2005-10-02 12:24:38

Invocar a graça de uma verdadeira renovação: Bento XVI na Missa de abertura do Sínodo sobre a Eucaristia


“A ameaça de juízo [de que falam as leituras da Missa] diz respeito também a nós, à Igreja na Europa, à Europa e ao Ocidente em geral... Também a nós pode ser retirada a luz, e fazemos bem em deixar ressoar na nossa alma, em toda a sua seriedade, esta advertência, gritando ao mesmo tempo ao Senhor: Ajuda-nos e converte-nos! Dá a todos nós a graça de uma verdadeira renovação!” Palavras de Bento XVI na solene celebração eucarística de abertura da XI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre “a Eucaristia, fonte e cume da vida e da missão da Igreja”.
A homilia do Papa consistiu num comentário e aplicação das leituras deste XXVII domingo do Tempo Comum. Antes de mais, Isaías, que exalta o amor do Senhor pela sua vinha. “Com o cântico de amor do profeta Isaías – observou Bento XVI – Deus quer falar ao coração de cada um de nós. “Eu mesmo sou o amor, e tu és a minha imagem na medida em que em ti brilha o esplendor do amor, na medida em que me respondes com amor”. Deus espera-nos. Ele quer ser amado por nós”. Ele vem ao nosso encontro. Encontrará uma resposta? Ou “não será tantas vezes a nossa vida cristã, pelo contrário, mais vinagre do que vinho? Autocomiseração, conflito, indiferença?”
Mas as leituras deste domingo (prosseguiu o Papa) “falam sobretudo da bondade da criação de Deus e da grandeza da eleição com a qual Ele nos procura e nos ama. E falam também, depois, da história sucessiva – do fracasso do homem... No Antigo Testamento, está em primeiro lugar a acusação pela violação da justiça social, pelo desprezo do homem da parte do homem. Mas como pano de fundo transparece o facto de que, com o desprezo da Torah, do direito dado por Deus, é o próprio Deus que é desprezado; quer-se pura e simplesmente gozar do próprio poder. Aspecto sublinhado pela parábola de Jesus: os agricultores a quem foi confiada a vinha “constituem um espelho para todos nós. Nós, homens - aos quais a criação foi, por assim dizer, confiada em gestão – usurpamo-la. Queremos ser nós os padrões em primeira pessoa e sozinhos. Queremos possuir o mundo e a nossa própria vida, de modo ilimitado. Deus estorva-nos. Ou se faz d’Ele uma simples frase devota ou então Ele é mesmo completamente negado, excluído da vida pública... Mas quando o homem se faz único patrão do mundo e proprietário de si mesmo, não pode existir a justiça. Domina apenas o arbítrio do pode e dos interesses”
Neste contexto, observou ainda Bento XVI, sobressai (nas leituras desta Missa) um terceiro aspecto: “O Senhor... anuncia à vinha infiel o juízo, o julgamento. O juízo que Isaías previa realizou-se nas grandes guerras e exílios da parte dos Assírios e dos Babilónios. O juízo anunciado pelo Senhor Jesus refere-se sobretudo à destruição de Jerusalém, no ano 70.” Uma palavra de Deus que pode e deve ser actualizada...
“Mas a ameaça de juízo diz respeito também a nós, à Igreja na Europa, à Europa e ao Ocidente em geral... Também a nós pode ser retirada a luz, e convém que deixemos ressoar, na nossa alma, em toda a sua seriedade, esta advertência, gritando ao mesmo tempo ao Senhor: Ajuda-nos a converter-nos! Dá a todos nós a graça de uma verdadeira renovação! Não permitas que se extinga entre nós a tua luz! Reforça Tu a nossa fé, a nossa esperança e o nosso amor, para que possamos produzir frutos bons!”
O Papa fez ainda questão de sublinhar que a liturgia deste domingo contém também uma promessa e um conforto, não é mera ameaça de juízo. Promessa expressa sobretudo no versículo evangélico do Alleluia: “Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto”. A verdadeira conclusão da história da vinha... não é o fracasso: “Deus não fracassa. Ao fim e ao cabo, Ele vence, vence o amor.” “Da morte do Filho, brota a vida, forma-se um novo edifício, uma nova vinha”. É esse o mistério celebrado na Eucaristia. Como em Caná mudou a água em vinho, Jesus transformou o seu sangue no vinho do verdadeiro amor e transforma assim o vinho no seu sangue”.
No Cenáculo antecipou a sua morte e transformou-a no dom de si mesmo, num acto de amor radical. O seu sangue é dom, é amor, e é portanto o verdadeiro vinho que o Criado esperava. Deste modo, o próprio Cristo tornou-se a videira, e esta videira dá sempre fruto bom: a presença do seu amor por nós, que é indestrutível”.







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