. Estas propostas constituem a base para a redacção da exortação
apostólica que o Papa escreve como conclusão dos Sínodos.