Barra, 03 out (RV) - O Bispo de Barra (a 610 km de Salvador, Bahia), Dom Luiz
Flávio Cappio, que entra hoje no oitavo dia da greve de fome contra o projeto de transposição
do rio São Francisco, recebeu, no último sábado, uma carta do Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, entregue pelo assessor da presidência, Selvino Reck.
Na carta,
o Presidente Lula teria dito que o governo já está trabalhando na questão da revitalização
do rio São Francisco. Depois de ler o texto, Dom Luiz escreveu, de próprio punho,
uma resposta ao Presidente Lula, cujo conteúdo não quis divulgar.
Sempre
no sábado, Dom Luiz concelebrou uma missa, ao lado do Arcebispo de Feira de Santana,
Dom Itamar Vian, que foi visitá-lo a pedido do Presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Geraldo Majella Agnelo.
Segundo o
porta-voz do religioso, como a capela é pequena, a missa teve de ser campal devido
à quantidade de pessoas que se aglomeravam no local, a maioria pescadores da região,
além de índios das tribos "truká" e "tumbalalá".
Eles compartilharam o
espaço diante da capela, às margens do rio, com autoridades que foram levar apoio
ao Bispo, entre elas, o Governador da Bahia, Paulo Souto, e os senadores Teotônio
Vilela, César Borges e Heloísa Helena.
Dom Cappio mantém-se firme em sua posição
de só encerrar a greve de fome depois de ter a garantia do governo federal, da suspensão
do projeto de transposição das águas do rio São Francisco.
Em uma entrevista
concedida à "Folha on-line", Dom Luiz Flávio Cappio explica que o projeto de transposição
carece de transparência, de verdade. Se quisessem resolver o problema de água para
os pobres, já teriam resolvido por onde o rio passa. E, a 500 metros das suas margens,
o povo não tem água. Esse projeto inaugura no Brasil a "hidroespeculação". É para
beneficiar os grandes empresários, a criação de camarões e as grandes empresas de
irrigação.
Para o Bispo, é preciso incentivar e investir em ações que ajudem,
de fato, a levar água para os pobres, ou seja, pequenos projetos de cisternas e açudes
que aproveitem a água da chuva, do subsolo _ ações muito mais econômicas e que resolvem
o problema.
Dom Cappio se disse comovido com a resposta da sociedade brasileira,
bonita e muito solidária. "Em seis dias _ afirmou _ conseguimos mais mobilização popular
do que em oito anos de luta." O Bispo ainda garantiu que se o Presidente não mudar
seu pensamento, está disposto a dar sua vida em defesa do São Francisco. (CM)