Semana nacional da educação cristã,em Portugal de 2 a 9 de outubro.Uma nota da comissão
episcopal da educação cristã salienta que educar é um acto de amor
1. Em Maio passado, a Comissão Episcopal da Educação Cristã publicou uma Nota Pastoral
sobre o importante lugar que a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica tem
no currículo dos ensinos básico e secundário, chamando a atenção dos alunos e dos
pais/encarregados de educação relativamente ao contributo que a mesma dá para a formação
global dos alunos, e alertando para a responsabilidade dos pais/encarregados de educação
quanto às decisões que devem tomar relativamente à orientação da formação moral dos
seus filhos/educandos.
Ao iniciar mais um ano escolar, com as escolas já em pleno funcionamento e a catequese
da maioria das paróquias a principiar a sua actividade, dirigimo-nos de novo aos jovens
e aos pais/encarregados de educação, aos párocos e aos sacerdotes, em geral, aos demais
agentes de educação, em especial os professores, os educadores e os catequistas, e
a quantos se interessam pelo pensamento e as orientações da Igreja em matéria de educação.
2. A educação é um processo catalizador de amadurecimento humano. É o meio indispensável
ao desabrochar harmonioso das potencialidades que permitem ao ser humano reconhecer-se
como pessoa autónoma e livre, com um projecto de vida orientado para um ideal a atingir.
Através da educação, o ser humano aperfeiçoa-se, eleva-se do nível dos instintos e
dos desejos ao plano da razão, atributo distintivo da pessoa, que dá a cada um a capacidade
de se reconhecer e de se adaptar ao meio circundante, de encontrar sentido para a
vida e de elaborar projectos que o comprometem na construção do futuro e lhe conferem
autenticidade.
3. Uma verdadeira educação implica, sempre, a relação humana entre o educador e o
educando. Sendo o educando o protagonista principal da sua própria educação, “os educadores
são verdadeiros artífices de um futuro de pessoas harmoniosamente desenvolvidas e
com boa relação pessoal”(1) . Uma visão redutora da pessoa humana que valoriza apenas
algumas das suas dimensões, as exigências de preparação para o ingresso a níveis superiores
de ensino e de selectividade nas entradas nas instituições educativas, e a necessidade
crescente de aquisição de conhecimentos e de competências para a inserção no mundo
do trabalho, têm conduzido ao empobrecimento do conceito e da prática da educação.
Sobrevaloriza-se a aquisição de conhecimentos e de competências, esquecendo-se a formação
global indispensável à aprendizagem do “saber ser”. Nestas condições, os educadores
tendem a tornar-se meros transmissores de informação, convertendo a pedagogia em técnicas
de eficácia da comunicação.
4. A visão cristã da pessoa e da educação põe em causa tanto as concepções redutoras
da pessoa como o pragmatismo da educação utilitária. Abre o homem e a mulher à totalidade
das dimensões da pessoa, incluindo os valores espirituais e religiosos. Refere-os
a Cristo, Verbo Encarnado, o único que esclarece verdadeiramente o mistério do Homem
(2). E entende o educador como alguém que acompanha o educando e o ajuda a crescer,
alguém cuja missão essencial é, não só transmitir conhecimentos, mas testemunhar uma
coerência de vida que confira a devida autoridade à palavra transmitida.
5. Só uma relação de amor que envolva todos os intervenientes no processo educativo
pode tornar fecunda a tarefa educativa. Criado à imagem e semelhança de Deus que é
amor, o Homem só no amor atinge a plenitude da realização e se torna semelhante ao
próprio Deus (3). Como diz S. Paulo, mesmo que alguém possua os dons mais excelentes,
se não tiver amor, nada será (cf. 1 Cor 13,3).
Educar é um acto de amor. Só o amor é capaz de gerar humildade diante do saber, autoridade
que se funda no serviço, respeito pela individualidade de cada um, reconhecimento
e autoconfiança, capacidade para dar e receber, apetência para acolher propostas e
seguir valores, energia para vencer obstáculos.
6. Os pais são os educadores por excelência e não devem abdicar dessa missão, delegando-a
em outras instituições. Os filhos são fruto e expressão do amor. A responsabilidade
educativa radica nesse amor inicial e é expressão do seu florescimento.
Assim, neste início do ano escolar:
* advertimos os pais para que colaborem activamente com a escola na tarefa educativa
dos filhos, fazendo-lhes sentir quanto a aprendizagem é importante e o esforço recompensador;
e colaborem com a Igreja, acompanhando a catequese e o crescimento da fé dos filhos,
testemunhando eles próprios a fé, vivida na família e na comunidade cristã;
* aos párocos e demais sacerdotes reconhecemos a sua generosidade e dedicação, e alertemos
para a urgência da renovação da pastoral familiar, do empenho na formação de catequistas
e da atenção ao diálogo e cooperação com as instituições de educação e ensino;
* aos professores, particularmente os de Educação Moral e Religiosa Católica, e aos
educadores, apelamos a que vivam o que anunciam, irradiando pelo testemunho pessoal
a mensagem e os valores que propõem aos seus alunos e educandos;
* aos catequistas exortamos a que se assumam como o primeiro dos meios ao serviço
da catequese em cada Diocese e que, pela sua forma de viver, sejam “eles mesmos uma
catequese viva” (4);
* às crianças e aos jovens testemunhamos que o tempo actual é um tempo de esperança
e apelamos a que acreditem que um mundo novo pode surgir se cada um de nós der o seu
contributo; também, para eles, Jesus Cristo é a aposta segura.
E a todos apontamos Jesus Cristo como o melhor pedagogo e o modelo a seguir:
sendo de condição divina, veio para servir e não para ser servido e atraiu os corações
de muitos pela radicalidade do Seu amor, dando a vida para que a vida ressurja em
abundância (cf. Mt 20,28; Jo 10,10).