"A Igreja na Cidade": Carta Pastoral do Patriarca de Lisboa, sobre o Congresso da
Nova Evangelização, que terá lugar em Novembro.
O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, publicou uma Carta Pastoral intitulada
“A Igreja na Cidade”, na qual propõe à comunidade católica que aposte na construção
de uma cidade com rosto cristão.
“Entre nós, a Igreja está na cidade, ela faz parte da cidade, da sua história, das
suas mais enraizadas tradições, da sua cultura; é inspiradora dos valores que prossegue.
Entre a Igreja e a nossa cidade há um longo caminho percorrido em conjunto e queremos
continuar a percorrê-lo, para que seja mais humana, justa e acolhedora”: assim como
a Carta Pastoral.
Na mensagem, em vista do “Congresso Internacional da Nova Evangelização” (ICNE) que
ocorrerá em Lisboa, de 5 a 13 de Novembro próximo, D. José Policarpo mostra a sua
preocupação pela “galopante laicização da nossa sociedade” e pela “deterioração progressiva
da identidade cristã”, tendo em mente, sobretudo, a quebra na prática dominical.
Começando por explicar que “por Igreja entendemos toda a comunidade dos crentes, que
entraram nela pelo baptismo e se reúnem ao domingo para celebrar o memorial da Páscoa
de Jesus”, o Cardeal-Patriarca lamenta a “relativização progressiva do ‘preceito’
da obrigatoriedade da missa dominical”. Segundo a Carta Pastoral, na Diocese de Lisboa,
aqueles que se reúnem ao domingo são cerca de 12% da população total, quando os contamos
num domingo em concreto, mas muitos cristãos, mesmo indo habitualmente à missa dominical,
não vão todos os domingos, sem deixarem por isso, de se considerar “praticantes”.
A este enfraquecimento da identidade católica, soma-se a caracterização de uma cidade
onde “a tradição católica continua a ser maioritária, mas fragilizada na sua capacidade
de influência pelo grande número de habitantes que não vivem, no concreto da experiência,
a fé religiosa com que ainda se identificam”.
Nesse sentido, o documento formula, como desafio, uma pergunta: “Lisboa ainda é uma
cidade cristã?”. Em jeito de resposta, o Cardeal-Patriarca fala das principais atitudes
que definem a população de Lisboa do ponto de vista da fé religiosa: os chamados católicos
praticantes, os baptizados “não praticantes” - grupo definido como o alvo privilegiado
da “nova evangelização” -, os outros grupos religiosos, os ateus e os agnósticos.
D. José Policarpo assegura, por outro lado, que “na definição da alma de Lisboa ressalta
a sua identidade cristã, que nem o terramoto soterrou, visível nas torres e fachadas
das Igrejas, elementos estruturantes do tecido urbano, na beleza do património artístico
religioso”.
A Carta Pastoral assinala que “este Congresso acentuará a dimensão querigmática da
nossa pastoral evangelizadora, ou seja, ensinar-nos-á a anunciar, de forma simples,
directa e interpelante, as verdades decisivas da fé cristã, as únicas que podem mudar
as vidas e converter os corações”. “Sempre, mas de modo mais claro no nosso tempo,
o anúncio de Jesus Cristo tem de incluir uma afirmação clara de uma maneira de viver,
da ‘vida nova’ em que Ele nos introduziu”, acrescenta.
A mensagem dedica grande espaço à caracterização do ambiente cultural e religioso
de Lisboa, destacando aspectos como a mobilidade humana, as novas formas de pertença
à Igreja ou os dramas sociais dos idosos, pobres, marginalizados e migrantes. Um olhar
crítico é lançado sobre correntes de pensamento que valorizam o “naturalismo na compreensão
da vida”, renunciam ao conceito de “vida eterna” ou defendem uma atitude de “subjectivismo
na busca da verdade”.
D. José Policarpo explica, por outro lado, que “devemos estar atentos e aprender a
escutar as linguagens, aparentemente profanas, de todos os que connosco convivem na
cidade, pois também elas podem exprimir a busca da verdade e da beleza”, dedicando
um dos pontos da Carta à enumeração de “sinais de esperança” na cidade.
Concluindo, o senhor Cardeal-Patriarca assegura que “o Congresso foi longamente preparado
e estão criadas as condições para que aconteça com qualidade”. “Assumindo-se como
uma proposta de diálogo com a cidade, em que a Igreja explicita a esperança que a
anima e o seu modo próprio de estar na cidade, ele é, antes de mais, interpelação
às comunidades cristãs para aprofundarem a sua fé, único ponto de partida válido para
o dinamismo evangelizador”, defende.
A Carta Pastoral desafia as comunidades a “perceber os dinamismos inovadores para
a nossa maneira de ser Igreja e de realizar a missão evangelizadora”. “O Congresso
não é só uma festa, é um momento duma peregrinação, dum caminho que queremos percorrer”,
conclui D. José Policarpo.